O antigo dirigente do PAIGC Carlos Reis enaltece, num livro, o papel de Amílcar Cabral na luta pela independência de Cabo Verde, com destaque para o valor da ética na ação política e diplomática do líder africano.
“A nobreza da ação política, em Cabral, não só assume a ética como essencial como também só aceita a sua subordinação aos interesses do povo”, escreve Carlos Nunes Fernandes dos Reis na obra "Da luta pela independência de Cabo Verde às saudades do futuro", que vai ser apresentada em Lisboa, na quinta-feira.
Em declarações à agência Lusa, o autor disse que “atualmente os ventos não favorecem” a preservação da memória do fundador do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo-Verde (PAIGC), que tem uma presença central no livro.
“Hoje, a grande tendência do mundo é para apagamento de figuras, ideias e factos como os que Amílcar Cabral representa”, sublinhou o ex-ministro da Educação no Governo de transição, que foi comandante da Marinha do PAIGC.
Perfilhando o essencial dos valores humanos assumidos Cabral, assassinado em 1973, salienta, na obra, que a ética “fortalece a ligação do político e do diplomata com a condição de servidor do povo ou servidor público, emprestando autenticidade e dignidade ao conceito”.
“Pedro Pires, um dos conhecidos companheiros de Amílcar Cabral, tem defendido que o nosso principal compromisso com Cabral é de natureza ética e moral”, refere.
Para o cabo-verdiano Carlos Reis, que vai estar em Portugal algum tempo, “o mundo plural de hoje necessita de rever os seus conceitos éticos e morais se quiser ser mais justo”.
“[O mundo] necessita da visão de Cabral, porque tem tratado as diferenças de uma forma inaceitável, relegando quase sempre as minorias – e até as maiorias sem poder – à marginalidade”, acentua, no capítulo intitulado “O direito internacional, a diplomacia e a ética política como armas da luta de libertação nacional”.
Na opinião do antigo guerrilheiro do PAIGC, “combatente da liberdade da Pátria”, a compreensão da sociedade global “e a mudança para um mundo melhor requerem uma visão próxima da de Cabral: humana, e mais solidária, assente na liberdade cultural e na compreensão e aceitação da diversidade”.
Carlos Reis, contudo, admitiu à Lusa que “é difícil falar de Cabral sem ser de uma forma apaixonada”, desde logo para ele, que tinha 21 anos quando conheceu pessoalmente o secretário-geral do PAIGC em Argel, capital da Argélia, em 1968, no contexto da V Cimeira da Organização de Unidade Africana (OUA).
“O partido não deixou de procurar aliados internacionais, o que foi muito importante para a nossa luta e tinha muito a ver com a forma de pensar de Amílcar Cabral”, enfatizou.
O líder independentista, assassinado aos 48 anos em Conacri, República da Guiné, preconizava que um revolucionário deveria “viver como um eterno aprendente”, acolhendo as lições da vida e corrigindo os próprios erros, recordou Carlos Reis.
Editado pela Rosa de Porcelana, “Da luta pela independência de Cabo Verde às saudades do futuro" vai ser apresentado no Grémio Literário de Lisboa, na quinta-feira, às 18:00.
O livro evoca “factos e pessoas que contribuíram para o processo de luta pela independência”, com destaque para Amílcar Cabral, que teve “os olhos sempre postos na solidariedade com a luta" do povo português e nas outras então colónias de Portugal, de acordo com a editora. A sessão conta com intervenções do autor e dos investigadores Ângela Coutinho e Mário Matos.
A Semana com Lusa
Terms & Conditions
Report
My comments