O biólogo cabo-verdiano Tommy Melo tornou-se na primeira pessoa a nadar entre duas ilhas do arquipélago, disse esta segunda-feira, em entrevista à Lusa, depois de completar a travessia entre as ilhas de Santa Luzia e São Vicente, no domingo.
A ideia nasceu quando Tommy, com 12 anos, fez a mesma travessia num barco artesanal: "Desde essa altura pensei que um dia gostaria de vencer esse medo e fazer aquilo a nado", contou à Lusa o biólogo marinho e cofundador da associação Biosfera.
Três décadas depois, o medo, que era também um sonho, foi superado e, tanto quanto explicou, passou a ser "o primeiro cabo-verdiano" a conseguir ligar a nado duas ilhas do arquipélago, um feito alcançado sem barbatanas.
O próprio Presidente da República, José Maria Neves, já o felicitou no Facebook: “Parabéns, Tommy Melo pela ousadia e empreendimento. És o primeiro, deste o exemplo”.
Apesar de não ser nadador profissional e com apenas um mês de treino nas águas da ilha de São Vicente, onde nasceu, Tommy enfrentou o desafio motivado por um propósito pessoal de se "fundir" com o oceano, que disse “amar”.
A travessia de quase nove quilómetros durou cinco horas e implicou dificuldades.
O canal entre Santa Luzia (a única ilha desabitada do arquipélago) e São Vicente é conhecido pelas fortes correntes, que podem atingir velocidades de 2,5 nós (4,6 quilómetros por hora).
"Houve alguns momentos em que a corrente estava muito forte, em que eu comecei a perder um bocado de energia e a desmotivar-me", revelou.
Houve também uma surpresa inesperada: um tubarão acompanhou Tommy durante parte do percurso, embora ele só o tenha percebido após completar o feito.
"A minha equipa de apoio disse que viram um tubarão, muito grande, atrás de mim, durante algum tempo. Tentaram assustá-lo com um motor, mas eu nem me apercebi. Estava focado na natação", apesar de ter a noção de que "ia ter algum encontro, no meio do caminho".
Sem barbatanas, sem tocar em embarcações e confiando apenas na força dos braços, Tommy concluiu o desafio, acompanhado por uma equipa de apoio e um técnico do Instituto do Mar (IMAR), que garantiu o cumprimento das regras.
"Eu cruzei um dos canais com maior corrente de Cabo Verde, sem preparação, sem ser um nadador e com 44 anos. Portanto, os jovens que andam a treinar quase todos os dias para fazer estas provas têm uma natação muito melhor que a minha", apontou, esperando que este feito "inspire outros cabo-verdianos a quebrarem barreiras".
A sua ligação ao oceano vai além do desporto. Como cofundador da Biosfera, que atua na conservação marinha, vê no mar um património a ser protegido.
"O oceano sempre foi visto como um elo de ligação entre Cabo Verde e o mundo. Qualquer atividade que se ligue ao mar mostra isso mesmo, a grande necessidade de protegermos aquilo que é nosso, para não termos um mar cheio de plástico e sem peixe. Eu acho que é um incentivo para que tenhamos cuidado", sustentou.
Com o sonho realizado, está de olhos postos noutros horizontes: "Quero correr uma São Silvestre ou uma maratona. No mar, este era o meu último grande sonho. Agora, é hora de inspirar e apoiar outros a conquistar os seus".
Localizadas a barlavento, no norte de Cabo Verde, São Vicente e Santa Luzia são duas ilhas separadas por um canal estreito, conhecido por águas agitadas e correntes fortes.
Santa Luzia é a única ilha desabitada entre as 10 ilhas do arquipélago e é considerada uma reserva natural, juntamente com os ilhéus Raso e Branco, com espécies endémicas de flora e fauna.
São Vicente é uma das ilhas mais populosas e dinâmicas do arquipélago, sendo o Mindelo o centro cultural e portuário do país.
A Semana com Lusa
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