A França voltou a repetir esta semana, em Tóquio, o seu interesse na fusão Renault -Nissan enquanto o Japão faz arrastar o processo que integra a "atípica aliança" Renault-Nissan-Mitsubishi. A fusão das três marcas automobilísticas, idealizada pelo franco-líbano-brasileiro Carlos Ghosn, poderá estar por trás da detenção deste, acionada pela japonesa Nissan ao seu até então ’imperador’ que salvara a marca da falência.
Analistas económicos sugerem que a delegação governamental integrando o diretor-geral da marca francesa escolhido pelo governo, Martin Vial, enviada a Tóquio, no mês seguinte ao encontro em Paris entre Macron e Shinzo Abe, visa exercer pressão para que o governo japonês aceite a fusão entre a Renault SA e a Nissan Motor Co, ambas com participação dos respetivos Estados, mas em que a marca francesa está em clara vantagem.
A desigual participação, em que a Renault SA detém 43% da Nissan Motor Co enquanto esta apenas detém 15% da Renault, é, segundo analistas económicos da Bloomberg, um foco de tensão entre os dois Estados. E a situação prisional de Ghosn, como os media têm divulgado desde novembro, reforça as denúncias de conspiração entre a poderosa indústria japonesa e o sistema judicial do país.
A saga judiciária de Ghosn, como descrita nos media que citam analistas económicos e de outras áreas e de diversas procedências, põe em xeque o sistema judicial nipónico, que, em nome da tradição cultural, faz tábua-rasa dos procedimentos "corretos" defendidos na justiça ocidental.
Carlos Ghosn, notável empresário nascido no Brasil em 1954, "presidente da aliança" das três marcas acima referidas até as duas marcas japonesas o demitirem, quatro dias depois de ser detido. Desde essa detenção, no dia 19 de novembro e confirmada pelo tribunal a 22, o trinacional Ghosn viu recusados todos os seus pedidos de saída da prisão, em Tóquio.
Sem apelo, sem direito a receber os diplomatas do Brasil, França e Líbano, Ghosn é "prisioneiro do sistema de justiça japonês", que "o mantém sujeito aos caprichos da acusação", em "condições draconianas de detenção e interrogatório", "que degradam os seus direitos humanos", como a esposa Carole Ghosn denunciou, em carta de nove páginas, apelando ao HRW-Observatório de Direitos Humanos, datada de 28 último.
A esposa de Ghosn obteve já o apoio da HRW-Observatório de Direitos Humanos: em 10 último, um artigo de opinião assinado por Brad Adams, que dirige a delegação Ásia Pacífico da ONG, a pedir justiça.
O articulista denuncia "o sistema japonês de justiça que mantém reféns os acusados, permite deter suspeitos por longos períodos em condições duras para extrair-lhes confissões" e exorta o Japão "a modernizar o seu sistema de justiça penal, se quiser viver de acordo com a sua reputação de democracia das mais avançadas do mundo".
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