Presidente cessante não recua na decisão de demitir o Governo de Aristides Gomes e convocou o Conselho Superior de Defesa. Isto apesar da comunidade internacional aumentar pressão e ameaçar com sanções. É, segundo analistas locais, a demonstração da postura ditatorial de JOMAV, que é o principal responsável, com a cumplicidade de Madem-G15, PRS e APU-PDGB, da instabilidade política que se vive na Guiné-Bissau. É de louvar a postura dos militares, que até esta, têm estado equidistantes dos conflitos políticos.
Segundo a DW-África, a convocação da reunião do Conselho Superior de Defesa, órgão deliberativo sobre as questões da defesa e segurança na Guiné-Bissau, acontece numa altura em que a comunidade internacional aperta o cerco a José Mário Vaz.
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) voltou a manifestar o seu apoio ao Governo liderado por Aristides Gomes, considerando ilegal o decreto do Presidente José Mário Vaz, que destituiu o Executivo.
"O caráter ilegal do decreto que demitiu o Governo, que coincidiu com o fim do mandato presidencial do Presidente da República, viola as decisões saídas da cimeira dos chefes de Estado da CEDEAO, a 29 de junho de 2019", referiu o presidente da Comissão da organização, Jean Claude Kassi-Brou.
Segundo a mesma fonte, a CEDEAO ameaçou aplicar sanções individuais contra todos os que obstaculizarem o processo eleitoral - JOMAV e dirigentes dos seus partidos aliados referidos.
Mas, no fim-de-semana, num comício popular no setor de Pitche, no leste da Guiné-Bissau, o Presidente cessante e candidato às eleições presidenciais de 24 de novembro reafirmou que o seu decreto não vai cair no chão para ser pisado.
José Mário Vaz acusou a CEDEAO de ingerência nos assuntos internos do país: "Eles tomam decisões nos seus países, mas quando é que nos pediram opinião sobre as mesmas? Vou chegar a Bissau e convocar a reunião do Conselho Nacional da Defesa. Depois vou ver quem me ousa desafiar", disse perante a ovação dos seus apoiantes.
Aristides Gomes continua no gabinete
Enquanto isso, o primeiro-ministro demitido por José Mário Vaz continua em funções. Aristides Gomes assegura que o Governo vai continuar a trabalhar e elogia a postura demonstrada, até aqui, pelos militares: "Sei que os militares têm estado a respeitar a linha que lhes é traçada no âmbito da Constituição. Portanto, eu posso felicitar os militares pelo facto de terem mantido até aqui a distância necessária e de não terem feito uma erupção na vida política no nosso país", disse.
Os partidos que apoiam José Mário Vaz, o Movimento para a Alternância Democrática (MADEM-G15), o Partido da Renovação Social (PRS) e a Assembleia do Povo Unido-Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB) responsabilizam, em comunicado, a CEDEAO pelas consequências da sua mediação, caraterizada pela "falta de objetividade, parcialidade e desrespeito ao chefe de Estado e demais atores políticos."
Presidente "só tem que cumprir"
O Conselho de Segurança das Nações Unidas mostrou-se, esta segunda-feira (04.11), preocupado com situação social política e social na Guiné-Bissau e apelou "ao Presidente José Mário Vaz e ao Governo liderado por Aristides Gomes, encarregado de conduzir o processo eleitoral, a resolver as suas diferenças num espírito de respeito e cooperação." Frisou ainda a necessidade de realizar as eleições presidenciais na data prevista, 24 de novembro.
Segundo o analista político Rui Landim, o chefe de Estado guineense "só tem que cumprir e acatar aquilo que é a decisão da comunidade internacional".
"A ordem jurídica nacional está ligada à ordem jurídica internacional", lembra Landim em entrevista à DW África.
Campanha eleitoral já nas ruas
Entretanto, a campanha eleitoral para as eleições presidenciais entrou, esta segunda-feira, no seu terceiro dia e alguns dos candidatos desdobram-se em contactos com o eleitorado.
Carlos Gomes Júnior, candidato independente, criticou o partido que chegou a dirigir durante doze anos, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), acusando-o, e ao seu candidato, de estarem a fazer uma campanha de luxo, enquanto o povo sofre.
"Podem trazer helicópteros, Boeing, mas vou ganhar. O PAIGC está a ostentar bens e viaturas de luxo, numa altura em que o povo sofre", disse Carlos Gomes Júnior.
Por sua vez, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, fala em devolver oportunidades aos guineenses, sem responder a "provocações".
"Não vamos acompanhar aqueles que nos provocam. O nosso mandato é devolver oportunidades a todos os cidadãos guineenses, para sentirem que aqui é a sua terra", afirmou Simões Pereira.
Nuno Gomes Nabiam, apoiado pela Assembleia do Povo Unido-Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB) e pelo Partido da Renovação Social (PRS), esteve esta segunda-feira em Bissorã, no norte, uma localidade que assume como o seu bastião, conclui a DW-África.
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