O estudioso de Língua Cabo-verdiana Marciano Moreira considerou hoje, na cidade da Praia, que 50% das palavras em crioulo são faladas da mesma maneira em todas as variantes, e propõe um estudo “exaustivo” para padronização do crioulo.
Marciano Moreira falava à imprensa à margem do Webinar -Valor Patrimonial do Crioulo Cabo-verdiano, promovido pelo Instituto do Património Cultural (IPC) para celebrar o Dia Internacional da Língua Materna, assinalado anualmente a 21 de Fevereiro.
Para este ano, o lema versa sobre "Educação Multilingue - um pilar da aprendizagem intergeracional" e o linguista foi convidado a palestrar sobre o "Valor Patrimonial da Língua Materna em Cabo Verde e na Diáspora".
"No meu ponto de vista o caminho apropriado que se conjuga com o nosso sistema democrático, onde cada pessoa tem o mesmo valor e um voto, é aquele que parte da representatividade de cada realização lexical ou sintática e verifica a sua abrangência. Isso pressupõe estudar e realizar um levantamento exaustivo de todas as variantes, identificando primeiro as realizações que são comuns, ou seja, palavras faladas da mesma maneira, e o nosso fundo lexical atinge 50%, significando que metade das palavras em Cabo Verde é falada da mesma maneira”, enfatizou.
Posto isto, acrescentou, há que analisar as diferenças e determinar as outras realizações que podem não ter a maioria dos usuários, mas pode ser tomado como exemplo as duas realizações que têm mais usuários.
Por outro lado, debruçando sobre o valor patrimonial da língua crioula na diáspora, Marciano Moreira sublinhou que a diáspora cabo-verdiana só o é se apresentar as características de Cabo Verde que tem como um dos elementos a língua materna.
"Se a diáspora perder nossa língua, perderá um dos elementos principais. Para evitar essa perda, é importante que toda a diáspora, com o apoio do próprio Estado, tenha a consciência de que a língua cabo-verdiana é o principal elemento que nos une, que carrega nossa cultura e nos permite vivenciá-la", frisou o especialista.
Por seu turno, a directora do Património Imaterial, Carla Semedo, explicou que o lema 'Educação Multilingue - um pilar da aprendizagem intergeracional', escolhido para celebrar o Dia Internacional da Língua Materna este ano, consiste em perceber como, em todas as faixas etárias, a apropriação da língua está a ser vivenciada.
Afiançou ser necessário compreender as variações e alternativas quando se pensa nas variantes de línguas e como as pessoas criam alternativas além do oficial, tendo vincando que na diáspora percebe-se que há toda uma apropriação dependendo de cada realidade e que o crioulo está presente na Europa, América e África.
Quanto às variantes do crioulo, referiu que não é um impedimento para a oficialização da língua, mas há que ser gerido e trabalhar para que realmente possa ser criado uma uniformidade apesar das variações.
Ainda relativamente aos trabalhos desenvolvidos para a oficialização do crioulo, foram realizadas várias experiências piloto nas escolas primárias para o ensino do crioulo. Segundo Carla Semedo, o caminho é promissor para a implementação do crioulo em várias outras escolas.
A Semana com Inforpress
21 de fevereiro 2024
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