O ex-embaixador norte-americano em Lisboa, Robert Sherman, considera que os vastos problemas de Donald Trump com a justiça não o inibem de influenciar o Congresso, fazendo dele um “unicórnio” capaz de bloquear o acordo migratório e o apoio à Ucrânia.
O número histórico de migrantes que chegam à fronteira dos Estados Unidos com o México tornou-se num tema central da pré-campanha para as eleições presidenciais que se disputam em novembro, ao que tudo indica numa repetição do duelo de 2020 entre o atual presidente, o democrata Joe Biden, e o seu antecessor, o republicano Donald Trump.
“É óbvio que a imigração se tornou numa questão importante para ambos os partidos”, disse à Lusa Robert Sherman, que esteve em Lisboa na semana passada para um debate promovido pelo American Club sobre as presidenciais norte-americanas.
A importância do tema tornou-se ainda mais evidente quando já não são apenas os estados do sul do país a serem afetados pela pressão migratória, mas também “estados como Vermont e New Hampshire e outros estados do norte”, segundo o antigo embaixador, um advogado de Boston e financiador das campanhas do ex-presidente democrata Barack Obama, que liderou a representação diplomática dos EUA em Portugal entre 2004 e 2017.
Sherman afirma que existe “um desejo bipartidário de resolver o problema da imigração”, mas ao ser associado no Congresso ao financiamento do apoio à Ucrânia e a Israel, fica refém de “um pequeno grupo” de representantes republicanos, que segue “os ditames de Donald Trump” na oposição a um entendimento global.
O ex-presidente norte-americano e favorito à nomeação para as eleições presidenciais pelo Partido Republicano, Donald Trump, opôs-se há uma semana a um acordo sobre imigração, do qual depende a ajuda militar à Ucrânia e a Israel.
"Um mau acordo para a fronteira é muito pior do que nenhum acordo!", afirmou Trump na Truth Social, rede social de que é proprietário.
A oposição de Trump, vencedor claro das duas primeiras eleições primárias republicanas realizadas este ano (Iowa e New Hampshire), foi assumida um dia depois de o líder da maioria do partido na Câmara dos Representantes, Mike Johnson, ter afirmado que qualquer votação sobre novo financiamento à Ucrânia, bem como sobre política de migração, está condenada ao insucesso, tornando-se “morto à chegada” à sua mesa.
O atual presidente norte-americano tem pedido um aumento orçamental de cerca de 100 mil milhões de dólares (cerca de 90 mil milhões de euros) para responder a necessidades prementes, incluindo a ajuda à Ucrânia, que tem nos Estados Unidos o principal fornecedor de equipamento militar na sua resistência à invasão russa iniciada em fevereiro de 2022.
Robert Sherman adverte que “nunca se resolve nada com um partido a impor a sua vontade ao outro” e que Joe Biden “reconhece que há um compromisso que precisa de ser feito também da sua parte”, mantendo a disposição de “ir bastante longe em troca da reforma da imigração e dos importantes interesses dos Estados Unidos de financiar a Ucrânia, em particular”.
Nessa medida e atendendo ao contexto eleitoral, “será interessante” ver se o Congresso consegue chegar a um acordo, porque a lei em preparação “é a resposta certa para este problema e tornar a segurança das fronteiras mais forte no presente e no futuro”.
Qualquer outro "estaria acabado como candidato" eleitoral
A capacidade de Trump exercer influência sobre o Congresso desafia, segundo Sherman, as leis da natureza e da política, quando não tem ainda confirmada a nomeação dos republicanos para as presidenciais e enfrenta uma vasta gama de processos judiciais, incluindo conspiração no seguimento das eleições que perdeu em 2020.
“Se há coisa que podemos dizer sobre o presidente Trump é que é um unicórnio. Com isso quero dizer que as leis da natureza e as leis da política que se aplicam a toda a gente não parecem aplicar-se a ele”, comenta.
Qualquer pessoa que fosse acusada do nível de crimes de que ele foi acusado e pelo qual foi indiciado “estaria acabado como candidato”, observa o antigo embaixador, mas, pelo contrário, “Trump parece estar a ficar mais forte e há um reconhecimento no Partido Republicano desse facto”.
Este quadro conduz, na sua análise, a que muitos republicanos se coloquem ao lado do antigo presidente norte-americano porque não há outra opção no caminho para a Casa Branca: “Ou o apoiam ou não têm mais nenhum sítio para onde ir no Partido Republicano”.
Com as sondagens a dar preferência ao antigo presidente dos Estados Unidos, Biden pode esperar “uma eleição muito renhida, porque os Estados Unidos são um país amargamente dividido”, e também devido às características do sistema eleitoral norte-americano, que fazem depender a escolha presidencial “não do voto popular, que Biden vai ganhar”, mas de um colégio de grandes eleitores indicados por cada estado em função do escrutínio.
Biden pediu aos parlamentares conservadores para não bloquearem o projeto já negociado, assegurando que se fosse adotado seria "o conjunto de reformas mais profundas e mais justas” que o país já teve para “garantir a segurança da fronteira".
A legislação daria ao presidente "uma nova autoridade de emergência para fechar a fronteira quando ela estiver sobrecarregada", acrescentou Joe Biden, garantindo que “usaria esse poder no mesmo dia em que a lei entrasse em vigor".
A Semana com CNN
04 Fevereiro 2024
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