O presidente do Fórum Cabo-Verdiano da Sociedade Civil considerou esta terça-feira que a redução das listas de movimentos de cidadãos para as autárquicas no arquipélago reflete a falta de diálogo e a crescente desconfiança dos cidadãos em relação aos políticos.
O recuo no número de candidaturas independentes, de 12 nas autárquicas de 2020 para cinco na votação de 01 de dezembro próximo, "é um mau sinal", um prenúncio de falta de "empatia" entre eleitorado e governantes, disse à Lusa o presidente do Fórum CV, Dionísio Pereira.
"Quando se torna recorrente" ouvir que "todos os partidos são iguais, com a mesma postura no poder", tal evidencia "falta de espaço para diálogo, interação e mobilização da participação cidadã nos processos de governação", acrescentou, dias depois de o fórum ter lançado um manifesto em que sugere temas prioritários para os candidatos às autárquicas de dezembro.
Entre eles está o reforço da participação dos cidadãos.
Segundo o presidente do Fórum CV, a perceção de que "todos os políticos são iguais" leva os cidadãos a questionarem: "para quê votar, se tudo vai continuar na mesma, mudando apenas a figura no poder?".
Neste sentido, Dionísio Pereira alertou: o fenómeno merece estudo e a adoção de medidas para reverter a situação.
"Há fraca participação porque há um descrédito, sensação de que 'não vale a pena'", afirmou, indicando que o fenómeno também é observado noutros países, apontando como exemplos Portugal, Senegal e Moçambique, país onde as crispações têm provocado tumultos violentos.
O presidente do Fórum CV defendeu maior transparência, diálogo com os cidadãos e implementação de medidas como orçamentos participativos e políticas habitacionais municipais para restabelecer a confiança - dois pontos recomendados no manifesto para as autárquicas.
"O cidadão precisa ser informado sobre a execução dos planos, para onde foram os recursos e as receitas arrecadadas. E há necessidade de se pensar em conjunto, cada um assumindo a sua responsabilidade", explicou.
Dioníosio Pereira enfatizou ainda a necessidade de haver políticas mais inclusivas, que não sejam elaboradas apenas por eleitos em gabinetes ou assembleias municipais, mas discutidas com os cidadãos, para encontrar soluções que evitem problemas como construções clandestinas, que geram problemas ambientais, de salubridade e segurança.
As associações comunitárias também devem desempenhar um papel na resolução de problemas locais, frisou.
Cerca de 352 mil eleitores estão inscritos para as eleições autárquicas de 01 de dezembro em Cabo Verde, cerca de metade concentrados nos municípios da Praia (capital), São Vicente e Santa Catarina.
O Movimento pela Democracia (MpD, no Governo) lidera o mapa autárquico: nas oitavas e últimas eleições municipais, a 25 de outubro de 2020, em plena pandemia da covid-19, ganhou em 14 câmaras, enquanto o Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) venceu em oito.
A Semana com Lusa
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