Especialistas cabo-verdianos afirmaram hoje que a falta de transparência e de compromisso das instituições tem fragilizado a relação com os cabo-verdianos, numa reação ao estudo da Afrosondagem que revelou uma "queda de confiança".
Dionísio Pereira considerou que os "dados são preocupantes" e, simultaneamente, um sinal da necessidade de "restabelecer o diálogo entre a sociedade, os atores políticos e os governantes".
"É necessário que se faça um esforço", para "promover maior transparência", afirmou o presidente do Fórum Cabo-verdiano da Sociedade Civil, Dionísio Simões Pereira.
“Quando há esta falta e surgem acusações que ouvimos praticamente todos os meses na casa parlamentar, fica-se com dúvida em quem acreditar, acabando por apontar o dedo a todos", acrescentou.
Na terça-feira, a Afrosondagem apresentou um estudo sobre a qualidade da democracia e da governação em Cabo Verde, que evidenciou uma "queda de confiança" dos cabo-verdianos em todas as instituições, incluindo a Presidência da República, a Assembleia Nacional e uma avaliação negativa do desempenho do Governo.
Dionísio Pereira considerou que os "dados são preocupantes" e, simultaneamente, um sinal da necessidade de "restabelecer o diálogo entre a sociedade, os atores políticos e os governantes".
Destacou ainda que "a confiança e as declarações de todas as partes dos atores políticos acabam por influenciar a postura do cidadão".
"É essencial haver maior coerência entre o que se declara e o que se executa. O servidor público tem de demonstrar integridade, honestidade e coerência", defendeu.
Segundo Dionísio Pereira, caso esses princípios sejam assegurados, será possível reconquistar a confiança dos cidadãos em vários setores.
O analista político António Ludjerio Correia também criticou a falta de compromisso dos atores políticos, considerando-a uma das razões principais para a quebra de confiança.
"Há um tempo que a confiança das pessoas nas instituições está a cair, em consequência lógica, por causa da falta de compromisso. As pessoas sentem-se defraudadas e vão confiando cada vez menos", apontou.
O analista referiu que é necessário desenvolver mecanismos para recuperar a confiança dos cidadãos e que isso só se faz com o cumprimento das promessas.
"As instituições vão ter de abrir a caixinha, verificar o porquê da redução da confiança dos cidadãos, rever a sua atitude e passar a ser mais fiáveis. Neste momento, não há boa-fé, as pessoas sentem isso e reagem", sustentou.
O estudo apresentado baseou-se num inquérito realizado a 1.200 pessoas de Santiago, São Vicente, Santo Antão e Fogo, abrangendo mais de 85% da população cabo-verdiana.
A pesquisa analisou temas como a satisfação com a democracia, a perceção de corrupção, a confiança nas instituições, o desempenho do Governo e as tensões institucionais entre o Presidente da República, José Maria Neves, e o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva.
Segundo o estudo, 35% dos entrevistados consideram que a relação entre as duas principais figuras do Estado é "muito tensa", enquanto 33% descrevem-na como "normal".
António Ludjerio Correia lamentou que quando "duas instituições de topo não conseguem entender-se, é evidente que não haverá confiança"."Se a confiança não existe ao mais alto nível, como poderá existir noutras instâncias? Os resultados deste estudo não caíram do céu e a tendência é que as pessoas confiem cada vez menos nas instituições", concluiu.
O sociólogo Henrique Varela também destacou que a democracia é um "processo contínuo e em constante aperfeiçoamento" e, como tal, precisa de "atenção permanente, monitorização e inovação por parte de todos os atores políticos, em sintonia com a sociedade civil no seu todo".
Os problemas como desemprego, saúde e criminalidade foram os mais apontados pelos inquiridos, além de preocupações com a proteção infantil contra abusos sexuais.
A Semana com Lusa
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