A Cruz Vermelha de Cabo Verde vai lançar uma operação para combater a dengue, focada em acabar com a epidemia e proteger 30.000 pessoas nas comunidades mais remotas, disse hoje à Lusa o presidente do organismo.
“A Cruz Vermelha pretende atuar em todo o território nacional, nomeadamente em zonas de difícil acesso”, explicou Arlindo Carvalho.
“Pretendemos mobilizar cerca de 300 voluntários para as diversas atividades”, que incluem formação, trabalhos no terreno (limpeza, saneamento) e distribuição de ‘kits’ de prevenção da doença.
Cabo Verde registou duas mortes e mais de 8.000 casos acumulados num ano (maioritariamente na Praia, capital), com a epidemia a acelerar nos últimos meses, durante a estação das chuvas, propícia à propagação dos mosquitos que espalham o vírus.
O cenário fez disparar o alarme: com o apoio da Federação Internacional da Cruz Vermelha, as estruturas locais da organização vão ter um plano de 50 milhões de escudos (452 mil euros) e contribuir para a resposta nacional acabar com a dengue até janeiro.
Os ‘kits’ de prevenção a entregar incluem sacos de lixo, luva descartáveis, ancinhos (para limpar terrenos) e sabão.
A Cruz Vermelha vai também distribuir pulverizadores para afastar mosquitos, dando formação a quem ficar responsável pelos equipamentos nas comunidades.
Mas grande parte das atividades vai incidir na formação e sensibilização, para que a população crie hábitos de higiene e limpeza, por forma a evitar a acumulação de lixo, que se torna num foco de mosquitos.
“A Cruz Vermelha tem a experiência e as ferramentas”, referiu Arlindo Carvalho.
Aquele responsável referiu que depois da covid-19, “as pessoas têm a tendência de se acomodar”, sem se consciencializar para o problema.
“É preciso ir às comunidades, em vez de se estar à espera que elas venham até nós. É necessário que as comunidades sejam implicadas nesta luta”, acrescentou.
As estatísticas oficiais dão “uma indicação” da prevalência da doença no país, mas o presidente da Cruz Vermelha teme que os números sejam mais expressivos.
“Muita gente fica em casa, não vai ao centro de saúde e recorre a métodos tradicionais, refugia-se nas crenças e acaba por criar uma situação que merece uma atenção particular”, indicou, com base em informação recolhida por ativistas da Cruz Vermelha junto das comunidades, ao justificar a necessidade de envolvimento.
A Cruz Vermelha de Cabo Verde está a colaborar com o Conselho Nacional de Proteção Civil, autoridades de saúde e outras organizações, incluindo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Além de combater a epidemia atual, a operação visa fortalecer a resiliência das comunidades para futuras emergências de saúde.
Com a época das chuvas a terminar, a dengue estará atualmente no pico em Cabo Verde, de acordo com as autoridades de saúde, com mais de 8.000 casos acumulados desde a primeira notificação, há um ano, concentrados na capital, Praia (75% dos casos), e com duas mortes registadas (uma na Praia e outra em São Filipe, Fogo).
O Governo anunciou que está a explorar a possibilidade de obter uma vacina, depois de ter declarado o estado de contingência no país, em 03 de outubro, durante dois meses, para agilizar a utilização de recursos para combate à doença.
O surto mais grave de dengue em Cabo Verde foi registado em 2009, com 21.000 casos e seis óbitos, todos na ilha de Santiago.
A dengue é uma doença curável, mas que requer atenção médica.
Febre, dor de cabeça, dores musculares e nas articulações, a par de inflamações na pele, fazem parte dos sintomas da infeção que, nos casos mais graves, pode evoluir para dengue hemorrágica e, no limite, causar a morte.
A Semana com Lusa
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