O Instituto Pedro Pires para a Liderança (IPPL) disponibilizou na Internet o arquivo do antigo Presidente cabo-verdiano, mas o trabalho ainda não terminou, disse Pedro Pires à Lusa, a propósito do lançamento do portal.
Para Pedro Pires, “mais vale tarde do que nunca” e “pode ser que esta iniciativa se constitua como uma tradição: que os próximos Presidentes comecem a trabalhar a documentação toda e a serem capazes de fazer duas coisas, arquivar e produzir”, referiu, numa alusão à abertura para investigadores.
O país vai festejar meio-século, a 05 de julho, mas a inspiração para colocar a documentação ‘online’ nem foram os 50 anos da Independência, apesar de a data ser “uma boa oportunidade para apresentar” documentos históricos sobre o país, referiu.
O trabalho começou há três anos, graças a fundos próprios e parcerias, permitindo que hoje, a partir do 'site' do IPPL, seja possível consultar de tudo, desde anotações até documentos mais elaborados “sobre os desafios de desenvolvimento do país”.
“Tenho comigo vários outros documentos, vamos ver se conseguimos realizar a segunda parte”, disse à Lusa o antigo comandante da luta de libertação, primeiro-ministro (1975-1991) e chefe de Estado do arquipélago (2001-2011), Pedro Pires, poucos meses antes de completar 91 anos (a 29 de abril).
“Geralmente fazem-se críticas ou avaliações a partir de suposições, mas a vantagem dos documentos é que, aí, já são factos” ou seja, é possível “sair da cultura do ‘mais ou menos’ para uma cultura de rigor” na informação, apontou.
“Só o fizemos agora porque foi preciso pensar um pouco (...), dispor de alguns meios financeiros” e encontrar parceiros.
Para Pedro Pires, “mais vale tarde do que nunca” e “pode ser que esta iniciativa se constitua como uma tradição: que os próximos Presidentes comecem a trabalhar a documentação toda e a serem capazes de fazer duas coisas, arquivar e produzir”, referiu, numa alusão à abertura para investigadores.
Quanto esteve na chefia de Estado, Pedro Pires disse ter digitalizado “o arquivo de toda a correspondência do Presidente com outras entidades”, além de tratar “o arquivo do [ex-]Presidente Mascarenhas [Monteiro] em matéria de correspondência e outras atividades afins”.
“O arquivo do [ex-]Presidente Aristides Pereira não pudemos trabalhar, primeiramente, por falta de recursos”, disse.
“Verdade seja dita, o nosso arquivo histórico tem muita documentação, começámos a trabalhar isso há muito tempo a nível do arquivo nacional, mas a nível dos arquivos individuais, o trabalho não foi feito”, acrescentou.
Para o antigo estadista, “deve haver uma preocupação dos governos em financiar” o tratamento da história “ou de colocar à disposição da academia os recursos mínimos para os seus membros fazerem investigação e não deixar que isso fique dependente” da vontade individual ou de entidades.
“Deixar que as coisas aconteçam por mera vontade ou iniciativa de um cidadão, acho que é pouco, é insuficiente. Deve haver uma preocupação institucional” porque se trata da memória sobre “questões que dizem respeito a todos”.
“Não é menos que o tratamento nos hospitais. Talvez seja mais do que isso. Não é menos que a educação”, área em que é necessário “falar de conteúdo” que “do céu não vem certamente”, acrescentou.
Um dos últimos documentos a integrar o repositório e que foi digitalizado no final de fevereiro é uma carta manuscrita de Aristides Pereira para Pedro Pires, sem data, para o avisar que “a visita dos amigos está atrasada, devido às greves das companhias aéreas em França”.
“Estamos preparando os teus pedidos, inclusive os botes e o camião, apesar de todas as dificuldades”, acrescentou, num contexto que engloba as necessidades da luta pela independência e os primeiros anos do país.
O arquivo presidencial agora aberto ao público começou a ser preparado por entre volumes de documentos acumulados por Pedro Pires.
“Por exemplo, tínhamos elaborado as atas de todas as reuniões do Conselho de Ministros” que mostram algo mais do que as decisões resultantes, publicadas em Boletim Oficial (BO): “o BO é a síntese das sínteses” e as atas podem clarificar posicionamentos e mostrar como é que as decisões foram construídas, exemplificou.
A plataforma digital resulta de um trabalho realizado pelo IPP em parceria com o Arquivo Nacional de Cabo Verde e outras instituições.
As tarefas incluem a higienização, organização, descrição, classificação, acondicionamento e digitalização de todo o acervo documental.
A Seman com Lusa
Pedro Pires e o Arquivo Seletivo: Transparência ou Encobrimento?
Voilá o perfeito exemplo de revisionismo histórico seletivo e de cinismo político que se instalou na narrativa oficial de Cabo Verde.! Pedro Pires, um dos arquitetos do Partido Único, responsável por anos de repressão, censura e perseguições políticas, agora quer posar como guardião da transparência histórica? Mais vale rir para não chorar!O ex-presidente, que governou com mão de ferro no regime de partido único, agora vem com esta retórica de “mais vale tarde do que nunca”. Pois é, senhor Pires, tarde mesmo, porque durante décadas a documentação ficou trancada a sete chaves, enquanto se tentava apagar os capítulos sombrios da história recente de Cabo Verde. Quantos arquivos de vítimas da repressão política do PAIGC e do PAICV estão ainda escondidos? Onde estão os relatórios sobre as perseguições, as prisões arbitrárias e os desaparecidos?
A abertura de documentos históricos deveria ser uma medida para esclarecer, e não para encobrir. O que Pedro Pires faz é selecionar o que lhe convém, enquanto os arquivos que realmente interessam à justiça e à reconciliação nacional continuam no obscurantismo.
Que tal abrir os ficheiros sobre os perseguidos políticos?
E os relatórios sobre o massacre dos dissidentes?
E os documentos sobre as redes de espionagem e censura durante o regime de partido único?
É também uma ironia que Pedro Pires agora exija que o Estado financie a recuperação histórica, quando durante os anos de partido único se destruiu ou escondeu informação vital. Quem garante que esta abertura seletiva dos arquivos não seja apenas uma jogada para branquear a história, glorificar as figuras do PAIGC e enterrar de vez qualquer memória das vítimas do regime?
Para completar o teatro, Pedro Pires nunca teve a humildade de reconhecer os erros do regime que liderou, muito menos de pedir desculpa à sociedade cabo-verdiana.
Até hoje, ninguém do PAIGC ou do PAICV pediu perdão às famílias dos perseguidos.
Ninguém assumiu responsabilidad e pelos abusos e pela censura imposta durante anos.
E ainda há quem queira romantizar essa época como se fosse um período de ouro para Cabo Verde!
O “arquivo digital” que Pedro Pires agora apresenta ao público não é um gesto de transparência, mas sim de controle narrativo. O objetivo não é contar a história como ela foi, mas sim garantir que o PAIGC e
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