terça-feira, 10 dezembro 2024

Cabo Verde Além de Pangeia

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Existe sim um segredo escondido nas profundezas da história geológica de Cabo Verde, destacando uma verdade extraordinária: geologicamente, somos uma entidade distinta, completamente separada do continente africano! Esta descoberta não só redefine nosso entendimento sobre nossa própria terra, mas também lança luz sobre as profundas e ricas ligações históricas e culturais que compartilhamos com Portugal

 Por Djuzé D'erriba*

 

«A noção de uma identidade africana para Cabo Verde ganhou força com a luta pela independência, liderada por figuras como Amílcar Cabral, Pedro Pires, Aristides Pereira e tantos outros. A busca por uma identidade nacional no período pós-colonial levou a uma reavaliação das raízes culturais e históricas de Cabo Verde, incluindo a sua relação com a África».

 

 

Além de Pangeia

 

A história de Cabo Verde começa muito antes de sua descoberta e colonização por Portugal. E’ extremamente importante voltarmos no tempo até o supercontinente Pangeia, que existiu durante as eras Paleozoica e Mesozoica, aproximadamente entre 300 e 175 milhões de anos atrás. Pangeia congregava quase todas as terras emersas do planeta, incluindo o que hoje conhecemos como África e América do Sul.

Com o passar do tempo geológico, Pangeia se fragmentou, dando origem aos continentes modernos e ao vasto Oceano Atlântico. No entanto, a história geológica de Cabo Verde é distinta. Nosso arquipélago, formado por atividade vulcânica sobre um ponto quente no Oceano Atlântico, é muito mais jovem do que os eventos que dividiram Pangeia. Estas ilhas emergiram do oceano há cerca de 20 milhões de anos, muito depois da separação dos continentes africanos e sul-americanos. Portanto, geologicamente, o nosso professor Semedo esta’ correto. Cabo Verde não é África'.

 

Cabo Verde e Portugal: Uma Ligação Histórica e Cultural

 

Descoberto no século XV por navegadores portugueses, Cabo Verde rapidamente se tornou um ponto estratégico no Atlântico. Durante os 500 anos de colonização portuguesa, as influências europeias moldaram profundamente a infraestrutura, a língua, a religião e a cultura do arquipélago. As estradas, pontes, escolas e muitas das infraestruturas nacionais foram desenvolvidas durante esse período, marcando permanentemente a paisagem física e cultural de Cabo Verde.

Enquanto a presença portuguesa foi indelével, também é crucial reconhecer o papel do comércio triangular de escravos. Este triste capítulo da história trouxe influências africanas, porém, em uma escala que alguns podem considerar menor comparada à herança europeia.

 

Africanidade em Cabo Verde: Uma Perspetiva Pós-Colonial

A noção de uma identidade africana para Cabo Verde ganhou força com a luta pela independência, liderada por figuras como Amílcar Cabral, Pedro Pires, Aristides Pereira e tantos outros. A busca por uma identidade nacional no período pós-colonial levou a uma reavaliação das raízes culturais e históricas de Cabo Verde, incluindo a sua relação com a África.

É importante entender que a identidade de uma nação é muitas vezes um mosaico de influências históricas, culturais e políticas. Enquanto Cabo Verde tem fortes laços históricos e culturais com Portugal, também é parte do mosaico africano, seja por proximidade geográfica, uma questão “gravitacional” entre aspas, laços políticos pós-coloniais ou influências culturais.

Em resumo, Cabo Verde é uma nação com uma rica tapeçaria de influências geológicas, históricas e culturais. Geologicamente distinto da África, nossa história é intrinsecamente ligada a Portugal e à Europa. No entanto, não podemos ignorar as influências africanas, por menores que sejam, em nossa identidade cultural. Este mosaico torna Cabo Verde um lugar único no mundo, um arquipélago de diversidade e riqueza cultural, mas definitivamente, o professor Brito Semedo esta’ certo, Cabo Verde não e’Africa.

.February, USA

23 de fevereiro de 2024

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* Poeta e escritor

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