Os grupos oficiais do Carnaval de São Vicente apresentaram, na noite de terça-feira, desfiles marcados pela exuberância e sumptuosidade no desenvolvimento do enredo, nas indumentárias coloridas e com andores bem concebidos embora houvesse outros com imperfeições no acabamento.
Na noite de exibições, a competição para os prémios do Carnaval 2024, organizada pela Liga Independente dos Grupos Oficiais do Carnaval – São Vicente (LIGOC-SV), principiou com Estrela do Mar discorrendo sobre o enredo “EDM Je t´aime.”
O grupo entrou às 19: 00 com os “Guardiões do amor”, na comissão de frente, a pedir a Mindelo que se vestisse de gala para o receber e celebrar os 50 anos da união mais que perfeita entre o Estrela do Mar e o Carnaval.
Após iniciar, o grupo teve uma demora na evolução concentrando-se muito tempo na zona de arranque ainda com a sua comissão de frente.
Mesmo assim animação e luxo nas fantasias esteve presente desde o 1º sector no qual se destacou o primeiro casal de mestre sala e porta bandeira simbolizando as personagens mitológicas, Eros e Psiqué, acompanhados por oito Guardiões da Bandeira.
Seguiu-se o carro abre-alas “Mindel ma EDM ta dá da li ta dá do lá”, que representou um emaranhado de corações mostrando “a grandiosidade” do amor entre o Carnaval do Mindelo e a Estrela do Mar que celebra as suas bodas de ouro. Esta alegoria apresentou algumas falhas no acabamento além da falta de adorno nalgumas figuras de destaque.
O segundo casal mestre sala e porta-bandeira, representaram os lendários Romeu e Julieta, mas também estiveram presentes a ala de “Cleópatra e Marco António” e o “Pinha ma Cantai”, último casal convidado vindo directamente da tradição oral cabo-verdiana.
O Estrela do Mar apresentou ainda mais dois andores “o polvo marinho que guarda a estrela de todo o amor” e “O achamento da Atlântida” estes dois últimos com melhor apresentação estética.
No final do desfile, o presidente do grupo, Júlio do Rosário, disse que se sentiu realizado com o desfile apesar de, na última semana que antecedeu ao concurso, terem tido “muitos problemas e dificuldades no estaleiro”. “Sinto-me satisfeito, com objectivo cumprido porque é uma Estrela que veio para ficar, com rigor e transparência, para promover a cultura e o turismo de São Vicente e Cabo Verde”, lançou.
Seguiu-se o grupo Flores do Mindelo que entrou às 20:00 a desvendar o enredo “Baralho, os jogos são só do baralho?”. Logo no início o grupo teve um problema no gerador que impossibilitou a projecção do som para que pudesse ser ouvido na extensão da avenida.
Esta entrave não desanimou os integrantes do Flores do Mindelo que cantaram a plenos pulmões para superar o percalço, que logo foi resolvido possibilitando ao grupo a apresentar um desfile completamente diferente dos anos anteriores, mais animado, mais ousado e com uma “boa vibe”.
Fiel ao enredo, a comissão de frente simbolizou “A magia com o baralho, o coringa e apresentava truques com as cartas” enquanto que o primeiro carro, o abre-alas, apresentou brincadeiras com o baralho remetendo ao gozo e à diversão, proporcionados pelos jogos. O primeiro casal mestre sala e porta bandeira também se remeteu ao baralho, à etnia cigana e a outros jogos.
"O baralho" esteve novamente no primeiro carro alegórico bastante colorido que foi sucedido por alas, todas elas representando os naipes, além de outras que faziam referência a jogos ciganos.
Já o segundo carro alegórico remeteu-se ao horóscopo cigano com todos os signos a que se seguiu a ala do jogo do dado, a ala do jogo xadrez em homenagem à Celly Freitas, do grupo Vindos Oriente, falecida no ano passado jogo chinês "shingin” e as musas de snooker e de futebol. E, finalmente, o terceiro andor trouxe uma homenagem ao falecido Djim Bombeiro que também era árbitro de futebol.
Segundo a presidente do grupo, Ana Ramos, foi preciso muito esforço para levar “Flores do Mindelo” às ruas porque tiveram muitas dificuldades. Mas este ano apresentaram-se “com mais força e com mais folia para competir com qualquer grupo”, lembrando que “a vida é um jogo pelo que o enredo toca a qualquer um”.
