O Comitê Escolar de Brockton, nos EUA, pediu a intervenção de militares estaduais face ao aumento da violência no liceu local, em que mais de 40 por cento (%) dos estudantes são cabo-verdiano ou descendentes.
Esta informação foi confirmada à Inforpress por uma fonte do corpo docente do Brockton High School (Liceu de Brockton) também ele cabo-verdiano, que pediu para não ser identificado.
«O mais preocupante é que, explicou, cada vez há mais jovens a abandonar os estudos em Cabo Verde, jovens a ir para os Estados Unidos para entregar no High School (liceu), alguns não conseguem integrar-se e abandonam a instituição e vão trabalhar, e outros entram em grupos de gangues.»
Segundo a mesma fonte, a Brockton High School é a maior escola pública do Estado de Massachusetts, com uma população estudantil de cerca de 4.300 estudantes e cerca de 300 professores, e está na 31.ª posição a nível dos Estados Unidos da América (EUA).
Conforme o docente, esta instituição, que há dez anos foi referência naquele Estado, tem vivido incidentes relacionados com a violência e suscitado preocupações a nível de segurança e de abuso de substâncias tóxicas, e os professores “já chegaram ao seu limite”.
“A questão de fundo é que sempre Brockton teve muitos problemas sociais, principalmente sofre o fenómeno de gangues que começam na escola ou então os grupos de gangues recrutam estudantes com a venda de drogas”, precisou a mesma fonte.
A situação, continuou, “ficou grave este ano” na sequência da redução do número de professores, porque Brockton teve um déficit no orçamento no ano passado de 18 milhões de dólares e viu-se obrigado a cortar muitos professores.
Além do corte de professores, ajuntou, cerca de 30 docentes faltam diariamente às aulas e deixam os alunos desocupados porque a instituição não consegue contratar substitutos para ocupá-los nesse tempo lectivo, por causa do corte nas verbas.
“A instituição começou o ano lectivo sem director e houve alguns professores que preferiram ir para outro lugar por causa dessa situação. A nossa comunidade está a ser fortemente penalizada porque nessa cidade a comunidade maior é a cabo-verdiana e há muitos jovens cabo-verdianos nesta situação”, adiantou a mesma fonte, realçando que os traficantes de droga tentam recrutar as pessoas dentro da escola, porque o mercado é grande.
“Um viciado ao sair da escola continua a consumir, mas nos Estados Unidos é complicado porque não se pode deixar nenhum aluno para trás. Os professores não podem fazer muita coisa, não podem expulsar os alunos porque, recentemente, criaram uma lei que diz mais vale um aluno na sala de aula do que na rua, porque se ele não for à escola poderá estar a fazer algo de errado”, alegou.
Para o docente, os professores “estão no limite” porque a situação é “extremamente crítica” em Brockton.
O mais preocupante é que, explicou, cada vez há mais jovens a abandonar os estudos em Cabo Verde, jovens a ir para os Estados Unidos para entregar no High School (liceu), alguns não conseguem integrar-se e abandonam a instituição e vão trabalhar, e outros entram em grupos de gangues.
“Alguns emigrantes que vão a Cabo Verde têm filhos fora do casamento ou da união estável e quando os filhos crescem mandam buscá-los e a mãe fica em Cabo Verde. Mas, geralmente, a outra família nos EUA, principalmente, a mulher não aceita o enteado. Há outras situações em que os pais que não têm elo de afectividade com os filhos e quando desembarcam nos EUA a primeira coisa que o pai lhes diz é para se desenrascarem”, clarificou.
O mesmo considerou que estas situações de emigração de jovens cabo-verdianos sem preparação devem ser debatidas e repensadas porque ao serem “preparados e bem integrados” contribuem para diminuir o número de deportações.
De acordo com informações publicadas nos jornais de Massachusetts, quatro membros do Comitê Escolar de Brockton endereçaram uma carta ao presidente de câmara Robert Sullivan a relatar que a escalada de turbulência nessa escola “atingiu um ponto crítico” quando 35 professores se ausentaram recentemente, “ressaltando a gravidade dos desafios” que têm “enfrentando”.
Os alunos são frequentemente vistos vagando pelos corredores, envolvendo-se em brigas e atrapalhando a aula, com casos do comportamento tornando-se “alarmantemente frequentes”, escreveram os membros do comitê, que acrescentaram que mais alunos estão a sair da escola sem autorização e o número de incidentes e de invasão à instituição também tem aumentado.
A Semana com Inforpress
21 de fevereiro 2024
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