O primeiro-ministro de Moçambique apelou esta segunda-feira para o aumento da produção de vacinas contra a cólera, alertando para a subida “sem precedentes” dos casos da doença no mundo e que já matou 38 moçambicanos desde outubro.
“Tomamos esta ocasião para encorajar e sensibilizar os parceiros de cooperação e demais intervenientes a garantirem o aumento da produção e disponibilização de vacinas contra esta doença”, afirmou Adriano Maleiane durante a abertura da primeira Conferência Sobre Transdisciplinaridade para a Eliminação da Cólera, que se realiza em Maputo.
“A nossa experiência demonstra que as campanhas de vacinação, combinadas com outras medidas sociais, têm um impacto positivo na prevenção e controlo desta epidemia”, enfatizou.
A mobilização de vacinas orais contra a cólera permitiu que fossem vacinadas cerca de 5,2 milhões de pessoas nos distritos moçambicanos mais afetados pela cólera, desde 2021 até ao presente, acrescentou.
Apesar desse avanço, prosseguiu o governante, 38 pessoas morreram no país, devido à doença, entre outubro de 2023 e julho corrente, de um total de 16 mil casos de cólera, o que corresponde a uma taxa de mortalidade de 0,2%.
Maleiane avançou que, além da vacinação, Moçambique tem centrado a atuação na vigilância em tempo real, a nível interno e nas fronteiras, incremento da capacidade de testagem laboratorial, com o estabelecimento de uma rede de laboratórios provinciais de saúde pública, e gestão diferenciada dos casos de cólera, combinando centros de tratamento hospitalares e estações de reidratação comunitárias.
A estratégia foca-se igualmente no reforço do envolvimento das comunidades, com maior intervenção de líderes comunitários e religiosos, bem como de outros atores sociais, em ações de sensibilização e educação da população, sobre as formas de prevenção da cólera.
O representante adjunto do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Yannick Brand, alertou que desde 2022, o mundo está a registar um aumento preocupante da cólera e de doenças de origem hídrica, em grande parte alimentado pelas alterações climáticas.
“Apenas na região da África Oriental e Austral, foram registados mais de 300.000 casos e 5.000 mortes em 14 países. Embora as tendências regionais da cólera mostrem sinais de estabilização, o número de casos continua sendo elevado na África Austral, o que realça a necessidade de intervenções específicas”, declarou Brand.
“A cólera está também a afetar de forma desproporcionada as crianças, pois estas apresentam elevadas taxas de infeção. Crianças também perdem oportunidades de educação, com os atrasos verificados na reabertura de escolas, devido aos surtos de cólera”, enfatizou.
O representante adjunto do Unicef assinalou que as alterações climáticas estão a acelerar os riscos de cólera e a deterioração do nível de saúde, bem-estar e sobrevivência das crianças e das comunidades vulneráveis.
“Em 2023, os grandes surtos de cólera coincidiram com condições meteorológicas extremas, como a seca prolongada afetando Etiópia, Quénia e Somália e o ciclone 'Freddy', afetando Malaui e Moçambique. O atual fenómeno El Niño está a provocar ondas de calor e secas na África Austral. A elevada insegurança alimentar associada às alterações climáticas poderá agravar a situação da cólera e desencadear a migração das populações entre países”, sublinhou Yannick Brand..
Em Moçambique, bem como em toda a África Austral, continuou, a Unicef e os parceiros estão a responder aos surtos de cólera num contexto desafiador, devido à falta ou limitado acesso a água e ao saneamento seguro, aumento da desinformação e rumores sobre a cólera e capacidades limitadas de prestação de apoio técnico e financeiro aos países afetados.
Por outro lado, o representante da Unicef alertou que as vacinas orais contra a cólera estão a esgotar-se, devido à crescente procura e à limitada disponibilidade.
A Semana com Lusa
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