O presidente da Associação Sindical dos Jornalistas de Cabo Verde (AJOC) acusou esta quarta-feira o Ministério Público do arquipélago de desrespeitar a liberdade de imprensa, após mandar apurar indícios de crimes pela divulgação de notícias por um portal.
“Há inúmeros outros casos em que o procedimento é o mesmo, mas, curiosamente, nunca vemos o PGR a levantar a bandeira da violação do segredo de justiça”, concluiu.
“O Ministério Público, em vez de fortalecer a democracia, insiste em miná-la com perseguições seletivas e um preocupante desrespeito pela liberdade de imprensa”, referiu Geremias Furtado à Lusa.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) cabo-verdiana mandou apurar indícios de violação de segredo de justiça contra desconhecidos e de desobediência qualificada contra o portal de notícias Santiago Magazine.
Em causa, está um processo que envolve o ex-ministro do Turismo e Transportes, Carlos Santos, por suspeitas de lavagem de capitais, e notícias "que tornaram públicos pormenores do processo, ainda em investigação, relativos a atos processuais cobertos pelo segredo de justiça, incluindo fotografias do auto de constituição de arguido a que o jornal teve acesso", anunciou a PGR, em comunicado.
“O Ministério Público deveria saber que ninguém viola segredos que desconhece: só se pode quebrar um segredo quando, de facto, se tem acesso a ele”, referiu o presidente da AJOC.
Segundo aquele responsável, “se há fugas de informação, que a Justiça investigue onde e por quem foram feitas, em vez de tentar silenciar o jornalismo”.
“A Justiça que guarde os seus segredos e o jornalista que faça o seu trabalho”, acrescentou.
Geremias Furtado questionou o papel do Procurador-Geral da República, referindo que “parece mais interessado em mostrar serviço do que em garantir a equidade da Justiça”.
“Há inúmeros outros casos em que o procedimento é o mesmo, mas, curiosamente, nunca vemos o PGR a levantar a bandeira da violação do segredo de justiça”, concluiu.
Há seis dias, após a notícia ter sido divulgada pelo portal Santiago Magazine, Carlos Santos confirmou, numa declaração sem direito a perguntas, que colocou o cargo ministerial à disposição por ter sido constituído arguido num processo – e explicou que o mesmo diz respeito a factos anterior à sua entrada no Governo.
Hermínio Silves, jornalista e diretor do Santiago Magazine, reagiu no portal à abertura de instrução, hoje anunciada pela PGR, considerando a posição do Ministério Público "descabida e desacertada" porque o próprio arguido convidou os jornalistas para falar sobre o processo.
"O objetivo da PGR é tentar descortinar quem foi a fonte do Santiago Magazine", proteger o ex-membro do Governo e "intimidar toda a imprensa cabo-verdiana", argumentou.
Ainda segundo Hermínio Silves, o código de processo penal cabo-verdiano iliba os jornalistas do delito de violação do segredo de justiça, tornando inverosímeis suspeitas por desobediência qualificada.
A Semana com Lusa
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