Mais de 120 escolas de quatro distritos da província de Manica, centro de Moçambique, foram declaradas “livres” de violência pela ONG Save the Children, tendo os 166 mil alunos abrangidos desde 2019 passado a ter aulas em locais “agradáveis”.
Fonte daquela Organização Não-Governamental (ONG) explicou hoje à Lusa que o projeto, que decorreu até 2023, visava ainda travar a “marginalização da rapariga e da pessoa com deficiência”, que “continuam a ser um desafio nas zonas rurais”, tornando a “escola livre de violência”.
O “pilar central da teoria de mudança”, defendeu a ONG, foi “o estabelecimento de parcerias como meio de colaborar com os vários parceiros” no terreno, incluindo as autoridades, “para partilhar conhecimentos, influenciar os outros e construir a capacidade para assegurar que os Direitos da Crianças sejam cumpridos”.
Hoje assinala-se precisamente o Dia Internacional da Não Violência e da Paz, nas escolas, daí a pertinência do projeto realizado pela Save the Children nos últimos anos nos distritos de Machaze, Manica, Macossa, e Tambara.
O projeto passou pela “capacitação” de professores e grupos comunitários “em disciplina positiva e alternativas aos castigos corporais”, para “abandonarem o uso de métodos pouco convencionais no ensino”, tornando as escolas “em lugares agradáveis para os alunos e reduzir a taxa de desistências devido a maus-tratos”.
O projeto “Leaving No Child Behind” - Não deixar nenhuma criança para trás -, abrangeu 115 escolas primárias e sete escolas secundárias de Manica, alcançando 166.811 crianças, “dentro e fora” das escolas, incluindo 1.238 portadoras de deficiência, e 10.716 adultos, entre professores, membros dos Comités Comunitários de Proteção da Criança, Conselhos Escolares, Comités Escolares de Emergência Básica e de plataformas da sociedade civil.
Visou essencialmente a “educação primária” no ambiente escolar, criando “um ambiente amigável, inclusivo, seguro e propício a melhores resultados de aprendizagem para as crianças”, nomeadamente de “comunidades desfavorecidas e marginalizadas, incluindo as crianças que vivem com deficiência e que não frequentam a escola”.
“Os resultados revelaram que a percentagem de crianças que permanecem nas 115 escolas primárias apoiadas pelo projeto aumentou em 7%, ou seja, de 90% para 97%”, detalhou, acrescentando que os resultados “evidenciam que 96% de raparigas e mães jovens retornaram à escola depois de abandonar devido a gravidez precoce e uniões prematuras, contra 20% na linha de base”.
“Estes resultados foram possíveis de alcançar com as intervenções baseadas na implementação do currículo ‘Nós e o Nosso Primeiro Bebé’ complementada com as visitas domiciliárias realizadas pelas parteiras tradicionais”, explicou a fonte, sublinhando a articulação alcançada com as escolas.
Também “aumentou o acesso e a permanência das crianças na escola” e cresceu o número de alunos matriculados, de 75.881 para 95.788, enquanto os novos ingressos aumentaram 26,2%, equivalente a 19.907 crianças que entraram pela primeira vez naquelas escolas. Houve igualmente incremento de crianças com deficiência, de 1.172 para 2.770.
“Melhorou a qualidade da aprendizagem das crianças. Os resultados mostram um aumento de 9% para 23% na compreensão e interpretação de textos, quase o mesmo nível de proficiência em numeracia, que ficou nos 24%”, destacou.
A percentagem de assiduidade dos professores nestas escolas passou de 67% para 86%, através de “esforços adicionais” para “reduzir o absentismo”, com formação de gestores de escolas sobre gestão escolar, transparência e responsabilidade, entre outros, como a realização de campanhas "devolver as escolas às comunidades".
“Possibilitaram maior engajamento da comunidade na monitoria da assiduidade dos professores e, como resultado, a assiduidade dos professores aumentou em 19%”, afirmou a ONG.
Com o apoio de quatro organizações locais, os “esforços” de formação foram “desenvolvidos numa perspetiva integrada e tendo como foco principal a educação básica”, definindo a escola como “centro de aprendizagem, onde todas as intervenções temáticas se cruzaram para garantir que as crianças aprendam e estejam seguras, participem e desenvolvam num ambiente de qualidade e seguro dentro e fora da escola”.
“Pela primeira vez, os alunos surdos terminaram o ensino básico com a capacidade de ler com os olhos e falar com as mãos. Esta aprendizagem abriu-lhes oportunidades de participação e competência em feiras de leitura promovidas pela escola e pela comunidade”, sublinhou a Save the Children.
A Semana com Lusa
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