O ex-presidente da República Paquistanesa, Pervez Musharraf, de 76 anos, foi, esta segunda-feira, 16, condenado à pena capital num julgamento à revelia acusado de "alta traição". Eleito em 2001, sete anos depois foi obrigado a demitir-se para não ser destituído. Hoje refugiado nos Emirados Árabes, sem acordo de extradição com o Paquistão, Musharraf não será sequer detido.
O general de quatro estrelas que foi o primeiro a jurar pela Constituição ao chegar à presidência da República pagaria o preço dessa ocidentalização, também expressa nas diversas políticas: economia liberal, liberdade de imprensa, abertura cultural ao "Ocidente", em especial aos Estados Unidos, donde lhe veio o cognome de "Musharraf o Cowboy".
Ao longo dos seus oito anos como presidente do país onde o conservadorismo religioso anda de braço dado com o poder militar, Pervez Musharraf teve de combater em duas frentes. Uma a oposição liderada pela primeira-ministra Benazir Bhutto, herdeira do pai fundador do partido da independência, PPP-Partido Popular do Paquistão, e que ela fez transitar de socialista a liberal. Outro, as forças nacionalistas e conservadoras e religiosas unidas politicamente sob a liderança do religioso Ahmad Noorani.
A crescente força opositora do ’califa’ Ahmad Noorani, presidente do maior partido da oposição MMA-Muttahida Majlis-al-Amal/Concílio Unido da Ação, que integrou todos os partidos religiosos e de tendências conservadoras, foi um dos fatores determinantes da queda de Musharraf.
Mas houve também o fator Estados Unidos, sob o presidente Bush: em 2007 derraparam as excelentes relações com o presidente Musharraf, acusado de corrupção, que lhe valeu uma condenação na Suiça. Washington passou a apoiar a opositora Bhutto exilada no Dubai.
Em 2008, Musharraf deixou de poder resistir ao MMA e acusado num processo de impeachment (destituição) foi forçado a demitir-se. Autoexilou-se no Reino Unido.
Em março de 2013 regressou ao país num voo que terminou em Karachi/Carachi, onde o esperavam milhares de apoiantes. Anunciou então que ia candidatar-se às eleições gerais de novembro 2013. Em abril , o Tribunal Eleitoral desqualificou-o como candidato dada a condenação na Suíca. Em seguida, a Justiça iniciou processos contra Musharraf, que acabou detido.
Em 2014, refugiou-se no Dubai, após a vitória do presidente Sharif que se tornou o seu maior opositor após a morte, em 2013, de Noorani. Sharif empenhar-se-ia em mover-lhe mais um processo desta vez acusando-o de ter mandado matar, em 2007, a ex-primeira-ministra Benazir Bhutto.
A sentença do ex-presidente acontece doze anos após os factos principais de que é culpado, no fim de um longo processo que agora termina em condenação à pena capital, sob o governo "nacionalista" de Imran Khan apoiado por forças conservadoras e religiosos.
PM Imran Khan, ex-campeão de críquete convertido à política
O primeiro-ministro que tomou posse em agosto de 2018, é apoiado pelo partido TLP-Partido Nacional Paquistanês constituído por fundamentalistas sufistas, incluindo a própria esposa, Bushra Maneka, que é uma respeitada líder espiritual sufista.
A promessa eleitoral mais destacada de Imran Khan, ex-campeão de críquete convertido à política, foi "libertar o Paquistão da escravatura imposta pelos Estados Unidos", como refere a AFP citando o diário paquistanês "The Nation", sediado em Lahore.
A ascensão do antigo campeão mundial de críquete à Primatura do Paquistão está a ser perspetivada como parte de uma onda, que se teme imparável, dos novos nacionalistas que, um pouco por todo o mundo dos Estados Unidos às Filipinas, da Hungria ao Brasil), têm sido eleitos com promessas populistas que desafiam alguns dos direitos universalmente reconhecidos.
Fontes: Referidas/Arquivos online. Relacionado: Paquistão: Cristã Asia Bibi ainda presa e advogado foge ameaçado de morte, 04.11.018. Foto oficial de Musharraf, no Fórum de Davos em 2008.
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