Monte Sossego foi o terceiro grupo a entrar na Rua de Lisboa. Às 21:30 a actual campeã do Carnaval de São Vicente chegou com o enredo “Genética.CV- Ma casta de raça ê esse” e com sede de revalidar o título.
Montsu, como é carinhosamente chamado, trouxe um ambiente vigoroso para a Rua de Lisboa que já estava em êxtase. A bateria composta por 160 ritmistas, “denominados cabralistas”, empolgou com inúmeras paradinhas, ritmadas por palmas e apupos do público.
Com fantasias e alegorias bem-feitas e coloridas e com uma comissão de frente denominada “Da Sumbia a uma Nação; uma Genética de resiliência e revolucionários”, Montsu lembrou a Luta de Libertação Nacional, liderado por Amílcar Cabral. Foi uma exibição que uniu técnica e emoção.
A miscigenação foi o prato forte do primeiro casal de mestre sala e porta bandeira que seguiam sob escolta pelos Guardas do Casal que representava o “Encontro de civilizações distintas”.
Ainda no primeiro sector, o grupo desmistificou a origem do povo cabo-verdiano, lembrando a sua ancestralidade na “mãe África” com as baianas e musas e através do primeiro carro alegórico “Porões da nossa história. Ancestralidade e miscigenação”.
No segundo sector teve os “pioneiros e das flores de revolução” e também da rainha de bateria, que esteve graciosa e com “samba no pé” ao representar a chama da independência nacional.
O desfile teve boa harmonia, cor e brilho e entusiasmo até ao final do enredo que se concretizou com a segunda alegoria, denominada “construção de um novo homem a partir da luta de libertação”, pelo sector que mostrou a afirmação da identidade cabo-verdiana presente na música, no mar, na morabeza, no turismo e na diáspora que é a 11ª ilha e ainda no terceiro que retratava “construção da nação cabo-verdiana”.
Para o presidente do Monte Sossego, António Duarte, o objectivo para o Carnaval 2024 foi plenamente atingido, embora reconheceu que a fase de preparação do Carnaval “foi muito duro e extremamente desgastante” por causa do tempo curto que tiveram para preparar.
“Conseguimos atingir o nosso objectivo de fazer um grande desfile e esperamos pela decisão soberana”, afirmou.
Cruzeiros do Norte, que celebra os 40 anos de desfiles, foi o último a apresentar-se. Mas o enredo “A dona Matemática governa tudo e rebola no Carnaval”, ficou marcado nas “sete ruas de morada”.
O grupo de Cruz João Évora fez um desfile técnico e correcto, com carros alegóricos bonitos e fantasias fáceis de interpretar, algumas com dose de humor para desmistificar a matemática. E sobretudo mostrou-se disposta a “roubar” o título de campeã do Carnaval.
De ponta a ponta, foi um desfile em que a beleza da matemática, que é a própria linguagem do universo, esteve presente através dos trajes coloridos e criativos e os foliões souberam defender o brilhantismo do grupo. O apuro estético no conjunto de fantasias e alegorias foi outro ponto de destaque.
No primeiro sector, o grupo desvendou a origem do pensamento nos conceitos da numerologia, com a comissão de frente um tripé, o casal de mestre sala e porta-bandeira e com o carro abre-alas representando as composições
O segundo sector, com um carro alegórico, versou sobre o impacto da matemática na vida das pessoas, retratando a forma como se encara e se lida com esse “monstro de sete cabeças”.
O terceiro sector e a sua alegoria retrataram o “paradoxo entre a libertação que o saber dá e o facto da humanidade estar nas mãos da inteligência artificial” e por fim o grupo comemorou os 40 anos do seu primeiro desfile com um bolo gigante que repartiu para os foliões e para o público.
No final do desfile, o presidente do grupo Jailson Juff disse que foi uma grande emoção conseguir colocar o desfile nas ruas porque passaram por muitas dificuldades.
“Fizemos muitos sacrifícios, mas com a nossa matemática, fizemos muitas as contas, demos volta por cima e colocamos o desfile nas ruas. O objectivo era isso e graças a Deus conseguimos fazer um desfile para ser candidato à vitória do Carnaval em São Vicente”, prognosticou.
Hoje, quarta-feira, à tarde, haverá o apuramento dos prémios do Carnaval de São Vicente.
A Semana com Inforpress
14 de fevereiro 2024
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