A Associação da Língua Materna Cabo-verdiana (Alma-Cv) acolheu com satisfação a declaração do Presidente da República, que disse esperar pela oficialização da língua crioula durante as comemorações dos 50 anos de independência, em 2025.
“A Alma-Cv encara com muita satisfação” a declaração, disse hoje à Lusa, Karina Moreira, vice-presidente da associação, considerando que contribui para o trabalho contínuo de sensibilização de todos os atores políticos, uma vez que será necessário rever a Constituição.
“Antes de essa revisão acontecer, é preciso que os atores políticos estejam conscientes”, porque “muita gente ainda não acha necessária a oficialização”, disse Karina Moreira.
A Alma-Cv tem promovido reuniões, respondido a perguntas, seja “numa perspetiva mais científica”, seja noutros ângulos de abordagem, para mostrar “a importância da questão para o país”.
Karina Moreira não quer que haja dúvidas sobre o assunto quando surgir a oportunidade de a classe política poder atuar, a nível legislativo: “por isso é que nós estamos a trabalhar nessa sensibilização”.
“Ficamos satisfeitos em saber que o Presidente da República continua sensível à causa e disponível para apoiar, esperando que se caminhe no sentido da oficialização, o mais cedo possível”, disse.
“Aproveito para reforçar esse mesmo apelo do Presidente, no sentido de os atores políticos colocarem o assunto na agenda”, porque, até agora, tudo tem sido “mais lento” do que o esperado.
A revisão constitucional chega a ser suscitada por outras razões, “não só pela questão da língua, mas gostaríamos que, quando avançasse, que a língua também fosse contemplada para não ter de se esperar” por uma outra oportunidade, “não se sabe quando”.
Para já, a Alma-CV está a preparar um fórum de olhos postos no Dia Internacional da Língua Materna (21 de fevereiro).
Será um encontro “à semelhança do que aconteceu no ano passado, mas com um foco nos 50 anos de Independência”, referiu Karina Moreira, à Lusa.
“O tema vai ser justamente o estatuto da língua: 50 anos depois, onde é que estamos? Vamos tentar juntar pessoas de outros países de língua crioula, como do Curaçau, da Guiné-Bissau e das Seychelles”, acrescentou.
“Queremos trazer pessoas não só do setor académico, mas também que estejam envolvidas na dinamização e valorização da língua nesses espaços, para trocarmos experiências e fazer um debate mais prático”, sobre “o que há a fazer, o que foi feito nesses espaços, analisar erros, ganhos” e como avançar.
O Presidente cabo-verdiano disse no início do mês esperar que, durante as comemorações dos 50 anos da independência do país, em 2025, se consiga oficializar a língua cabo-verdiana, a par da portuguesa, no arquipélago – reiterando uma posição que tem defendido noutras ocasiões.
“Esperamos consegui-lo nos 50 anos da independência: já não faz sentido não ter a língua cabo-verdiana plenamente oficializada, em paridade com a língua portuguesa, nossas duas línguas, indiscutivelmente, nosso património”, referiu José Maria Neves.
O crioulo cabo-verdiano é a língua materna em Cabo Verde, embora com variantes entre algumas ilhas, e nos últimos anos intensificou-se o movimento da sociedade civil a pressionar a sua elevação a língua oficial.
O artigo 9.º da Constituição da República de Cabo Verde, de 1992, define apenas o português como língua oficial, mas também prevê que o Estado deve promover "as condições para a oficialização da língua materna cabo-verdiana, em paridade com a língua portuguesa".
Um grupo de quase 200 personalidades cabo-verdianas lançou em 2022 uma petição também nesse sentido e pediu apoio do chefe de Estado, José Maria Neves, para a promoção da língua.
No mesmo ano, vários ativistas criaram a Associação da Língua Materna Cabo-verdiana para impulsionar uma "voz cada vez mais ativa" e uma "mudança" de política linguística no país.
A Semana com Lusa
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