segunda-feira, 16 setembro 2024

TERRITÓRIO RICO, POVO POBRE, PODER POLÍTICO DE DESENVOLVIMENTO MÉDIO

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Sim, pode-se dizer que Cabo Verde é um país de desenvolvimento médio. Mas, na verdade, essa é apenas uma parte da história. Porque, no fundo, Cabo Verde é um país que desafia as classificações, que questiona as certezas e que, acima de tudo, nos lembra que a realidade é sempre mais complexa do que aquilo que parece à primeira vista. Um país onde a geografia, os  recursos naturais e as estratégias  se entrelaçam numa dança constante de ironias e paradoxos, criando uma narrativa única que só quem vive neste arquipélago consegue verdadeiramente contrariar. E assim, enquanto o sol apenas queima e o vento apenas sopra, a pergunta continua no ar: será que Cabo Verde é realmente de desenvolvimento médio, ou será que é apenas mais uma prova de que a realidade é sempre mais irónica do que gostaríamos de admitir?

 Por José Mendonça Monteiro*

Na vastidão do Atlântico, repousa um conjunto de ilhas que parecem saídas de um conto de fadas. Cabo Verde, assim se chama este pequeno arquipélago, situa-se num ponto quase esquecido do mapa-múndi, na encruzilhada entre a África Ocidental e o mar aberto. Um lugar onde a natureza se vestiu de contrastes: de um lado, montanhas que parecem sussurrar segredos antigos; do outro, praias que mais parecem quadros pintados por um artista divino.

Em um mundo onde o Estado se manifesta na complexa interseção entre política, território e povo, a noção de um país desenvolvido transcende a mera acumulação de riquezas. Para além dos recursos naturais e tecnológicos, o verdadeiro desenvolvimento repousa na capacidade de uma nação em transformar seu potencial humano em progresso sustentável. É na educação de seu povo, na justiça social e na equidade de oportunidades que se forja um estado forte, onde o poder político não apenas governa, mas capacita, e onde o território se torna solo fértil para a prosperidade coletiva.

O Nascimento de um Estado: De Descoberta a Independência

Voltemos um pouco atrás no tempo, precisamente ao século XV, quando os navegadores portugueses descobriram este pedaço de terra perdido no meio do Atlântico. As ilhas, até então desabitadas, tornaram-se rapidamente num ponto estratégico de colonização e comércio, sobretudo de escravos. A bandeira lusa lá tremulou durante séculos, até que, em 1975, Cabo Verde finalmente alcançou a independência. Um marco histórico, sem dúvida, mas que trouxe consigo o peso de uma responsabilidade que nem sempre soube carregar.

Hoje, Cabo Verde conta com cerca de meio milhão de habitantes, dispersos pelas suas dez ilhas. Um número pequeno, dirão alguns, mas que carrega consigo uma complexidade que rivaliza com as mais densas metrópoles. Ao longo dos anos, o país viu-se envolvido numa dança política, onde a estabilidade e a alternância se destacam, mas onde também o ritmo parece, por vezes, no  compasso das suas belas mornas.

A Realidade do Povo: Uma Lição de Cidadania

 

O povo cabo-verdiano é, sem dúvida, a verdadeira jóia deste arquipélago. Um povo que, apesar de todas as adversidades, mantém um espírito resiliente, uma força inabalável e uma capacidade de adaptação que faria inveja a qualquer camaleão. No entanto, a realidade é dura. O desenvolvimento humano, tão propagado nos discursos oficiais, ainda está longe de ser uma realidade para muitos. A cidadania, essa palavra bonita que enfeita panfletos e cartilhas, parece ser um oásis na mente dos cidadãos.

A emigração continua a ser a principal saída para milhares de jovens que, não vendo perspectivas no seu próprio país, procuram novos horizontes além-mar. Mas será que a seca, que teima em assolar estas terras férteis, mas mal aproveitadas, não tem também a sua quota-parte de culpa?

Um Território Rico: As Ironias da Natureza

 

Se o povo é pobre, o território é, sem dúvida, rico. As terras, ainda que sofrendo com a falta de água, são férteis e têm potencial para muito mais do que aquilo que se extrai delas. O céu, permanentemente ocupado por aviões que cruzam o Atlântico, oferece uma posição geográfica estratégica que poucos países no mundo podem ostentar. O mar, rico em biodiversidade, esconde nas suas profundezas tesouros que ainda aguardam ser descobertos. Petróleo, dizem alguns, com aquele tom de mistério que só as lendas conseguem evocar.  

É difícil acreditar que um país com tantas riquezas naturais, com um crescimento do PIB que tem vindo a aumentar nos últimos anos, possa ser considerado apenas de "desenvolvimento médio". Sol, vento, mar, céu... Cabo Verde tem tudo? Pois, tem também um sistema tributário que pesa nos ombros dos seus cidadãos, uma falta de exploração sustentável dos seus recurso. Como, então, classificar um país assim?

Cabo Verde: Entre a ironia e paradoxo

 

Talvez a resposta esteja na ironia. Naquele sorriso meio amargo que se esboça no rosto de quem, vivendo a realidade cabo-verdiana, reconhece as contradições que fazem parte do quotidiano. Outro sim,  Cabo Verde é de fato, um país de contrastes, onde se pensa com a cabeça dos estrangeiros de realidades distintas  e  as políticas dos países desenvolvidos são implementadas num território que ainda luta para sair das amarras do subdesenvolvimento.

Sim, pode-se dizer que Cabo Verde é um país de desenvolvimento médio. Mas, na verdade, essa é apenas uma parte da história. Porque, no fundo, Cabo Verde é um país que desafia as classificações, que questiona as certezas e que, acima de tudo, nos lembra que a realidade é sempre mais complexa do que aquilo que parece à primeira vista. Um país onde a geografia, os  recursos naturais e as estratégias  se entrelaçam numa dança constante de ironias e paradoxos, criando uma narrativa única que só quem vive neste arquipélago consegue verdadeiramente contrariar.

E assim, enquanto o sol apenas queima e o vento apenas sopra, a pergunta continua no ar: será que Cabo Verde é realmente de desenvolvimento médio, ou será que é apenas mais uma prova de que a realidade é sempre mais irónica do que gostaríamos de admitir?

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*Licenciado em Direito;Técnico de Segurança Pública; Pós-graduando em Direito Penal e Direito Processual Penal militar

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Colunistas

Opiniões e Feedback

D. G. WOLF
12 days 23 hours

A Guiné-Bissau é uma espinha atravessada na garganta dos cabo-verdianos.

JP
17 days 2 hours

hehehe SATANÁS ta inspeciona DEMONIOS hehehe Só trossa propi

António
18 days 19 hours

Abro radio e tv oiço aplicacao de milhões e milhoes escudos , de um momento para outro. Cifrões serios e não serios

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