Analistas políticos cabo-verdianos disseram hoje à Lusa que a remodelação governamental, anunciada na segunda-feira, é uma reação às críticas ao executivo, mas dividem-se quanto à capacidade de influência, quando resta cerca de um ano de mandato.
"Não haverá política nova. Entrarão pessoas competentes, mas num comboio já em andamento e perto da estação final. Conseguirão chegar com resultados? Será complicado", afirmou.
"Se a ideia da remodelação é mudar as coisas, fazer com que melhorem, para que se atinjam os resultados esperados para esta legislatura, vem tarde", afirmou à Lusa António Ludgero Correia, considerando que as remodelações são normais, mas devem ser feitas a tempo.
"Se o chefe do Governo espera convencer quem não se convenceu com os resultados até agora, falha, porque o tempo é escasso. Mas o primeiro-ministro lá sabe com que linhas se cose", disse o analista político, apontando que uma decisão mais atempada poderia ter corrigido tendências.
Correia referiu que o programa governamental em curso tem resultados "aquém do esperado" e que os novos ministros são figuras "com capacidade", mas terão de gerir políticas já definidas.
"Vão pilotar o programa do Governo para os seus setores. Nada poderá ser parado, apenas diferenciado, talvez com mais habilidade, mas não ao ponto de marcar pontos" decisivos, referiu.
O analista disse ainda que a proximidade das legislativas de 2026 reduz a margem para mudanças estruturais.
"Não haverá política nova. Entrarão pessoas competentes, mas num comboio já em andamento e perto da estação final. Conseguirão chegar com resultados? Será complicado", afirmou.
António Ludgero Correia criticou também a saída de mulheres do Governo.
"Não consigo entender, numa sociedade em que se fala de paridade de género. Por exemplo, José Maria Neves [atual Presidente]", quando chefiava o Governo, "teve momentos em que teve mais senhoras do que cavalheiros na equipa governativa", referiu.
Por outro lado, o analista João de Deus Carvalho considerou que a remodelação responde a um apelo da sociedade e vê espaço para mudanças.
"O MpD analisou o contexto e concluiu que precisava de mexer no Governo para responder às preocupações das pessoas e empresas", indicou, apontando que o primeiro-ministro "tentou dar essa resposta com esta remodelação" e recuperar terreno, após os maus resultados nas autárquicas de dezembro.
"Esta remodelação é uma peça num puzzle. O Governo tem de responder ao cartão amarelo que a sociedade cabo-verdiana mostrou ao MpD. As boas estatísticas do Fundo Monetário Internacional [FMI] e do Banco Mundial não refletem o nível de vida real da população", alertou.
"Uma remodelação a um ano e tal das eleições é sempre uma remodelação possível", concluiu.
O primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, anunciou na segunda-feira que o Ministério das Finanças se mantém sob liderança de Olavo Correia e vai ser criado o Ministério da Promoção de Investimentos e Fomento Empresarial, entregue a Eurico Correia Monteiro, até aqui embaixador em Portugal.
A pasta das Comunidades passa para o ministro dos Negócios Estrangeiros, José Filomeno Monteiro, e são extintas as secretarias de Estado do Fomento Empresarial e do Ensino Superior.
Jorge Figueiredo assume a Saúde, José Luís Sá Nogueira passa a liderar o Turismo e Transportes, Vítor Coutinho toma posse nas Infraestruturas, Ordenamento do Território e Habitação e Eurico Correia Monteiro acumula a Modernização do Estado e Administração Pública.
A Semana com Lusa
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