quarta-feira, 05 fevereiro 2025

Emigração cabo-verdiana tem impacto no país e exige gestão cuidada com Portugal - sociólogos

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Dois sociólogos cabo-verdianos ouvidos pela Lusa consideraram um risco para o arquipélago haver cada vez mais pessoas a pensar em emigrar, segundo o mais recente inquérito dedicado ao tema, apelando a uma gestão cuidada com Portugal.

 

Temos um bónus demográfico agora”, com 50% a 60% da população abaixo dos 34 anos, mas, “nos últimos cinco anos, talvez 40 mil pessoas tenham saído do país” e, “se isto não for gerido estrategicamente, temos categorias profissionais que hoje já estão a escassear no mercado”, advertiu.

 

 

Em dezembro, um estudo da Afrosondagem indicou que 64% dos cabo-verdianos (dois em cada três) já consideraram emigrar, mais sete pontos percentuais que no último inquérito, sete anos antes.

 

A procura de emprego é o principal motivo para os cabo-verdianos ponderarem outras paragens, sendo Portugal um dos destinos mais procurados.

 

Os dois países voltam a ter um ponto alto de encontro de agendas na cimeira bilateral que vai juntar os dois governos, em Lisboa, terça-feira.

 

“Um ex-político disse-me uma vez que o problema não é as pessoas irem, é quem vai: é que os talentos estão a ir, porque não têm oportunidades cá dentro”, disse o sociólogo Redy Lima, ao detalhar o que classifica como fuga para o exterior.

 

Além dos jovens, o desejo engloba também maiores de 35 anos e 75% dos trabalhadores a tempo inteiro inquiridos, apontou o sociólogo.Não são só jovens e isto quer dizer alguma coisa. Há um conjunto de situações que faz com que as pessoas não queiram ficar, já não acreditem neste país”, referiu.

 

“Isto é gravíssimo e é preciso relacioná-lo com a desconfiança nas instituições e o empobrecimento da população”, acrescentou o investigador, autor de trabalhos junto de comunidades urbanas de Cabo Verde.

 

A saúde, a educação, a segurança e a justiça compõem o exercício da cidadania, mas muitos cabo-verdianos só lhes conseguem aceder plenamente quando emigram, complementou Nardi Sousa, sociólogo com estudos na área das migrações internacionais.

 

Promover “a cidadania e justiça social para quem está a perder confiança é urgente, porque não nos podemos dar ao luxo de perder essa população juvenil, criativa e dinâmica que em muitos países são altamente apreciados”, acrescentou.

 

Nesta fase, é grave para Cabo Verde” se as perspetivas de emigração continuarem a crescer além daquilo que, por tradição, sempre fez parte da identidade do país, com uma forte diáspora.

 

Apesar de haver a liberdade de emigrar, a taxa de natalidade está a baixar”, disse Nardi Sousa.

 

Temos um bónus demográfico agora”, com 50% a 60% da população abaixo dos 34 anos, mas, “nos últimos cinco anos, talvez 40 mil pessoas tenham saído do país” e, “se isto não for gerido estrategicamente, temos categorias profissionais que hoje já estão a escassear no mercado”, advertiu.

 

As consequências podem estender-se no longo prazo, mas, “tanto do lado de Portugal”, um dos principais destinos da emigração do arquipélago, “como de Cabo Verde, o assunto pode ser bem gerido”.

 

Ambos tornaram-se “países de cooperação muito forte. Portugal é dos maiores parceiros bilaterais de Cabo Verde” e o planeamento tem feito parte da agenda, por exemplo, ao nível da formação profissional prévia à deslocação para território português, acrescentou.

 

“Portugal mostrou que abriu a porta um pouco aos cabo-verdianos. A questão é que não podemos deixar todos os jovens saírem, porque precisamos de jovens, de aumentar a competitividade, aumentar o Produto Interno Bruto (PIB), e sem eles fica difícil”, apontou.

 

Emigrar é verbo enraizado na identidade crioula e, por outro lado, as fronteiras estão hoje mais abertas e há mais acordos de circulação.

 

Há 10, 15 anos, as pessoas estudavam lá fora e muitos regressavam para Cabo Verde, mas hoje estão a dizer ‘não vou’. O discurso mudou e não levar isto a sério é muito perigoso”, apontou Redy Lima.

 

As dinâmicas estão à vista, reforçou Nardi Sousa, referindo o exemplo de “empresas a cogitar ir buscar trabalhadores à Guiné-Bissau ou outros países do continente, o que é positivo, porque um país sem consumo, sem mão-de-obra, morre”.

 

“Há interesse de todos os países do mundo em gerir os seus fluxos migratórios. É preciso gerir questões ideológicas, ter políticos coerentes e fazer uma gestão cuidada, senão, é um falhanço para todos e os jovens não vão esperar: se houver uma porta aberta, vão-se embora”, acrescentou.

 

O Governo cabo-verdiano tem apontado que o arquipélago não pode fechar portas a um mercado laboral aberto a nível global e tem apostado em acordos com parceiros, por exemplo, ao nível da formação profissional, promovendo a qualificação de quem sai do país.

 

Nardi Sousa reconheceu que “há um retorno” por via das remessas financeiras que os emigrantes enviam para o arquipélago e que constituem um dos pilares da economia, mas “um país não pode viver só de remessas, tem de materializar a cidadania e a realização das pessoas, na sua terra”.

A Semana com Lusa

 

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Colunistas

Opiniões e Feedback

Elisa Bettencourt
5 days 14 hours

uma jovem que não tinha necessidade de frete politico, mas pronto é essa a geração que só sabe andar de boleia de camelo

Lucas Rincon
7 days 10 hours

Há muito tempo que os técnicos recomendaram "vestir" esses troços perigosos com redes metálicas.

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