O poeta cabo-verdiano José Luís Tavares sugeriu hoje uma modificação de protocolo do Prémio Camões, para que os laureados africanos possam receber a distinção no seu país, em vez de esta acontecer apenas em Portugal ou no Brasil.
Em entrevista à agência Lusa, na cidade da Praia, José Luís Tavares defendeu que premiados africanos de países com maior expressão ao nível da literatura, como Cabo Verde, Angola e Moçambique, deviam fazer a proposta.
"O protocolo original é determinado entre Brasil e Portugal e os países africanos são convidados a participar no júri, a título excecional", sem força "determinante", constatou o poeta cabo-verdiano, que reside em Lisboa e que também já fez parte do júri daquele prémio literário de língua portuguesa.
Se houver modificação do protocolo e os países africanos puderem "comparticipar" ativamente, terão "outra palavra a dizer" no Prémio Camões, no valor de 100 mil euros, instituído pelos governos de Portugal e do Brasil.
"Os escritores desses países também poderiam receber o prémio nos respetivos países, o que dignificava, em certa medida, o escritor e a literatura do seu país", insistiu Tavares, que está em Cabo Verde para o lançamento de novos livros.
O Prémio Camões visa distinguir um escritor cuja obra contribua para a projeção da Língua Portuguesa e foi atribuído pela primeira vez em 1989 ao escritor Miguel Torga (1907-1995).
Segundo o texto do protocolo constituinte, assinado em Brasília, em 22 de junho de 1988, e publicado em novembro do mesmo ano, o prémio consagra anualmente "um autor de língua portuguesa que, pelo valor intrínseco da sua obra, tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum".
Brasil e Portugal lideram a lista de distinguidos, com 14 premiados cada, seguindo-se Moçambique, com três, Cabo Verde, com dois, e Angola, com Pepetela mais o luso-angolano Luandino Vieira, que recusou o galardão em 2006, sendo o único a fazê-lo, até hoje.
Os dois únicos laureados de Cabo Verde são Arménio Vieira (2009) e Germano Almeida (2018), e José Luís Tavares, com mais de 20 anos de percurso e dezenas de obras publicadas, disse não o ter na sua lista de desejos.
"Os prémios acontecem se tiverem de acontecer: o meu fito, o meu horizonte é publicar obras relevantes, que contribuam para libertar a cabeça das pessoas", respondeu.
Tavares frisou que este é um daqueles prémios que não são atribuídos diretamente a livros, mas que têm "outras envolvências", em que os autores "não são tidos, nem achados", pelo que é algo que "não tira o sono" ao autor que celebra o aniversário no Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, e que é tradutor de Camões para língua cabo-verdiana, o crioulo. "Como costumo dizer, já nasci ’camonizado’", afirmou à Lusa.
José Luís Tavares nasceu em 10 de junho de 1967, em Tarrafal de Santiago.
Na entrevista à Lusa, José Luís Tavares abordou ainda a relação entre escritores e a literatura na lusofonia, para assegurar que as "trocas e os intercâmbios são praticamente nulos", sendo tudo mais facilmente reconhecido quando se está na "antiga metrópole colonial", Portugal.
A Semana com Lusa
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