A mulher cabo-verdiana está na ribalta do desporto, liderando e praticando diversas modalidades na esfera nacional e internacional, dignificando a bandeira de Cabo Verde, mas reclamam, ainda, igualdade de oportunidades para com o desporto praticado no masculino.
Certo é que a maior instituição desportiva não governamental do país, o Comité Olímpico Cabo-verdiano, é liderada por uma mulher, Filomena Fortes, membro do Comité Olímpico Internacional (COI) e que dantes ocupara as funções da Federação Cabo-verdiana de Andebol, tendo contribuído para a ascensão e promoção desta modalidade de salão no plano internacional.
A nível de futebol, modalidade outrora vista como sendo exclusiva à classe masculina, tem como algumas das suas grandes referências nomes como Silvéria Nédio, mais conhecida por Nita, Lúcia Moniz, Ivanilda Barreto, Libânia, Ceuzany, Wânia, Dry, Joyce, Jacinta, Alcione, Maya, Evy Pereira, Varsénia, de entre muitas outras internacionais que desconstruíram este mito.
Para além de Cabo Verde ter já a sua selecção feminina a competir na esfera internacional, o país já conta com um naipe de jogadoras profissionais, a representarem clubes estrangeiros de países como Portugal e Espanha.
Silvéria Nédio, actual e primeira seleccionadora de futebol feminino, granjeou a sua notoriedade ao serviço do futebol masculino, já que colecionou títulos, regionais e nacionais, com a sua escola de futebol de formação masculina, Bola Prá Frente, mas teve uma passagem assinalada como andebolista e futebolista na sua plena juventude.
Para Nita, apesar de ser notório o crescimento das raparigas no desporto, ainda não se atingiu a qualidade e quantidade esperados, alegando que ainda falta alguma coragem para as mulheres enfrentarem a família e a sociedade.
Sublinha que muitas talentosas se têm ficado pelo caminho por dificuldades organizacionais ligadas, sobretudo, a encargos familiares.
Contrariamente ao que parece, Nita é de opinião que hoje em dia, em pleno 2024, tem decrescido o número de praticantes femininas em modalidades colectivas como futebol, basquetebol e andebol, com reflexos na diminuição do número de equipas nos campeonatos regionais e nacionais.
“Precisamos mais forças das empresas e de instituições, porque muitas das jogadoras deixam de praticar o desporto de competição por falta de dispensa laboral. Isto não é legal. A mulher não pode abandonar a prática desportiva por causa do seu trabalho. Isto não acontece nos homens. Qualquer mulher cabo-verdiana, no caso, que representa a sua selecção, regional ou nacional deve ter um tratamento igualitário aos homens”, explicitou.
Opinião corroborada pela vice-presidente da Federação Cabo-verdiana de Futebol, Tatiana Carvalho, para quem a mulher cabo-verdiana consegue transmitir o seu espírito de sacrifício, vontade de luta e o querer ao serviço do desporto, de modo que consiga partilhar o trabalho com a prática desportiva, sem descurar do seu papel da mãe para ter êxitos a nível desportivo.
“Inicialmente a luta da mulher cabo-verdiana era para ter a sua aceitação para poder praticar o desporto sem restrições, mas hoje a nossa luta é para a igualdade de oportunidades. Queremos mais dirigentes, árbitros, atletas mulheres e mais competições. Isto não quererá dizer que estamos à espera de tudo de mão beijada”, referiu a responsável pelo departamento do futebol feminino.
Esta luta começou há muito, pois se recuarmos no tempo vem, indubitavelmente, nomes como de Isménia Frederico, a primeira atleta olímpica cabo-verdiana, pois esteve nas olimpíadas de Atlanta ’96 de Sydney’2000 ao destacar-se nível como velocista nacional.
Frederico, que é a presidente da Comissão dos Atletas Olímpicos de Cabo Verde, disse à Inforpress que a mulher terá de lutar para conquistar e consolidar o seu próprio espaço no desporto cabo-verdiano em termos de igualdade de direito, recordando que sempre foi assim, exemplificando que a mulher teve a sua primeira aparição nos Jogos Olímpicos em 1900, isto é, “120 anos após os homens iniciarem a competição”.
Nesta linha, frisou que actualmente existe legislação e Carta Olímpica, de modo que não haja discriminação, em termos de igualdade de direito em nada, e mostra-se entusiasmada pelo facto de Cabo Verde contar agora com a presença feminina em alta competição nas modalidades como boxe e judo.
Por isto acredita que a participação da mulher a nível internacional melhorou, mais que poderia estar muito melhor, se tivesse havido mais oportunidade, alegando que Cabo Verde tem potencialidades.
Contudo, vincou, há um “grande défice” da mulher nas escolas de iniciação desportiva, consideradas base sustentável para futuros campeões mundiais e olímpicos.
Isménia Frederico disse apesar de algumas imposições dos seus pais, não teve grande dificuldade em praticar actividades como karaté, futebol até vingar no atletismo, critica a auto discriminação em relacção aos homens, mas afirmou que a mulher, face ao seu poder organizativo, tem de trabalhar para garantir a igualdade de tratamento justos, sem qualquer preconceito.
Também nesta senda, prontifica-se as ginastas Adysangela e Wânia Monteiro, ex-atletas olímpicas na ginástica rítmica desportiva, vencedoras de inúmeras medalhas em competições internacionais um pouco por todo o mundo e dignas representante de Cabo Verde nos Jogos Olímpicos de Atenas e de Beijing.
Lizandra Varela, presidente da Federação Cabo-verdiana de Ginástica, também tem lugar nesta lista, ela que representou o país em vários campeonatos internacionais de ginástica.
Ainda no plano internacional ressalta-se, como um dos casos de sucessos, a proeza da pugilista Nancy Moreira, que lidera o ranking africano e detém o estatuto de campeã d’África, na categoria dos 66 quilogramas, o que faz dela a número dois a nível do mundo, segundo a Federação Internacional de Boxe (AIBA).
Outro caso, dos mais recentes no panorama internacional, do sucesso da mulher no desporto nacional e internacional pode-se perfeitamente ser associado a velocista deficiente invisual Heidilene Oliveira, já qualificada para Jogos Paralímpicos Paris’2024 e Mundial, e às irmãs Janice e Ludmila Varela, referências do voleibol cabo-verdiano, que estão bem encaminhadas na luta pelo apuramento aos Jogos Olímpicos Paris’2024.
A Semana com Inforpress
21 de março 2024
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