Há mais de 30 anos alvo duma ’fatwa’ pela autoria em 1988 dos ’Versículos Satânicos’, que denuncia os fundamentalistas do Islão, o britanico-indiano Salman Rushdie de 75 anos foi esta sexta-feira atacado durante uma palestra no Estado de New York. Esta manhã anuncia-se que está na UCI ligado a uma máquina de suporte de vida, com prognóstico de que sobreviverá embora cego e com o fígado a necessitar de transplante.
Segundo o New York Times, o escritor estava no anfiteatro da Chautauqua Institution, a noroeste de Nova Iorque, a dar uma palestra quando saltou para o estrado um indivíduo munido de arma branca, faca ou navalha, que lhe desferiu vários golpes.
Dois médicos entre a audiência prestaram os primeiros-socorros a Salman Rushdie (que na foto está a ser socorrido por trás do biombo).
Foi a audiência que deteve o agressor e o entregou às autoridades. A polícia estadual horas depois informou que o atacante se chama Hadi Matar, de 24 anos e reside em Fairview, New Jersey.
"A polícia estadual está a investigar um ataque ao autor Salman Rushdie" durante um evento na Instituição Chautauqua em Chautauqua, NY. "Em 12 de agosto de 2022, por volta das 11h, um suspeito do sexo masculino correu para o palco e atacou Rushdie e um entrevistador", lê-se no comunicado. A foto ao alto, à esqª mostra a detenção do suspeito.
Entre o público presente, David Graves, de 78 anos, relatou ao diário nova-iorquino o que viu do seu lugar, na parte do meio do anfiteatro: "Rushdie ainda estava sentado quando o agressor chegou ao palco e lançou-se contra ele".
Condenado à morte
Em 1989 Salman Rushdie, de 42 anos, nascido na Índia no seio de uma comunidade muçulmana, passou a viver escondido ao ser condenado à morte por decisão do Estado Iraniano.
A "fatwa/fatuá" ao autor dos "blasfemos" Versículos Satânicos — livro cujo lançamento em agosto de 1988 suscitou protestos violentos "em todo o mundo onde há muçulmanos" — implica na prática que qualquer muçulmano será, mais que perdoado, glorificado por ter assasinado Salman Rushdie.
Em 1989, a ordem religiosa para matar Rushdie foi dada pelo líder supremo aiatolá/Ayatollah Ali Khomeini, que depôs o Xá da Pérsia e instaurou em 1979 a República Islâmica do Irão.
O autor esteve durante mais de dez anos protegido pelo Estado Britânico e decerto que foi inesperado o ataque neste 34º aniversário do lançamento dos Versículos Satânicos’ — livro tido como uma sátira do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos.
Irão: imprensa dá parabéns ao agressor
Segundo o Le Figaro, os principais jornais próximos do poder iraniano manifestaram o seu apoio ao autor da tentativa de homicídio contra Rushdie.
O diário Kayhan, classificado como ultraconservador abre este sábado com: "Felicitamos este homem corajoso e consciente do seu dever que atacou o blasfemo apóstata e malévolo Salman Rushdie".
"Beijemos a mão deste que rasgou com uma navalha o pescoço do inimigo de Deus", escreve o diretor do jornal, que foi designado pelo líder supremo, aiatolá Ali Khamenei.
Na mesma linha, Mohammad Marandi, o conselheiro da equipa de negociação sobre a questão nuclear, tuìtou: "Não derramarei lágrimas por um escritor que destila ódio infinito e desprezo contra muçulmanos e islão".
"Rushdie é um peão do Império [Britânico] que se coloca como um romancista pós-colonial", remata Marandi no Twitter.
Outro Rachid, outra "fatwa/fatuá"
Em 2017, o imã francês Rachid El-Jay foi alvo de um atentado por um crente em cumprimento da "fatwa/fatuá" lançada pelo Estado Islâmico contra o líder religioso que na sua mesquita de Brest, a norte de Paris, pregava a favor do progressismo, com apelos à integração nos valores da República Francesa.
Fontes: NYTimes/BBC/... França: Imã controverso alvejado 4 vezes na mesquita após ’selfie’ com atirador que logo se suicida, 29.jun.019.
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