O escritor José Luiz Tavares defendeu esta sexta-feira que a língua cabo-verdiana devia ter sido oficializada logo na independência do país, em declarações à Lusa a propósito do lançamento de uma compilação de textos, no Dia da Língua Materna.
“Queremos o português vivíssimo e atuante como herança nossa, mas em pé de igualdade e respeito pela língua natural dos cabo-verdianos, língua do território e língua de identidade, não para fechar, mas para nos abrir ao mundo”, indicou.
“Devia ter sido nos alvores da independência nacional, como aconteceu com o tétum, em Timor-Leste”, em 2002, referiu o autor natural do arquipélago, quando questionado sobre se a oficialização da língua cabo-verdiana – ou “crioulo” cabo-verdiano –, a par do português, ainda pode demorar.
Se tivesse sido declarada como oficial, na altura, “hoje estaríamos focados noutras coisas e não a discutir esse direito humano básico que é o de um povo, uma nação, um agregado político-civilizacional poder exprimir-se livremente, em todas as circunstâncias, na língua que lhe é natural”.
Apesar de o idioma materno ser língua corrente no arquipélago, da rua aos debates parlamentares, o facto de não estar oficializada na Constituição representa uma limitação, diz, acrescentando que “há forças internas e externas a trabalhar afanosamente para que esse ato de liberdade e dignidade humana não se concretize”.
José Luiz Tavares falava a propósito do lançamento, na Presidência da República, na Praia, de um livro onde reúne artigos que publicou na internet, nos últimos três anos, sob o título “Uma Selvajaria Civilizacional - Textos de Guerrilha Contra o Supremacismo Linguístico”, com referência a situações, debates e atitudes que incluem elementos "de hierarquização e de racismo”.
O autor escreve sobre alegados desrespeitos protocolares e institucionais, violações legais, outros casos e discussões acesas sobre o que classifica como supremacia do português face ao idioma cabo-verdiano, traçando um perfil que, no fim, considera ser "contra os interesses da língua portuguesa”.
“A língua portuguesa é uma herança importantíssima do nosso processo histórico, mas ela será, em Cabo Verde, o que os cabo-verdianos decidirem soberanamente que deva ser”, acrescentou, rejeitando qualquer subalternização.
“Queremos o português vivíssimo e atuante como herança nossa, mas em pé de igualdade e respeito pela língua natural dos cabo-verdianos, língua do território e língua de identidade, não para fechar, mas para nos abrir ao mundo”, indicou.
O Presidente cabo-verdiano, José Maria Neves, tem defendido que, este ano, a propósito da celebração dos 50 anos de independência do país, deveria haver um consenso para institucionalizar a língua materna como oficial, em paridade com o português.
A Constituição de Cabo Verde define no artigo 9.º que a língua oficial é o português, cabendo ao Estado “promover as condições para a oficialização da língua materna cabo-verdiana, em paridade com a língua portuguesa”, acrescentando: “todos os cidadãos nacionais têm o dever de conhecer as línguas oficiais e o direito de usá-las”.
A lei magna faz ainda referência à língua materna no artigo 7.º, referindo que uma das tarefas do Estado é “preservar, valorizar e promover a língua materna”, assim como no artigo 78.º, do direito à cultura, para “incentivar o seu uso na comunicação escrita”.
A Semana com Lusa
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