Rodeado de todo o seu Governo, Luís Montenegro diz-se inocente de qualquer acusação, de qualquer suspeita, de qualquer dúvida, mas ainda assim vai passar a empresa familiar para a posse e gestão dos seus filhos - Montenegro e a mulher, casados em comunhão de bens, afastam-se da atividade da Spinumviva. Por outro lado, e depois de saber que recebeu uma avença de 4.500€ mensais da Solverde, anunciou escusas: "Sempre que houver conflito de interesses, não participarei nos processos decisórios". E a regra é para aplicar a “todos” os membros do Governo.
Cheia de críticas à oposição, a intervenção de Montenegro serviu para antever uma crise política “inevitável” – palavra do próprio. Que sublinhou a sua idoneidade: “Não pratiquei nenhum crime nem tive nenhuma falha ética”, insistiu o primeiro-ministro, depois de lembrar que foi “tudo” declarado por ele. “Ninguém descobriu nada, está tudo nas minhas declarações de interesses.”
Em termos políticos, Montenegro coloca agora o ónus no Parlamento para que haja uma “clarificação” sobre se o Governo tem condições para continuar a executar o seu programa. E foi aí que admitiu pedir uma moção de confiança.
“Em termos políticos e governativos, insto daqui os partidos políticos, representados na Assembleia da República, a declarar sem tibiezas se consideram, depois de tudo o que já foi dito e conhecido, que o Governo dispõe de condições para continuar a executar o programa do Governo, como resultou há uma semana da votação da moção de censura”.
E continuou: "Sem essa resposta, a clarificação política exigirá a confirmação dessas condições no parlamento, o que, por iniciativa do Governo, só pode acontecer com a apresentação de uma moção de confiança". O PCP antecipou-se entretanto: anunciou uma moção de censura.
(Lusa)
“Nunca cedi a nenhum interesse particular face ao interesse publico e ao interesse geral. E assim vai continuar a ser”, começou por dizer. "Estou em exclusividade total", repetiu. E foi nesse contexto que anunciou o pedido de escusa, sem precisar no entanto em que setores é que o fará. “Sempre que houver qualquer conflito de interesses, por razões pessoais ou profissionais, não participarei nos respetivos processos decisórios”, foi o que disse a esse propósito.
Montenegro deixou claro que a Spinumviva passará em exclusivo para as mãos dos filhos. “Totalmente detida e gerida” pelos descentes, que Montenegro diz não querer “privar” do trabalho que desenvolveram no projeto familiar. Assim, a mulher deixa de estar envolvida nesta empresa - que, recorde-se, recebe uma avença de 4.500 euros da Solverde - detentora de casinos e que Montenegro chegou a representar em negociações com o anterior Governo.
Também a sede da Spinumviva, na casa do casal, em Espinho, será mudada. “Seria justo fechar tudo, abandonar tudo, só porque circunstancialmente fui eleito presidente do PSD e agora exerço as funções de primeiro-ministro? Deviam os meus filhos ficarem inibidos de dar seguimento ao que criaram comigo só porque me encontro nesta situação?”, questionou.
Montenegro teceu fortes elogios à qualidade do trabalho desenvolvido pela empresa da sua família, que evita “coimas de milhões de euros” aos seus clientes no que respeita à proteção de dados.
Numa declaração a defender a transparência mas sem direito a perguntas dos jornalistas, Montenegro fez-se acompanhar dos seus ministros. E aproveitou para lembrar o trabalho feito em várias áreas, dos impostos às pensões, passando também pela habitação. “Temos um país em movimento”, disse.
“Colocar este país em movimento, este Portugal que está forte e que se recomenda, numa crise política é difícil de perceber. A crise política deve ser evitada, mas também é preciso dizer que ela poderá ser inevitável”, referiu.
E focou-se no ataque à postura da oposição, a quem exigiu “responsabilidade”, depois de os partidos terem lançado “especulações para que o assunto nunca se encerrasse”, alimentando um “círculo vicioso”.
Houve ataque direto ao PS: “Não resistiu em alimentar a desconfiança e a especulação, a insinuação mesmo”. "A situação política tem de ser clarificada sem manobras táticas e palacianas."
A Semana com CNN Portugal
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