A ilha do Fogo vai ser palco, pela primeira vez, do concurso Miss 40 Mais Unique com o objectivo de promover a valorização de mulheres, reforçar a autoestima, a confiança e o empoderamento feminino.
A oitava edição do projecto, organizado por NevesEvents de Marlene Neves Furtado, está programada para o dia 23 de Abril, no espaço The View, após ajustes na programação devido a realização de outras actividades, com um total de nove candidatas.
Com sete edições já realizadas em outras ilhas, como São Vicente, Sal e Santiago, o concurso chega ao Fogo com o objectivo de celebrar mulheres acima dos 40 anos, muitas delas mães e guerreiras que enfrentaram diversas fases da vida, segundo a organizadora.
"Quero que elas se sintam aplaudidas, respeitadas e aceites pela sociedade", asseverou Marlene Neves Furtado, que destacou que o projecto procura “inspirar e motivar mulheres” que, muitas vezes, enfrentam depressão e ansiedade após os 40 anos.
Apesar do entusiasmo, a organização, confessou Marlene Neves Furtado, enfrentou dificuldades, e das 12 candidatas iniciais, três desistiram, uma por luto familiar, e outras duas devido à falta de apoio de seus círculos próximos e familiares.
"A sociedade do Fogo ainda não está totalmente aberta a essa iniciativa, mas as nove participantes restantes estão felizes e determinadas a brilhar", sublinhou a organizadora, acrescentando que os preparativos estão em andamento, e as fotos das mesmas já foram divulgadas para votação no Facebook da página NevesEvents, onde têm recebido “grande aceitação” já que não se esperava “tanta receptividade".
Inicialmente o evento estava marcado para a praça do Presídio, parte baixa da cidade de São Filipe, mas foi transferido para The View para evitar coincidência com outros eventos programados para os dias 24 e 25 de Abril.
A organização apela a todos a marcarem presença para apoiarem essas “mulheres guerreiras” que precisam ser valorizadas e mostrar que, mesmo após os 40, elas podem brilhar com confiança e felicidade.
A organizadora revelou que conta com a parceria da câmara de São Filipe na atribuição de prémio e transportes das candidatas, mas espera poder contar com patrocínios e parceria das empresas e das outras câmaras da ilha, porque, explicou, trata-se de um "projecto inovador para a ilha” e merece ser abraçado por todos.
O concurso Miss 40 Mais Unique Fogo marca o início das actividades culturais da edição 2025 das festividades do dia do município e da bandeira de São Filipe.
A Semana com Inforpress
Passarelas Não São Palanques: Quando o Empoderamento Vira Encenação
Este tipo de evento — mascarado de empoderamento feminino — é, na verdade, uma reprodução pálida e alienada dos velhos concursos ocidentais de “beleza”, transplantados para contextos onde o significado de mulher de valor tem um peso profundamente diferente. Miss 40 Mais Unique? Que conceito oco. Em vez de celebrarmos a força, a resiliência e a inteligência da mulher africana com a dignidade que ela merece — reconhecendo mães, líderes comunitárias, empreendedoras, lavradoras, professoras — preferimos colocar senhoras com mais de 40 anos a desfilar em passarelas como se estivessem num leilão estético para consumo popular.A mulher africana não é um corpo a ser votado no Facebook. A mulher africana é uma entidade social, política e cultural — muitas vezes pilar invisível de famílias inteiras, de bairros, de instituições. É ela quem sustenta a sociedade quando tudo falha, quem educa, quem resiste, quem cura e quem enterra os mortos quando os homens fogem à responsabilidad e.
Querer “combater o preconceito” com uma sessão pública de objectificação tardia é, no mínimo, irónico. É como apagar incêndios com gasolina perfumada. E, para agravar, fazem-no sob a capa de “autoestim a e confiança”, quando o verdadeiro reforço de autoestima viria do reconhecimento real do seu papel social — com prémios, tributos, diplomas, cargos e homenagens públicas baseadas no mérito e não em curvas.
É preciso uma ruptura: deixemos de promover passarelas como forma de validar a existência feminina. Isso não é empoderamento. É apenas uma reciclagem do olhar colonial, temperado com hashtags de ocasião. Se queremos, de facto, valorizar mulheres acima dos 40 anos, organizemos uma Cerimónia de Honra às Guardiãs da Comunidade — não um desfile que confunde “celebração” com encenação.
Porque se é para chamar a mulher africana de “única”, que seja pelas suas acções, e não pelos seus saltos altos e sorriso treinado.
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