O economista cabo-verdiano António Baptista disse esta quarta-feira à Lusa que o Estado devia apostar em estratégias de marketing para promover as ilhas que não recuperaram o movimento turístico pré-pandemia, como mostram dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
António Baptista disse que, “se tivesse de sacrificar” alguma parte da estatal Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV), “seria o [ramo] internacional”, para melhorar os voos domésticos.É uma posição semelhante à defendida pelo FMI, apesar de o analista considerar que o assunto “é delicado” e o fundo não reflete os benefícios que as ligações à diáspora têm para a economia.
“Se fosse um problema estrutural, afetaria todas as ilhas da mesma forma”, mas, no cenário atual, nota-se que há ilhas em desvantagem, pelo que “é o Governo que tem de implementar estratégias de marketing”, referiu à Lusa, numa análise ao último relatório do FMI dedicado ao país.
Só as ilhas do Sal e da Boa Vista, que concentram as cadeias hoteleiras internacionais, superaram o fluxo turístico de 2019, enquanto as restantes continuam abaixo dos números de visitantes registados antes de a covid-19 irromper, de acordo com os valores apurados pelo FMI.
A “necessidade de políticas públicas” justifica-se, porque “cada ilha tem um produto diferente, mas os turistas não os conhecem”, disse o economista.
A imagem internacional de Cabo Verde continua assente no turismo de sol e praia, promovido pelos grandes grupos hoteleiros e agências, sendo que, nas outras ilhas, a promoção “tem de ser papel do Estado”, com investimento em infraestruturas e transportes, referiu.
António Baptista disse que, “se tivesse de sacrificar” alguma parte da estatal Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV), “seria o [ramo] internacional”, para melhorar os voos domésticos.
É uma posição semelhante à defendida pelo FMI, apesar de o analista considerar que o assunto “é delicado” e o fundo não reflete os benefícios que as ligações à diáspora têm para a economia.
“É lógico que [o negócio da TACV] tem de ser equacionado muito melhor, mas acho a visão do FMI muito míope”, porque reduzir o assunto apenas ao balanço contabilístico “é errado”, indicou.
“A TACV é uma empresa pública com implicações muito maiores” e é preciso ter em conta “os ganhos que o país tem quando a emigração visita as ilhas e dinamiza a economia” – ou seja, o Estado pode ter uma despesa maior, por um lado, mas compensa de outras formas, disse, questionando a avaliação que o FMI faz às empresas públicas, de uma forma geral.
António Baptista disse que o tema requer equilíbrio entre uma e outra posição.
Por exemplo, a chegada ao arquipélago de companhias aéreas de baixo custo pode limitar a capacidade de a TACV continuar a apresentar preços concorrenciais, e, nesse caso, “até quando [o Estado] vai segurar essa noiva?”, perguntou.
“A sua sobrevivência deve ser apoiada pelo Estado, mas a que custo? Tem de haver bom senso”, acrescentou.
“O Governo vai ser confrontado com isso: temos uma dívida enorme, os juros ocupam parte significativa do Orçamento do Estado e infelizmente temos de nos reajustar à nossa realidade”, no que respeita ao crescimento económico, concluiu.
O turismo é o motor do crescimento da economia cabo-verdiana, com receitas projetadas para 2024 acima de 500 milhões de euros, representando mais de 70% das exportações, segundo o mesmo relatório do FMI, publicado há duas semanas.
O primeiro-ministro do arquipélago, Ulisses Correia e Silva, disse no final de janeiro, na cimeira Portugal - Cabo Verde, em Lisboa, que o setor do turismo "está longe de estar saturado", considerando que é preciso diversificá-lo para além da tradicional oferta de “sol e praia” e apostar nas diferentes ilhas.
A Semana com Lusa
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