4 de novembro de 1989: um milhão de pessoas enchem a Alexanderplatz, a praça imperial do Berlim a leste — separada da outra metade da cidade pelo Muro. A manifestação organizada por um grupo de 20 artistas, atores, escritores e académicos tinha sido autorizada pela Stasi, surpreendentemente.
A manifestação começara a ser organizada um mês antes, quando um grupo de atores do Deutsches Theater, na capital, decidiram que a sua celebração do quadragésimo aniversário da RDA-República Democrática Alemã, a 7 de outubro, seria para reivindicar liberdade de expressão no Estado sob a ditadura comunista.
O astuto pedido de autorização — deferido, o que levou o chefe da Stasi, a polícia secreta, a dispor tropas ao longo do Muro para evitar "ataques na fronteira" — referia que o grupo de 20 artistas, atores, escritores, académicos e até um teólogo pretendia discutir com a nação o "contexto da constituição da RDA".
As imagens da manifestação eram impressionantes e correram mundo. Um milhão de pessoas — entre as quais havia grupos a ostentar slogans "perigosos" que podiam fazer temer pela segurança do evento (foto) — enchiam a Alexanderplatz para ouvir um grupo de vinte que se encontrava num palco improvisado em cima de um camião.
"É como se alguém tivesse aberto as janelas ao fim de anos de estagnação, imobilizmo e opressão, de fala censurada e despotismo burocrático", disse no seu discurso o romancista Stefan Heym.
Durante três horas, sucederam-se os discursos na praça imperial do Berlim a leste — separada da outra metade da cidade pelo Muro. Os primeiros a discursar foram os vinte inicialmente inscritos, na sua maior parte os organizadores.
Mas membros do partido do governo, a SED-Partido da Unidade Socialista, também queriam falar. A multidão quis impedir, com apupos.
O líder da SED, Gunter Schabowski, proferiu as primeiras palavras: "O que motiva um comunista neste momento diante de centenas de milhares?"
Os apupos tinham acabado quando Schabowski deu a resposta: "Só quem ouve e entende os avisos é capaz de um novo começo".
Cinco dias depois, o governo — decerto a fazer eco do novo começo — autorizou a saída de todos quantos quisessem deixar o país.
(Continua)
Fontes: Arquivos
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