quinta-feira, 17 abril 2025

Educação sexual

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Não faz assim muito tempo, e ainda se o usa em alguns lares, o cômodo da casa destinado ao casal ostentava, na parede, ao alto da cabeceira da cama, um crucifixo. Estava lá um Jesus, não por suas melhores ideias, mas para lembrar que o humano é pecador e corre o risco de, havendo eternidade, padecê-la no inferno, que seria um lugar ruim.

*Léo Rosa de Andrade

 

 

Discursos moralistas à parte, não conheço ninguém (que não esteja em, ou necessite de tratamento) que não tenha no sexo uma saudável fonte de prazer. A questão é que se estabeleceu, com sucesso, certa hipocrisia: o que serve para mim, não serve para os meus filhos ou filhas. Essa ideia é traduzida numa frase, também ou mais, hipócrita: “Tudo tem uma idade certa”.

 

Uso o verbo no condicional, porque não falta quem defenda que o inferno é um lugar bem mais animado do que o céu. Nisso, não decido que seja bom nem mau, nem o céu, nem o inferno; acompanho os religiosos, que não querem ir nem para um nem para outro, querem mesmo é ficar bem vivos, neste “antro de provações”, que é o lugar em que estamos.

Lembro do vencido, ou já raro costume, porque desejo escrever sobre orientação sexual, e, como é sabido, ideologia cristã e sexualidade nunca se deram muito bem. Sexo, na Bíblia, é para procriação. Ponto. Nos tempos do crucifixo, no dia em que o marido deveria comparecer (era o termo), virava-se o Jesus pendente de cara para a parede. Ao fim do ato, se o recompunha.

Discutia-se se seria adequado deixar o Filho do Homem desse jeito, em giro forçado. A conclusão teria sido a de que assim, pelo menos, não veria a “pouca vergonha” a seus pés (luxúria, o terceiro pecado capital). O assunto sexo, teórico e prático, em família, era mais ou menos isso: fornicação em aflição moral.

E a educação sexual? As moças, às vésperas das núpcias, recebiam – conversa constrangida – uma orientação geral da mãe: conselhos de obediência e o essencial sobre a “vontade dos homens”. Quanto aos moços, num dia qualquer, eram, pelo pai, se houvesse recurso, levados à zona de meretrício e, lá, à iniciação por uma profissional, a qual já adquirira a confiança do progenitor.

Para a angústia do pensamento conservador, esse assunto, hoje, atinge mais precocemente a garotada. E então, dado que há perguntas, alguém deve dar respostas. A internet responde qualquer dúvida, mas, parece, o\as adulto\as fazem de conta que é melhor com certo protocolo: alguns colégios se prontificaram, uma "tia" encararia a matéria.

Muitos pais e mães se horrorizaram: seus rebentos jamais falaram “nisso”, e falar em sexo na escola só adiantaria uma questão espinhosa. Para que, pois, despertar interesse, adiantar “as coisas”? De todo modo, “as coisas” se foram adiantando, e algumas escolas abordam a questão. Pessoalmente, defendo a abordagem, porém, desconfio das maneiras utilizadas.

Discursos moralistas à parte, não conheço ninguém (que não esteja em, ou necessite de tratamento) que não tenha no sexo uma saudável fonte de prazer. A questão é que se estabeleceu, com sucesso, certa hipocrisia: o que serve para mim, não serve para os meus filhos ou filhas. Essa ideia é traduzida numa frase, também ou mais, hipócrita: “Tudo tem uma idade certa”.

Claro, o organismo humano se desenvolve e tem etapas distintas e com peculiaridades. O problema é querer conter as demandas do indivíduo já sexualmente maduro dentro dos preconceitos (ainda) vigentes, herdados de tempos medievais. E, aí, as aulas de orientação sexual tomam uma tremenda importância, que, suspeito, não lhe é atribuída.

