terça-feira, 03 dezembro 2024

I INTERNACIONAL

EUA alerta para riscos da exploração de petróleo na floresta tropical da RDCongo

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O secretário de Estado norte-americano manifestou em Kinshasa preocupação com o anúncio da exploração de hidrocarbonetos na floresta tropical da Bacia do Congo, uma das maiores do mundo, mas disse ter recebido garantias ambientais do Presidente congolês.

A República Democrática do Congo (RDCongo) anunciou no final de julho a realização de leilões para a exploração de cerca de 30 blocos de petróleo e gás, alguns dos quais em zonas protegidas da floresta tropical da Bacia do Congo, considerada crucial para o sistema climático africano.

“Ficámos preocupados com o anúncio do leilão desses blocos de exploração de petróleo e gás. Alguns deles abrangem áreas sensíveis de floresta tropical e turfeira, incluindo o Parque Nacional Virunga e o Parque Nacional Salonga”, disse o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, numa conferência de imprensa conjunta com o seu homólogo congolês em Kinshasa na terça-feira ao final do dia.

Cerca de uma hora após se reunir com o Presidente da RDCongo, Felix Tshisekedi, o secretário de Estado disse ter ouvido do chefe de Estado “o compromisso de garantir que a RDCongo é um país solução quando se trata de proteger o ambiente e combater as alterações climáticas”.

“Em particular [o compromisso] de garantir que tudo o que for contemplado (…) não avançará na ausência de avaliações e estudos de impacto ambientais completos e que qualquer desenvolvimento não será feito de uma forma que prejudique o ambiente ou que mine o importante papel que a RDCongo assume no combate às alterações climáticas.

Segundo a transcrição da conferência de imprensa, disponibilizada hoje pela Secretaria de Estado dos EUA, Blinken disse, nas suas declarações iniciais, que a RDCongo é “vital para o futuro do planeta”.

“É tão simples como isso. A floresta da Bacia do Congo absorve mais carbono do que é emitido por todo o continente africano. É um lugar de tremenda biodiversidade. As suas chuvas ajudam a sustentar a agricultura em toda a região”, disse.

Blinken anunciou que os dois países acordaram estabelecer um grupo de trabalho formal para ajudar a RDCongo a alcançar uma abordagem equilibrada ao desenvolvimento responsável dos seus recursos, de forma a contribuir para o crescimento económico do país e para a geração de empregos.

“Ao conservar florestas insubstituíveis e outros ecossistemas e ao desenvolver projetos de desenvolvimento apenas após a realização de rigorosas avaliações de impacto ambiental, a RDCongo pode agir em nome de todas as pessoas do mundo para proteger o nosso lar partilhado”, afirmou o diplomata.

Blinken reconheceu que a RDCongo precisa de recursos e financiamento para proteger a floresta tropical e as turfeiras, “que já estão sob enorme pressão, independentemente de qualquer exploração energética”, e lembrou que foi isso que foi feito pelos países que, na cimeira sobre alterações climáticas do ano passado em Glasgow (COP26), prometeram doar 1,5 mil milhões de dólares para “parar e reverter a perda florestal e a degradação do solo até 2030”.

“O que queremos fazer agora é trabalhar juntos para garantir que, por um lado estes recursos são protegidos e o que é insubstituível não é danificado, mas ao mesmo tempo dar o apoio necessário para que a RDCongo faça o que tem a fazer para proteger a floresta, as turfeiras e criar oportunidades para o seu povo.

A Bacia do Congo cobre 530 milhões de hectares na África central e representa 70% da Floresta do continente africano. Nele vivem mais de mil espécies de aves e mais primatas do que em qualquer outra zona do planeta.

Trata-se da maior floresta de turfeiras do mundo e a segunda maior floresta tropical, apenas superada pela Amazónia.

Os solos das turfeiras são conhecidos como “sumidouros de carbono” porque neles há imensas reservas de carbono que são liberadas na atmosfera quando o ecossistema é perturbado.

Segundo o Centro para a Investigação Florestal Internacional, o sumidouro de carbono da turfeira da Bacia do Congo armazena o equivalente a 20 anos de emissões dos Estados Unidos da América.

O Parque Nacional Virunga, criado em 1925 e classificado como Património Mundial pela UNESCO, foi a primeira área de conservação de África e é o último bastião dos gorilas de montanha.

Segundo os ambientalistas e ativistas climáticos, a exploração de petróleo irá ameaçar significativamente um continente já fortemente afetado pelos efeitos das alterações climáticas.

A Semana com Lusa

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