O líder supremo do Irão, Ali Khamenei, culpou hoje os Estados Unidos e Israel pela queda do Presidente sírio Bashar al-Assad, que era aliado de Teerão e fazia parte a aliança conhecida como "eixo da resistência".
"Não há dúvida que os acontecimentos na Síria são o produto de um plano conjunto norte-americano-sionista", afirmou a mais alta autoridade política e religiosa do Irão no seu primeiro discurso após a fuga do Presidente sírio Bashar al-Assad para a Rússia.
Khamenei afirmou que Washington e Telavive são os "principais conspiradores" da deposição do chefe de Estado sírio.
"Temos provas disso. Estas evidências não deixam margem para dúvidas", denunciou no seu discurso, proferido a "milhares de pessoas" de diferentes áreas da sociedade iraniana na mesquita Imam Khomeini.
O religioso afirmou ainda que um "país vizinho da Síria teve um papel evidente" na deposição do Presidente sírio, numa aparente referência velada à Turquia, que apoia parte das milícias envolvidas na ofensiva rebelde que tomou o país.
O Irão foi um dos principais aliados de Al-Assad, a quem apoiou militar e economicamente ao longo dos anos e tinha aquilo a que chamava "conselheiros" militares em solo sírio.
O país árabe fazia parte do chamado "eixo da resistência", a aliança informal anti-Israel liderada pelo Irão e composta pelo grupo islamita palestiniano Hamas, pelo movimento xiita libanês Hezbollah, pelos Huthis do Iémen e por uma miríade de milícias no Iraque.
A Síria foi o único Estado que fez parte desta aliança e desempenhou um papel importante, porque deu ao Irão acesso direto ao Hezbollah.
"O analista desinformado, desconhecedor do verdadeiro significado da resistência, acredita que se a resistência enfraquecer, a República Islâmica do Irão também enfraquecerá", disse Khamenei.
"Digo que graças ao poder divino, e com a permissão de Deus Todo-Poderoso, o Irão é forte e poderoso e tornar-se-á ainda mais forte e poderoso", continuou a mais alta autoridade política e religiosa do Irão.
Esta aliança já tinha sofrido duros golpes desde o início da guerra de Israel em Gaza, como os assassínios do líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, ou do chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah.
Apesar disso, Khamenei insistiu que o "eixo da resistência" ressurgirá mais forte.
"Quanto mais crimes cometem, mais existe motivação [dos membros da aliança]. Quanto mais lutarem contra eles, [a resistência] espalha-se mais, e digo-vos que se Deus quiser, a resistência vai se espalhar por toda a região", garantiu.
Após a tomada da capital pela coligação liderada pelo grupo islamita Organização de Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham ou HTS, em árabe), a embaixada iraniana em Damasco foi saqueada no domingo, embora já tivesse sido desocupada.
Os rebeldes sírios declararam, em 08 de dezembro, Damasco 'livre' do Presidente Bashar al-Assad, após 12 dias de uma ofensiva armada de uma coligação liderada pelo HTS, juntamente com outras fações apoiadas pela Turquia, para derrubar o regime sírio.
Perante a ofensiva rebelde, Al-Assad, que esteve no poder 24 anos, abandonou o país e exilou-se na Rússia.
No poder há mais de meio século na Síria, o partido Baath foi, para muitos sírios, um símbolo de repressão, iniciada em 1970 com a chegada ao poder, através de um golpe de Estado, de Hafez al-Assad, pai de Bashar, que liderou o país até morrer, em 2000.
A Semana com Lusa
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