Ativistas moçambicanas estão preocupadas com supostos sequestros e assassínios de mulheres na capital, associados, principalmente, ao transporte por táxis chamados por aplicativos e que relacionam com tráfico de órgãos, casos que a polícia diz desconhecer.
"Estes casos [de desaparecimento de mulheres] não são recentes, mas têm, infelizmente, a mesma resposta que os outros anos, o silêncio (...), por parte de quem devia zelar pela nossa segurança", disse à Lusa a ativista social Leonor Mabunga.
Em causa estão relatos recentes, nas redes sociais, de supostos desaparecimentos, que maioritariamente culminam com mortes e tentativas de sequestros de mulheres, que acontecem após estas requisitarem os serviços de transporte por aplicativos nas ruas de Maputo.
Segundo a ativista, que também faz parte do Observatório das Mulheres, uma organização para promoção da igualdade de género e dos direitos femininos, entre 15 a 20 mulheres desapareceram "misteriosamente" só em 2024, algumas das quais foram posteriormente encontradas com os órgãos extraídos.
"Tivemos casos de sequestros de meninas que reapareciam em bairros distantes do seu convívio normal e com os órgãos extraídos (...), o que está acontecer este ano é que estão a mudar o modo de operar, agora já não as encontram nas festas ou depois da faculdade, encontra-nas pelos aplicativos", referiu.
Leonor Mabunga criticou, entre outros, a falta de garantias de segurança por parte das empresas gestoras dos táxis para as mulheres que usam estes meios e o aparente "desinteresse" das autoridades moçambicanas sobre os crimes.
Por outro lado, o porta-voz da Polícia da República de Moçambique em Maputo, Leonel Muchina, disse à Lusa que ainda não existem registos oficiais destes crimes, associados aos meios de transportes por aplicativo e, levantou a hipótese de se tratar de desinformação ou até mesmo casos que, eventualmente, tenham acontecido, mas que não foram participados à polícia.
"Para nós não há registos oficiais destes cenários (...), o que pode estar a acontecer é que estes casos são informados nas redes sociais, mas não têm participação oficial às subunidades policiais", afirmou Muchina.
Para Denise Ivone, outra ativista social, a falta de transparência e intervenção em casos de irregularidades nos táxis faz com que as pessoas tenham receio em denunciar e evitem os transportes, principalmente à noite.
"A população, principalmente feminina, já está retraída em relação à sua vida normal. Já tem que evitar convívios e até ir à igreja, sob o risco de não voltar para casa. Não é uma situação normal", afirmou a ativista moçambicana.
Segundo Denise Ivone, pelo menos 20 mulheres reportaram tentativas de sequestros envolvendo táxis por aplicativo nas últimas semanas, mas nenhum caso foi notificado às autoridades policiais.
"Estas mulheres não dão o passo seguinte [denunciar à polícia]. Primeiro porque ainda não consideram que aquilo que passaram foi importante, porque não foram sequestradas, então não veem a tentativa como um perigo. Segundo porque não sabem como denunciar e terceiro porque não têm dados da viatura e do motorista", avançou ainda.
A Semana com Lusa
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