O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil Celso Amorim, apoiante de Lula da Silva, disse esta quinta-feira que as presidenciais brasileiras são fundamentais para o futuro da América Latina e criticou o presidente Jair Bolsonaro.
"Aqui [no Brasil] não é somente uma questão de direita ou de esquerda, como pode acontecer em muitos países. É uma questão entre uma visão racional, democrática e plural do mundo e uma visão que tem pouca relação com os valores civilizatórios, entre os quais o da integração", afirmou Celso Amorim, braço direito de Lula na campanha eleitoral, que falou, via videoconferência, durante o seminário internacional "Unidade na Diversidade", em Buenos Aires.
O resultado das presidenciais é “absolutamente fundamental para o futuro da região", explicou o antigo ministro das Relações Exteriores de Lula entre 2003 e 2010 e da Defesa da ex-Presidente Dilma Rousseff, entre 2011 e 2014.
"Muitas vezes foi dito que Bolsonaro e Alberto Fernández [presidente da Argentina] não se falam. Não é uma questão entre Bolsonaro e Alberto Fernández. Bolsonaro não fala com ninguém", sublinhou Amorim em relação ao distanciamento ideológico entre os líderes brasileiro e argentino, cuja união historicamente marcou o eixo da integração regional.
Para Celso Amorim, se Bolsonaro for eleito, o Brasil continuará de fora da integração regional e, sem este país que representa metade da região em termos territoriais e económicos, a região perde voz perante os desafios mundiais.
"Temos de trabalhar por essa integração, importante para que a nossa voz seja escutada no plano global. A América Latina e as Caraíbas, com a sua tradição de paz, podem aprofundar a necessidade de uma nova governança global, mas para que a voz da América Latina e das Caraíbas seja escutada, é necessário que estejamos juntos", indicou.
O braço direito de Lula na corrida eleitoral e protagonista na campanha internacional pela liberdade do ex-Presidente acredita que os desafios para a integração da América Latina vão passar pelo papel que possa ter para a sobrevivência da humanidade em relação a três ameaças: alterações climáticas, pandemias e desigualdade social.
"Temos de pensar numa integração que seja propícia para a sobrevivência da humanidade. Estamos perante uma ameaça real à sobrevivência humana não apenas pelo clima, pela pandemia ou pela desigualdade, mas também pela guerra. É a primeira vez, desde 1945, que a guerra sai da periferia ao centro do sistema. E isso é uma ameaça real porque há uma ameaça de utilização de armas nucleares", alertou.
O ex-governante observa que, apesar do risco nuclear, a Europa não tem dado urgência à procura da paz.
"Claro que imputam essa responsabilidade aos russos, mas isso pouco importa. Venha de onde vier, isso representa um grande perigo. Não estou seguro que se vamos conseguir evitar (o uso de armas nucleares). O que sinto dos nossos amigos europeus, cujo papel é fundamental para um mundo multipolar, é uma falta de urgência em relação à paz", apontou.
"Espero que a América Latina e as Caraíbas, com a sua vocação de paz, possam contribuir para que o mundo encontre uma rota de paz e de cooperação. Eu sinto a falta de urgência na procura pela paz", insistiu.
O seminário que reúne líderes da região debate a integração da América Latina e das Caraíbas é promovido pela Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC), atualmente presidido pela Argentina, e pela Corporação Andina de Fomento (CAF), um banco de desenvolvimento regional.
Participam, entre outros, líderes identificados com a esquerda regional como o Presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, e os ex-Presidentes de Uruguai, José Mujica, da Colômbia, Ernesto Samper, e de Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero.
A Semana com Lusa
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