Não suponho que haja um momento específico para abordar o tema. Penso que, sem complicá-lo, deve-se responder a perguntas que a garotada possa fazer. Nunca é cedo nem tarde; se houve curiosidade, é porque o assunto chegou. A questão raramente comportaria especialistas, nem pede cientificismos.

Voltando, contudo, à escola. Que "tia" está habilitada para tanto? Será que a indicada às aulas já aprendeu sobre o tópico mesmo para a própria satisfação? Se alguém fosse tratar da questão com criança minha, gostaria que fosse pessoa satisfeita sexualmente, soubesse explorar os prazeres do corpo, tivesse uma cabeça liberada.

Sim, claro e sempre, que também alertasse sobre gravidez indesejada, abusos, DSTs e outros riscos. O que sobremaneira me preocupa, todavia, é a possibilidade de “a coisa” ser encarada como conselho, como precipitação, como pode-não-pode, como discurso sobre o "normal". Receio lições de sexo como dever, disciplina, higienismo e interdição.

Seria um horror que se estabelecesse uma rede moralizante e normatizadora sobre a meninada. Não haveria nem o sexo com pecado do Jesus virado, nem o sexo satisfatório de quem aprendeu como fazê-lo. Mais adequado, então, que se virem por própria conta. Bem melhor assim do que entregues a “tias” em proselitismo de purificaçã.

...

* Doutor em Direito pela UFSC.Psicanalista e Jornalista.

JV
O Delírio Verborrágico de um Iluminado Sem Foco
Léo Rosa de Andrade quis falar de educação sexual, mas perdeu-se num labirinto de palavras vazias, recheadas de digressões, metáforas forçadas e moralismos pseudo-rebeldes. O texto parece uma tentativa falhada de parecer profundo, mas não passa de um amontoado de lugares-comuns, pincelado com umas referências históricas e bíblicas ao calhas, sem qualquer análise estruturada.

Desde a introdução, já se percebe que o autor está mais preocupado em adornar a prosa do que em dizer algo de útil. Arranca com uma memória dos tempos em que os crucifixos vigiavam o leito conjugal, e depois desvia-se para considerações sobre o inferno, os medos religiosos e o apego à vida. A ligação com educação sexual? Nenhuma. Apenas um devaneio para encher espaço.

Segue-se então uma sucessão de afirmações banais:

"Sexo é prazeroso" – Não diga! Que insight revolucionário!
"Os pais são hipócritas ao negar aos filhos o que para si foi natural" – Mais um clichê batido e raso.
"A escola deve ensinar, mas será que os professores estão preparados?" – Sim, claro, sempre bom lançar uma dúvida genérica sem aprofundamento.
A certa altura, quando finalmente toca no tema principal, a argumentação entra num estado de coma intelectual. Em vez de apresentar soluções ou discutir modelos eficazes de educação sexual, o autor lança perguntas retóricas estéreis, repete ideias já gastas e conclui que talvez seja melhor que a juventude "se vire sozinha" – uma contradição gritante depois de tanto texto para supostamente defender a importância da orientação.

E o momento mais brilhante da confusão mental? O critério para selecionar os professores:

"Se alguém fosse tratar da questão com criança minha, gostaria que fosse pessoa satisfeita sexualmente, soubesse explorar os prazeres do corpo, tivesse uma cabeça liberada."

Ou seja, o professor de educação sexual deveria ser avaliado pelo seu desempenho na cama? Excelente método pedagógico! Quem avaliará essa competência? Um júri de libertinos eruditos?

No final, sobra a impressão de que o autor quis soar transgressor, mas ficou preso na própria inércia mental. Falou, falou, deu voltas, meteu religião ao barulho, fez considerações vagas sobre a hipocrisia da sociedade, desconfiou dos professores, e depois desistiu de concluir alguma coisa de útil.

Talvez o problema não seja a educação sexual, mas sim a educação básica do próprio autor, que não aprendeu que um texto deve ter um fio condutor, argumentos sólidos e um propósito claro.

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