sábado, 27 dezembro 2025

Democracia em África: Manual de Utilização, com novo Capitulo: Edição Especial “Auto-Golpe de Estado”-Artigo satírico.

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Recordemos que esse especialista prolífico já nos tinha brindado com uma proposta brilhante: a criação de uma força sub-regional anti-golpe de Estado, um projeto que nunca chegou a ver a luz do dia. E, talvez, felizmente... É difícil imaginar, na situação atual, como essa força poderia distinguir o golpista da sua própria vítima, especialmente quando ambos os papéis parecem estar na mesma pessoa. Uma espécie de golpe de Estado a portas fechadas, com um elenco reduzido, mas uma confusão máxima.

Por Alexandre Fontes


É preciso reconhecer ao nosso continente uma qualidade que nunca lhe é retirada: a sua capacidade inesgotável de inovar, especialmente onde ninguém a espera. A cada crise, pensamos já ter visto o pior, o melhor ou pelo menos o mais improvável. E, no entanto, o nosso continente encontra sempre uma forma de alargar o campo do possível, nomeadamente neste domínio muito particular que é a criatividade em matéria de governação.

Após os últimos episódios vindos de um país irmão e que deveria seriamente considerar patentear a sua instabilidade política, dada a frequência com que inova a cada ano, sentimo-nos moralmente obrigados a publicar uma nova edição do nosso célebre manual:«Democracia em África: Manual de Instruções». Desta vez, um capítulo completamente novoimpôs-se a nós: O Auto-Golpe ou Como Derrubar um Poder… do qual se é o próprio detentor.


Um conceito tão audacioso quanto desconcertante, digno das maiores escolas de improvisação política. Sem invejar os outros continentes, a África nunca careceu de criatividade em termos de governação, mas aqui atingimos um nível de inovação institucional que nem os autores de ficção científica ousariam imaginar. Assim, aguardamos com um interesse quase antropológico as novas páginas que nos entregará o seu ilustre Autor, sempre pronto a se destacar nos terrenos traiçoeiros da política regional e já contribuidor eminente do manual — para enriquecer este capítulo inédito.


Recordemos que esse especialista prolífico já nos tinha brindado com uma proposta brilhante: a criação de uma força sub-regional anti-golpe de Estado, um projeto que nunca chegou a ver a luz do dia. E, talvez, felizmente... É difícil imaginar, na situação atual, como essa força poderia distinguir o golpista da sua
própria vítima, especialmente quando ambos os papéis parecem estar na mesma pessoa. Uma espécie de golpe de Estado a portas fechadas, com um elenco reduzido, mas uma confusão máxima.


Um Continente transformado em teatro permanente

 

O que impressiona, na demonstração política que se desenrola perante os nossos olhos, é a capacidade de certos líderes de transformar o Estado num palco de teatro, a Constituição num adereço e os cidadãos em público cativo de uma peça cujo título não escolheram. A tragédia política africana parece ter sido confiada a um grupo de atores que confundem improvisação com irresponsabilidade, ensaio geral com exercício do poder. E, como em qualquer peça de teatro mal conseguida, nunca são os atores que pagam o preço, mas os espetadores.


Espetadores exaustos, cansados de assistir a uma representação interminável, onde a intriga dá voltas em círculos, onde os personagens mudam, mas o caos continua fiel ao seu posto. Nós, pobres espectadores atónitos, continuamos a assistir a cada nova página deste grande teatro político africano. Um teatro povoado por actores improvisados, muitas vezes convencidos de serem visionários quando mal conseguem gerir uma reunião de condomínio.

O pior é que estes artistas, apesar deles próprios, não se limitam a divertir-nos: arrastam para as suas performances trágico-cómicas milhões de cidadãos desprovidos, que nada pediram além de um mínimo de estabilidade e bom senso.

Perante esta criatividade institucional transbordante, ocorre-nos uma ideia: por que não propor aos dirigentes africanos um programa inspirado no Africa’s Got Talent, intitulado “Africa’s Got Governments”? Poderiam apresentar-se livremente, expor as suas teorias fantasiosas sobre democracia, soberania e desenvolvimento, realizar as suas acrobacias e tentar os seus truques de magia constitucional… Pelo menos, teria o mérito de ser divertido, e
acima de tudo de poupar as suas populações e não atrasar ainda mais os seus países.

 

Em forma de conclusão


O nosso continente continua a inventar, a reinventar e a experimentar modelos políticos que nem Aristóteles, nem Montesquieu, nem mesmo a Netflix aceitariam.


Mas tranquilizemo-nos, enquanto alguns dirigentes continuarem a confundir poder com espetáculo, governação com solo de bateria, instituições com adereços cénicos, pais com quintal, o nosso manual “Democracia em África: Manual de Instruções” nunca terá uma última edição. Desejemos apenas que, pela primeira vez, a próxima atualização não seja escrita na pressa…ou no caos.

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Opiniões e Feedback

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1 month 8 days

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1 month 12 days

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