sábado, 07 setembro 2024

Jovens guineenses retomam Amílcar Cabral nas mais variadas expressões artísticas 

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Vários movimentos sociais juvenis guineenses retomaram Amílcar Cabral em diferentes expressões artísticas que reinventam e reclamam o ideal do histórico líder da independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde.

Cabral está presente no quotidiano de que quem anda por Bissau nos murais com o carismático rosto do líder, nos súmbias (gorros) usados por homens mais velhos e mais novos, é revisitado no teatro e no cinema e cantado por rappers que chegam a incorporar nas músicas falas proferidas no tempo da luta de libertação.

Cotche T é um dos jovens músicos que tem presente o histórico guerrilheiro nas rimas que cria. Hesita quando lhe perguntam se faz música de intervenção, mas não tem dúvidas de que se identifica com as ideias de Amílcar Cabral e, por isso, decidiu cantá-lo.

“Eu digo o que eu penso, o que eu sinto e o que eu digo é o que a maioria vê, é o nosso dia-a-dia. Eu acho que ele está em cada um de nós, que as ideias dele estão em cada guineense porque qualquer guineense que queira realmente bem para a Guiné-Bissau não pode fugir de Cabral”, considerou.

O álbum que publicou tem três músicas neste registo, uma delas intitulada Guiné, mas há mais, como as que cantou num concerto no Centro Cultural Francês de Bissau, onde falou com a Lusa.

Filho de mãe e pai militares, nunca lhe falaram de Cabral na escola, num sistema de ensino onde desde os anos de 1980 não se estuda nem o líder histórico, nem a história da Guiné-Bissau.

Ia ouvindo, na sociedade, as várias versões sobre Cabral até que foi em busca de saber mais e concluiu que “o que resta hoje são as ideias dele e que se forem implementadas de certeza absoluta”, que os guineenses conseguem sair da situação em que permanecem longe dos ideais do tempo da libertação.

“Há um problema que reside em nós. Temos que fazer algo, não podemos esperar a ajuda de ninguém. Nós não podemos esperar que outras pessoas venham de outro país, de outro planeta para nos ajudar a resolver os nossos problemas, temos que ser honestos connosco mesmos e tratar os problemas de raiz”, argumentou.

Cotche lembra que “a força motriz de qualquer país é a juventude” e na Guiné-Bissau acima de 75% da população é jovem.

“Então temos tudo”, enfatizou.

Pensar pela própria cabeça, é o que defende numa sociedade onde “tudo tem que ter uma conotação partidária” e onde, como disse, “tentam puxar certos jovens de uma forma incorreta, dar dinheiro, porque há fome e quando há fome é difícil segurar”.

Reconhece que ele próprio não sabe como reagiria se estivesse na situação da maior parte da população, sem dinheiro e sem perspetivas de um futuro estável.

Enquanto puder, promete que vai continuar a lutar por mudar a situação e para que se cumpram os ideais de Cabral de escola, saúde, condições de vida.

“É uma forma de mantê-los vivos, recuperar as memórias e dizer temos heróis, também. Não estão cá fisicamente, mas continuam vivos, eles tinham valores, se continuarmos a defender esses mesmos valores é uma forma de mantê-los vivos e podemos atingir um nível superior e ter uma sociedade melhor”, vincou.

Cotche é de uma geração que cresceu com o esvaziamento da principal figura e da história do país do sistema educativo formal, mas que, mesmo “com essa rutura” descobriram e retomaram Cabral, como disse à Lusa o sociólogo e investigador Miguel de Barros.

Na academia têm mapeado a presença de Cabral no discurso dos jovens e conseguiram “encontrar uma manifestação muito forte na música de intervenção urbana, a chamada música RAP, tanto na Guiné-Bissau e Cabo Verde, como nas diásporas”.

“Nos últimos cinco anos, há um outro fenómeno interessante que é a arte urbana que aparece em múltiplos contextos, como também a criação artística, levando o pensamento escrito e a filosofia de Cabral para as artes performativas, em particular para o teatro, mas também para as artes visuais, como por exemplo o cinema”, apontou.

A leitura que faz é que “na ausência de um sistema público, formal, orientado para aquilo que seria a perenização da memória de Amilcar Cabral” surge esta “forma de reinvenção de como é que a sociedade civil, nas suas várias formas de manifestação, conseguiu incorporar o discurso de Cabral nas suas construções, enquanto movimentos sociais”.

E também, como disse, recriar e atualizar esse pensamento com os desafios atuais na construção da democracia, no papel do Estado, na construção de uma sociedade mais unificada, daquilo que é a africanização das organizações, os movimentos, a luta pela justiça social, o desenvolvimento económico, a luta contra as formas de opressão.

“Os jovens têm mobilizado Cabral de várias formas, enquanto ícone nas T-shirts, o súmbia (gorro) de Cabral está a popularizar-se e é um elemento referencial na incorporação desse espírito combativo contra todas as formas de opressão”, acrescentou.

O sociólogo afiança que os jovens querem outro tipo de democracia “baseada no pan-africanismo, na luta contra todas as formas de neocolonialismo, querem construir movimentos que têm um compromisso forte com formas de produção endógena (local) a todos os níveis, mas acima de tudo querem trabalhar para a superação de um Estado que é muito violento em termos da sua capacidade repressiva das formas muito variadas de expressão da liberdade”.

Cabral “é um elemento referencial” nesta forma de estar dos movimentos juvenis o que, para Miguel de Barros, mostra “a universalidade e atualidade do discurso” do líder histórico.

A Semana com Lusa 

D. G. Wolf
A Guiné-Bissau é uma espinha atravessada na garganta dos cabo-verdianos.
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Colunistas

Opiniões e Feedback

D. G. WOLF
4 days 5 hours

A Guiné-Bissau é uma espinha atravessada na garganta dos cabo-verdianos.

JP
8 days 7 hours

hehehe SATANÁS ta inspeciona DEMONIOS hehehe Só trossa propi

António
10 days 1 hour

Abro radio e tv oiço aplicacao de milhões e milhoes escudos , de um momento para outro. Cifrões serios e não serios

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