quarta-feira, 16 abril 2025

Jovens em África só deixam de ser entrave ao crescimento em 2050 - Investigador

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O fundador do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) defende que a grande quantidade de jovens em África só será uma vantagem por volta de 2050, sendo um entrave ao crescimento económico até lá.

"A grande população jovem de África é muitas vezes encarada como um ativo, mas, até os rácios de dependência mudarem, continuará a ser a maior barreira ao crescimento do continente", escreveu Jakkie Cilliers numa investigação publicada pelo IES, um instituto de pesquisa da África do Sul.

Na base da argumentação deste investigador com vários livros publicados sobre o crescimento económico no continente está a assunção de que o elevado rácio de dependentes, sejam jovens até aos 15 anos, ou pessoas com mais de 64, é um peso que limita a produtividade laboral da população em idade ativa.

"Em 2025, o rácio de 1,3 pessoas dependentes na África subsaariana para cada pessoa em idade laboral ativa significa que o crescimento lento no tamanho da população laboral em relação aos dependentes (a fonte primária de crescimento económico na África subsaariana) traduz-se em taxas de crescimento económico constantes, mas não espetaculares", aponta Jakkie Cilliers.

Assim, com o crescimento da população jovem e a entrada no mercado de trabalho, só em 2050 é que a África subsaariana, onde está a maioria dos países lusófonos, vai entrar numa potencial janela de oportunidade demográfica, quando o rácio de pessoas em idade ativa face a dependentes chegar a 1,7 para 1, "o número mágico em que a contribuição da força de trabalho é tal que começa a proporcionar taxas de crescimento económico mais rápidas".

Para além da demografia, outra das razões que explica as taxas de crescimento económico relativamente baixas em comparação com outras regiões do mundo, como a Ásia, durante os últimos 50 anos, é a falta de aposta na agricultura para lá da agricultura de subsistência.

"Os africanos adoram lembrar o grande potencial agrícola do continente, mas a realidade é que África ainda não teve a sua revolução agrícola; pelo contrário, está a tornar-se cada vez mais insegura do ponto de vista alimentar a cada ano que passa, por causa do subinvestimento na agricultura e pela profundamente enraizada associação entre agricultura, pobreza e sofrimento, que faz com que seja o setor menos atraente entre os jovens africanos", escreve Jakkie Cilliers.

Ao contrário do norte de África, que já está no ponto da transição demográfica, a África subsaariana ainda está numa fase embrionária, nomeadamente na região do Sahel e da África Central, pelo que a aceleração para este ponto a partir do qual a juventude do continente é um motor e não um entrave ao crescimento vai implicar escolhas políticas muito concretas.

"Investir na educação das raparigas, expandir o acesso à saúde reprodutiva, transformar as economias rurais e potenciar setores de força de trabalho intensiva que possam absorver a força laboral dos jovens" será fundamental, aponta o autor, concluindo que, mais cedo ou mais tarde, a direção do "inevitável movimento da força de trabalho" vai contrariar a história, movendo-se de África para o mundo, e não do resto do mundo para África.

A expressão 'dividendo demográfico' é geralmente usada para referenciar o potencial de crescimento económico que surge quando uma população tem uma elevada proporção de jovens em idade ativa, ou seja, entre os 15 e os 60 anos, e uma baixa taxa de dependência, isto é, um baixo número de pessoas dependentes em relação aos trabalhadores.

De acordo com os números da União Africana (UA), África tem a população mais jovem do mundo, com mais de 400 milhões de pessoas com idade entre 15 e 35 anos, e espera-se que a sua população jovem ultrapasse os 830 milhões até 2050, o que compara com cerca de 1,3 mil milhões de pessoas que habitam atualmente no continente.

 

A Semana com Lusa

Francisco Tavares
Juventude africana: o ‘problema’ que só incomoda quem não quer mudar nada
Classificar a juventude africana como “entrave ao crescimento económico” é, para ser simpático, uma visão tacanha e perigosamente míope. Na verdade, esta narrativa ecoa os discursos colonialistas que sempre viram África como um problema a ser “resolvido ” e não como um continente de soluções — e, pior ainda, projecta o futuro do continente com base em métricas demográficas ocidentais e fórmulas simplistas. O que se está a dizer aqui, em última instância, é que o simples facto de existir muita juventude é um obstáculo. Como se os jovens africanos fossem passivos, improdutivos e quase descartáveis até 2050. Ridículo.

O tal rácio de 1,3 dependentes por adulto em idade activa não é, por si só, sinónimo de travão ao crescimento. Países como a Índia, Indonésia e até mesmo a China lidaram durante décadas com rácios elevados, mas fizeram o seu caminho para o crescimento apostando precisamente onde África precisa de apostar: educação de qualidade, saúde básica, infraestruturas e industrialização ligeira.

Não é a juventude que atrasa o crescimento. O que atrasa são as estruturas de governação frágeis, a falta de acesso a financiamento produtivo, a captura do Estado por elites predadoras e, sim, o subinvestimento crónico nas áreas rurais. O autor tenta dizer isso lá para o fim, mas começa o texto com uma afirmação injustificável que desvia completamente a atenção do real problema.

Dizer que África “não teve a sua revolução agrícola” porque os jovens não se interessam por agricultura é uma inversão perversa da realidade. A juventude africana não é burra, simplesmente não quer ficar presa a um sector que continua abandonado pelos próprios governos e financiadores internacionais, com zero inovação, infraestruturas deficitárias e cadeias de valor que funcionam contra o produtor.

A verdade é que África não precisa de carimbos de validade demográficos para crescer. Precisa de justiça económica, investimento sério nas pessoas (principalmente nos jovens), políticas públicas inteligentes e um sistema internacional que deixe de tratar o continente como um apêndice dispensável.

A juventude africana é já hoje o maior activo do continente — só que, para funcionar como motor, tem de ter combustível. E isso chama-se acesso, investimento e dignidade.

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luis abreu
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continue assim sr. ministro demorou sim demorou mas nunca é tarde para é nossa terra de esperança bem haja Jorge Figueired ...

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Ah pois, claro... a Guiné-Bissau não tem patrulheiros com mais de 20 metros, não consegue controlar a pesca ilegal na sua ...

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