Cerca de 100 trabalhadoras da fábrica Atunlo, em São Vicente, exigiram hoje o pagamento dos salários do mês de Janeiro após a direcção da fábrica anunciar indisponibilidade financeira de pagar os ordenados na sua totalidade.
À Inforpress, o representante do Sindicato de Indústria Geral, Alimentação, Construção Civil e Serviços (Siacsa), em São Vicente, Heidy Andrade, explicou que as trabalhadoras receberam, na quarta-feira, 31 de Janeiro, uma proposta da direcção da empresa de pagamento de apenas 50 por cento (%) do salário de Janeiro e da outra parte até o dia 09 de Fevereiro, mas que as mesmas querem a totalidade para poderem suprir as despesas mensais.
“Eles tinham que pagar no dia 31, mas, ontem, apresentaram uma proposta às trabalhadoras de que pagariam 50 % na sexta-feira, 02, e podem pagar a outra parte o mais tardar até dia 09. A Inspeção-geral do Trabalho já tem conhecimento, porque estivemos lá, agora estão a aguardar para o término do prazo e se não liquidarem o salário a inspeção vai actuar”, afirmou.
Segundo Heidy Andrade “há muito” que o Siacsa denunciou a situação por que passa a Atunlo.
“Os responsáveis na Espanha não transferiram o montante para responder a este compromisso devido à situação financeira. Todos souberam, através dos órgãos de comunicação social, que na Espanha duas empresas do grupo encerraram as portas e esta, em Cabo Verde, está na mesma situação porque quando diz que não há dinheiro para pagar os funcionários é porque estamos numa situação de falência”, considerou.
Conforme o sindicalista, “o mais grave” é que no dia 23 de Fevereiro as trabalhadoras terão os seus contratos suspensos e ficarão em casa por um período de 120 dias a receber metade do salário, porque a empresa alega indisponibilidade de matéria-prima.
“Estamos em crer que vão para casa antes porque a matéria-prima que têm provavelmente dá para trabalhar até o dia 10”, acrescentou a mesma fonte.
Segundo a operária Jéssica Lima, que trabalha há sete anos na Atunlo, as trabalhadoras entendem a situação da empresa, mas esperar até o dia 09 para receber a outra metade do salário é um prazo longo tendo em conta que têm contas a pagar.
“Está um pouco complicado porque fomos avisadas somente ontem dia 31 de Janeiro. Achamos que o prazo é longo porque temos as nossas responsabilidades. Entendemos que a situação está um pouco crítica para a empresa, mas deveriam nos avisar com antecedência”, reagiu, lembrando que para ir trabalhar tem que levar a respectiva refeição, filhos em casa para alimentar e contas para pagar.
Sobre a paralisação no mês de Fevereiro, a mesma fonte explicou que a empresa informou que se trata de um prazo para resolver a sua situação financeira mas teme que esta seja um “caminho para o desemprego”.
“Vamos entrar em lay-off [suspensão dos contratos por iniciativa da empresa] por 120 dias. Mas, qual é a garantia que nos vão pagar em casa e quem vai pagar os anos de trabalho que tenho na empresa”, questionou.
Por sua vez, a trabalhadora Margarida Costa, que também trabalha na empresa há sete anos, exigiu a totalidade do salário e criticou a Atunlo por “não negociar com os trabalhadores e impor medidas de cima para baixo”.
“Eles impuseram uma lei de que uma falta injustificada implica um desconto de 75 % do nosso vencimento. Reunimos com a empresa, com a Direcção-geral do Trabalho e com os sindicatos para tentar reverter a situação, mas esta medida não foi retirada. Hoje, paralisamos para discutir o nosso direito e corremos o risco de perder os 75 %”, criticou a operária, culpando o Governo por esta situação.
“Tem de ser tudo como a empresa quer. É como uma chantagem e abuso do poder. Mas culpo o Governo porque chamam estrangeiros para abrir empresas aqui, mas não procuram saber como é que os trabalhadores são tratados”, arrematou.
A Semana com Inforpress
01 Fevereiro 2024
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