A deputada nacional e representante da Rede das Mulheres Parlamentares, Adélcia Almeida, lamentou esta segunda-feira a questão de violência verbal “muito forte” contra a mulher na política, uma barreira que impede o seu ingresso nas listas eleitorais.
“Felizmente na nossa realidade não tivemos, pelo menos que saibamos, situações de violência física, mas temos uma violência verbal muito forte contra a mulher na política, o que faz muitas vezes, que a própria família com medo dessa violência, condicione, de alguma forma, o seu membro, mulher, a não participar nas listas”, exteriorizou.
Adélcia Almeida falava na abertura da Jornada de Reflexão Política, promovida pelo Instituto Cabo-verdiano para a Igualdade e Equidade de Género (ICIEG), em parceria com a Escritório Conjunto do PNUD, UNICEF e UNFPA, no âmbito da comemoração do Dia Internacional da Democracia, assinalado a 15 de Setembro.
A jornada tem como propósito promover o diálogo e a reflexão sobre a participação política em Cabo Verde, sob a lente do género e, consequentemente, identificar os desafios e as estratégias possíveis para uma representação democrática plural, inclusiva, paritária e participativa nos espaços de tomadas de decisão.
Considerando que Cabo Verde, desde os anos 90, fez um “percurso interessante” a nível da democracia participativa, Adélcia Almeida percebe, entretanto, que homens e mulheres não têm estado nas listas eleitorais de forma equitativa, devido, sobretudo, aos “grandes desafios” ligados, por exemplo, às barreiras culturais, estereótipos de género, em que a mulher é “colocada claramente” numa posição de inferioridade relativamente a cargos públicos e de tomadas de decisão.
“A mulher é sobrecarregada, tem várias jornadas e isso dificulta a sua participação nas organizações dos partidos políticos. Temos esse percurso interessante, mas ainda há barreiras que precisam ser trabalhadas para que tenhamos mais mulheres nas listas em posições elegíveis”, ponderou, realçando a criação da lei da paridade que, conforme sublinhou, “permitiu ganhos”.
“E o grande ganho é de atingirmos o número ou a percentagem de mulheres que temos nas câmaras municipais…nas assembleias municipais já ultrapassamos os 40 por cento (%), nas câmaras municipais estamos também perto dessa cifra, e no parlamento estamos a mais de 35% de mulheres eleitas. Cabo Verde está acima da média mundial, esse é um grande ganho, mas também nos traz responsabilidades”.
Adélcia Almeida concluiu almejando ver mais mulheres na política, numa altura em que se aproxima as eleições autárquicas de 2024.
“Estamos nesse contexto de formação das listas eleitorais. Precisamos ter listas paritárias, num contexto elegível, e não só de estar na lista. Precisamos chegar ao tão sonhado 50-50. Ter 50% de mulheres eleitas e 50% de homens eleitos. É um grande desafio, porque estamos a falar de poder… e para uma mulher entrar, um homem necessariamente terá que sair”, assinalou, apontando que esta e outras questões precisam ser debatidas.
As nonas eleições municipais em cabo Verde, para escolher os autarcas dos 22 concelhos do arquipélago, estão marcadas para 01 de Dezembro próximo.
A Semana com Inforpress
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