O ex-presidente boliviano Evo Morales que no domingo, 10, anunciou que se demitia, após perder os apoios políticos e do Exército, já está no México. Na segunda-feira, o país vizinho concedeu-lhe "asilo por motivos humanitários", como expressou o ministro da diplomacia mexicana, que destacou o facto de que a casa de Morales tinha sido saqueada, vandalizada. Imagens online mostram o presidente demissionário sob uma "tenda precária", onde teria passado a noite de domingo para segunda-feira.
A Bolívia enfrenta desde domingo, 10, um vácuo de poder, após a demissão de Morales: vários dos políticos que estavam na linha de sucessão também se demitiram. A assunção interina da vice-presidente do Senado tem contra si o facto de que a Assembleia Nacional é controlada pelos apoiantes de Morales.
Carlos Mesa, candidato presidencial derrotado e líder da oposição — cuja queixa de fraude eleitoral foi deferida na OEA e tem o apoio dos EUA e UE —, garantiu aos membros da Assembleia Nacional apoiantes de Morales, que não haveria represálias contra eles e apelou ao seu "sentido patriótico" para que apoiassem a presidente interina.
Entretanto as ruas da capital e da cidade de El Alto, as duas mais povoadas do país, começaram a ficar desertas, com os bolivianos a entrar em casa mais cedo, por razões de segurança.
Na tarde de segunda-feira centenas de apoiantes do presidente Morales encheram o centro da capital, La Paz, entoando cânticos de apelo à guerra civil. A polícia cercou-os e as imagens mostram homens a empunhar paus e até crianças a atirar pedras à polícia em La Paz.
Foi então que Evo Morales — que na véspera classificara a situação como de golpe de Estado — fez um apelo à paz. "Não podemos ter uma guerra entre irmãos bolivianos", fez saber através da rede social, na segunda-feira, 11, quando já estaria a caminho do exílio no México.
Mudança constitucional
O primeiro presidente ameríndio do país, eleito pela primeira vez em 2006, Evo Morales foi reeleito em 2011 gozando de grande popularidade.
Mas em 2016 a mudança na Constituição, por forma a permitir-lhe concorrer a um terceiro mandato, incendiou a Bolívia. Agora a turbulência voltou com as alegações de fraude, na eleição do dia 20 último.
Com Carlos Mesa a obter o apoio da OEA, EUA e UE — que pediram a repetição do plebiscito, numa segunda-volta entre Morales e Mesa —, há três semanas que o estado de guerrilha voltou ao país.
"Presidenta" Jeanine Añez
Foi uma presidente interina em lágrimas — "porque a Bolívia não merece isto, todas estas mortes e destruição" — que apareceu na televisão nacional da Bolívia para anunciar na segunda-feira que se disponibiliza a dirigir o país até novas eleições.
A opositora Jeanine Añez Chávez, que é a segunda vice-presidente do Senado, falou ao país pouco antes de voar para La PAz, estando em casa, na terceira cidade mais populosa, Santa Cruz, considerada o foco da oposição a Morales.
Añez prometeu dirigir a Bolívia durante a "rápida transição" que é "necessária até fazer regressar a democracia", rematou, ainda sob o efeito das lágrimas.
N. B. A língua espanhola — mas não a nossa língua portuguesa — permite o nome feminino "presidenta", por analogia com "estudianta", "contenta". Duvida? Faça o teste com os substantivos e adjetivos do português em -ente.
Fontes: El País/Euronews/TOI-Times of India. Relacionado: Bolívia: Morales demite-se sob pressão do Exército, 11.11.; Bolívia: Morales obtém maioria com mais 10% que Mesa na eleição presidencial, mas EUA e EU pedem 2ª volta, 26.out.019; Evo Morales anuncia greve de fome para aprovar lei eleitoral na Bolívia, 10.abr.009. Foto(TOI): As boas-vindas dos mexicanos. LMS
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