Nós todos nos convencemos de que nossas atitudes são o mais correto que
podemos dar de nós mesmos. Aceitamos que fazemos o justo e o necessário e
nos pretextamos com processos de defesa do ego em prol de nossos feitos,
por mais censuráveis que eles sejam.
E não somente nos explicamos, pois uma explicação fica exposta contra-
argumento, ao qual nossa consciência supostamente se oporia, mas que, com
alguma honestidade, ouviria. Mais que nos explicar, nós nos justificamos, nos
damos por certos e nos repetimos.
Ora, sabemos perfeitamente que quando chegamos ao ponto de nos tornar
agressivos, estejamos diante de um\a adulto\a ou de uma criança, seja aos
tapas, seja aos berros, estamos assim procedendo apenas e simplesmente
porque nossa paciência chegou ao limite.
Sim, é perfeitamente normal explodir em determinados momentos, mas, cá pra
nós, explodimos em defesa do nosso alívio, não pelo bem do próximo. Isso
também vale para a nossa relação com filho\as. E até vale mais, dada a
situação de vulnerabilidade das crianças.
Grita-se ou se espancam filho\as para o próprio conforto, para interromper o
que irrita, embora alegue-se caritativa severidade educacional. Explodiríamos
porque seríamos magnânimo\as. É mentira, nós nos passamos de nós
mesmo\as apenas porque perdemos a compostura.
Nesses modos primitivos de educar há dois sujeitos que têm o que dizer.
Tenho-os, todavia, não como especialistas em educação, mas em
adestramento. Burrhus Skinner desenvolveu o Condicionamento Operante, um
procedimento para modelar respostas em um organismo.
Respostas premiadas inclinam-se à repetição; punidas, tendem a eliminar a
conduta. Fixa-se o Comportamento Operante. Antes de Skinner, Ivan Pavlov
trouxe o conceito de Comportamento Respondente, uma reação fisiológica a
um estímulo, ou agradável, ou desagradável.
Trocando esses conceitos já bem simplificados em miúdos, pode-se dizer que
Skinner obtinha comportamentos com premiações; dado o prêmio, o organismo
dispunha-se a repetir o comportamento. Pavlov, digamos, interditava
comportamentos com desconforto, punições.
Um e outro, com repetição consistente de experimentos, conseguiam obter ou
remover respostas comportamentais. Sem engano, contudo: de resposta a
estímulo não resulta consciência, mas atos reflexos; reflexos são respostas
decorrentes de estímulos, não de vontades.
Que isso quer dizer? Bem, não havendo vontade autônoma, mas resposta por
reflexo, não há deliberação, não há eleição moral. Haverá respostas
adaptativas; não serão escolhas. Não havendo postura estimativa diante de
valores subjetivados, não existirá liberdade humana.
Para uma criança, pancadas ou gritos são um estímulo desconfortável, e esse
desconforto provocará resultado. Uma criança acabará, de fato, desistindo de
uma atividade qualquer se receber palmadas ou um brado ríspido. Ela, no
entanto, estará sendo adestrada, não educada.
Educar não pode ser adestrar por desconforto, mas levar a escolhas por
persuasão. Socorro-me do Houaiss: Persuasão: “convencer (alguém) da
necessidade ou conveniência de; levar alguém a mudar de atitude; conduzir a
uma solução ou situação convincente, satisfatória”.
Ao se lidar com uma criança – que está nos limites de discernimento de uma
criança –, claro, cabe construir estratégias de comunicação em que mais se
lance mão de encantamentos do que de lógicas pretensamente racionais. A
uma criança se envolve com recursos da vida lúdica.
Porém, criança pensa, e desde cedo confere interesses. Então, já persuadindo-
a do melhor, já dissuadindo-a do pior, melhor levá-la a duvidar da adequação
do seu comportamento do que simplesmente interditá-lo. Educar conjuga
pouco com hostilidade imperativa, carece de sedução.
Sedução como uma relação que provoque bons afetos. É dizer: a pessoa
adulta, quem quer que tenha responsabilidade educativa, deve atuar, em
relação à criança, atenta a um “conjunto de qualidades e características que
despertam simpatia, desejo, amor, interesse etc” (Houaiss).
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