sábado, 06 julho 2024

D DESPORTO

REPORTAGEM/São Vicente: Falta de pediatras no HBS leva profissionais à “exaustão e improdutividade”

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Os pediatras, no Hospital Baptista de Sousa, em São Vicente, dizem-se “exaustos e improdutivos” porque são obrigados a fazer 24 horas de urgência, a cada quatro dias, para “tapar o buraco” causado por falta de especialistas nesta área.

 

A sobrecarga laboral, segundo esses profissionais, tornou-se “mais complicada” com a saída de colegas, alguns dos quais aposentados, outros para estabelecimentos de saúde privados, que “oferecem melhores condições laborais e salariais”, e de uma outra pediatra que acusou problemas de saúde e pediu exoneração, “devido à jornada exaustiva de trabalho”.

 

Este problema foi constatado pela Inforpress que conversou com as duas únicas pediatras do hospital, Zuleica Fernandes e Carlina Luz, com o clínico geral Eber Barreto, que fazem a escala de urgências, mas sempre coadjuvados pelas pediatras.

O relato de cansaço também veio do pneumologista José Luís Spencer, único na sua área em São Vicente, e da única especialista em Neuropediatria em Cabo Verde e que trabalha no Hospital Baptista de Sousa (HBS), Stephanie Monteiro, que faz enfermaria da pediatria, além de atendimento na respectiva área e consultas externas.

Uma situação que já levou ao pedido de demissão da directora de serviço da Pediatria, Zuleica Fernandes que, entretanto, permanece no cargo porque não há ninguém para a substituir.

A sobrecarga laboral, segundo esses profissionais, tornou-se “mais complicada” com a saída de colegas, alguns dos quais aposentados, outros para estabelecimentos de saúde privados, que “oferecem melhores condições laborais e salariais”, e de uma outra pediatra que acusou problemas de saúde e pediu exoneração, “devido à jornada exaustiva de trabalho”.

“Realmente a situação já está insustentável, porque nós somos obrigados a fazer 24 horas de urgência a cada quatro dias. Essas 24 horas de urgência realmente são extenuantes porque é um hospital central, no qual recebemos às 02:00 da madrugada crianças com problemas graves provenientes de Santo Antão, São Nicolau, mesmo estando desde às 08:00. Mas temos de estar com raciocínio diante de um doente grave”, afirmou a pediatra Carlina Luz.

Segundo a mesma fonte, quando os clínicos gerais fazem as urgências as duas únicas pediatras ficam em alerta para poderem ajudá-los, já que os mesmos não são especialistas em pediatria.

E quando têm doentes graves têm de regressar ao hospital e assumir a cobertura total do paciente ou continuar a discutir com os colegas clínicos gerais a evolução dos pacientes graves internados para ver se conseguem descansar.

Por isso, a mesma questionou se o Ministério da Saúde “está à espera de acontecer algo grave para depois vir procurar os culpados” ou se está à espera que “os profissionais iniciem uma debandada para o serviço privado que oferece melhores condições”.

“Saio das urgências depois de 24 horas, mas tenho de apoiar o colega clínico geral que aceitou fazer urgência para nos ajudar. Mesmo fora, a qualquer hora tenho que me manter em alerta porque pode chegar um caso grave e tenho que me deslocar ao hospital para o ajudar”, acrescentou.

A mesma fonte reforçou que não se fosse a ajuda dos dois clínicos gerais a escala de urgência seria “mais apertada” para as pediatras.

Para a médica, esse regime de trabalho é “improdutivo e exaustivo,” porque depois de 20 horas de trabalho o profissional não consegue dar um atendimento de qualidade ao paciente, o que “coloca em risco a saúde do doente e do profissional”.

A mesma reconheceu que a direcção do hospital tem tentado resolver a situação junto do Ministério da Saúde, mas disse que desde a entrada da nova ministra Filomena Gonçalves, nem esta, nem a Direcção-geral da Saúde se reuniram com ninguém da Pediatria, apesar da situação ser bastante crítica e grave”.

Conforme a escala de serviço, só no último mês de Março, os profissionais foram obrigados a fazer oito urgências, cada, para dar vazão à demanda deste hospital central, que além da ilha de São Vicente recebe pacientes das ilhas de Santo Antão, São Nicolau, Sal e Boa Vista.

