Os suecos estão a escolher viajar de comboio, em detrimento do avião: o número de passageiros nas viagens aéreas baixou 8,7 % este ano. Preocupações ecologistas ditam a nova atitude que até já tem nome e apelido: ’Flyg Skam’ (vergonha de voar), que está a mudar a aviação comercial na Suécia.
Dizem os peritos que ainda é cedo para saber se vai durar o ’fenómeno Greta Thunberg’, mas certo é que, segundo fontes governamentais e científicas, há mais suecos a escolher o comboio em vez do avião. As companhias ferroviárias aproveitam o bom momento enquanto as aéreas procuram recuperar-se mexendo para não perecer.
As viagens aéreas domésticas cairam, desde janeiro, 8,7 por cento, segundo a agência sueca dos transportes (Transportstyrelsen). A redução de passageiros nos voos para o estrangeiro, no mesmo período, embora real, é menos acentuada: é de 2,6%.
A escolha dos suecos baseia-se nos números da EAA-Agência Europeia do Ambiente que mediu o impacto dos transportes nas emissões de carbono e provou que o avião é 24 vezes mais poluente que o comboio — 2400 por cento! A pegada de carbono de um passageiro de avião é de 285 gramas por quilómetro enquanto que de comboio é de 14 gramas.
O ’fenómeno Greta Thunberg’ — a ativista adolescente pelo clima que neste momento navega mar fora (foto) entre Suécia e Estados Unidos para diminuir a pegada ecológica — está, desde o último outono europeu, presente na nossa memória como o símbolo da luta contra as alterações climáticas.
No entanto, o "Flygskam" surgiu como movimento há dois anos impulsionado pelo campeão olímpico sueco de 2010, Björn Ferry (foto). E não esqueçamos que os movimentos ecologistas suecos foram desde os anos de 1970 os mais ativos.
Desde 2017 que o biatleta e estrela sueca deixou de usar o avião para as suas frequentes deslocações pelo país e estrangeiro. O seu boicote às viagens aéreas no país europeu que mais viaja de avião inspirou um largo movimento de novos utentes do comboio de longo curso — não só turistas, mas também executivos, estrelas do show-business que para ganhar tempo viajam de noite.
Corrida a aviões mais pequenos e menos poluentes
A consciência ecológica dos clientes está a levar as companhias éreas a adaptar-se, indica a diretora comercial da BRA-Braathens Regional Airways. Em abril, a companhia regional, que controla 30% do mercado de voos domésticos na Suécia, anunciou um vasto plano de reestruturação, incluindo a substituição dos seus dez aviões reatores por turbopropulsores, que são mais pequenos e menos poluentes.
Ulrika Matsgard, da BRA, critica as políticas governamentais que estão a penalizar o setor e avança que a solução é reduzir o impacto ecológico das viagens de avião. Dá o exemplo da sua companhia onde "compensamos as emissões C02 em todos os nossos voos automaticamente, ao investirmos em parques eólicos na Índia e Turquia".
"Os nossos clientes podem optar por bilhetes na classe ambiente, que permite substituir o petróleo por biocarburante, por 300 coroas por voo", remata a representante da companhia aérea que corre para não perder o comboio dos voos mais ecológicos. Fontes: Le Monde/The Independent/EAA.org. Relacionado: Greta T. vai ao Fórum do Clima nos EUA e Chile mas só de barco à vela: zero-carbono, 15.ago.2019. LS
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