“Já reunimos com a direcção clínica e com a direcção do hospital para tentar, através do Ministério de Saúde, melhorar a situação. Da minha parte, como directora de serviço, enviei cartas e cartas para mostrar a situação da pediatria que vem desde antes de julho de 2023 e que se agravou mais com a saída de dois pediatras cubanos, que eram da cooperação, de pediatras antigos de São Vicente, Antonina, Irina e Anilda, e nunca colocaram ninguém para as substituir”, relatou a directora de serviço de pediatria, Zuleica Fernandes, informando que já chegou a fazer 36 horas de urgências.

Segundo a directora, com a ida de dois médicos da cooperação, chegou apenas um e desde 2023 até agora estão a aguardar a vinda de mais um outro. 

Como consequência, todos acumulam folgas, não conseguem traçar um plano de férias e se um deles estiver em gozo de férias ou doente “significa mais sobrecarga” para os colegas.

Esta situação levou o hospital a desmarcar uma sessão clínica de capacitação promovida pela missão médica do Centro Hospitalar de Lisboa Central, do Hospital D. Estefânia e do Centro Materno-infantil do Porto, porque não havia pediatras para participar, caso contrário o atendimento do serviço de urgência seria gravemente afectado.

“Até agora, nunca tive nenhum feedback da parte do Ministério da Saúde. Fora isso, tivemos a saída também de um colega pediatra, que já tinha vários anos de serviço no nosso hospital, e que acabou por pedir a exoneração, talvez por problemas de saúde, que se criou possivelmente por esta sobrecarga de trabalho, de urgências, e acabou por complicar mais a situação”, informou.

A neuropediatra Stephanie Monteiro, por seu lado, disse que inicialmente o objectivo não era trabalhar apenas no HBS, mas dar atendimento a todo o país, tendo em conta que é a única especialista da sua área em Cabo Verde.

No entanto, continuou, devido a esse estrangulamento provocado pela carga horária sequer consegue deslocar-se à vizinha ilha de Santo Antão para dar consultas de especialidade, porque tem de preencher a escala de Pediatria Geral.

“Temos já neurologistas de adultos na Praia, que conseguem fazer o trabalho de Neuropediatria, mas conseguem abranger uma parte da população. Mas o restante do Barlavento fica muito dependente das teleconsultas que fazem comigo, aqui no ‘Baptista de Sousa’, e das deslocações que fazem à São Vicente”, adiantou a especialista.

Segundo a mesma, seria muito mais prático, do ponto de vista económico, ela mesma se deslocar às outras ilhas para dar consultas pensando em crianças com necessidades especiais, com epilepsia, com atraso de desenvolvimento.

“Sempre essa foi a realidade, desde que eu ingressei, em 2015, no Ministério da Saúde. Ou seja, são problemas que não são recentes, mas que já vêm de há muito tempo e que, infelizmente, sentimos que estão agravando, porque cada vez temos menos recursos humanos no nosso serviço, o que é suposto estarmos numa melhoria”, criticou, avisando que “cada vez mais" a população está "exigente em relação aos cuidados de saúde" e há "cada vez menos recursos humanos para dar vazão”.

A mesma crítica fez o pneumologista que trabalha há 21 anos no serviço de pediatria do HBS, José Luís Spencer, que se dedicou ao serviço de isolamento por altura da pandemia da covid-19.

Este que é o único pneumologista do HBS e que dá cobertura à toda a região do Barlavento disse que está a caminhar para a reforma e teme que o Hospital Baptista de Sousa “fique sem pneumologista”, o que afectará o serviço porque há procedimentos como broncoscopia que só a sua especialidade faz.

Também o clínico geral Eber Barreto considerou que a situação é de risco para os profissionais, tendo em conta que no período que fica sozinho é ele o médico que será responsável em caso de algo acontecer.

“Assumo urgências de 24 horas, é claro que tenho apoio nos casos mais graves, mas enquanto estou aqui como único médico sou eu o responsável, tanto para urgência como para enfermaria. E por mais que eu tenha apoio, nem sempre é possível conseguir o contacto ou o apoio imediato do colega pediatra”, lançou, acrescentando que pelo menos desde do mês de Janeiro já contabilizou mais de 200 horas de urgências, sem contar com a enfermaria.

Comecei a apoiar e cada vez mais foi preciso fazer mais. Já fiz 24 de urgência sozinho”, revelou, questionado até quando a situação vai continuar.

 

A Semana com Inforpress

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Colunistas

Opiniões e Feedback

Daniela Santana
7 days 22 hours

Devemos todos fazer uma subscrição a favor do Leão Vulcão. Todos, todos, todos.

Americo costa feritas
8 days 1 hour

Esta noticia peca em todos os aspetos; presença dum governante, melhor vodka do mundo, produção de vodka num pais tropic

Antonio
18 days 23 hours

Paz à sua alma.

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