O munícipe salense Júlio Rendall destacou hoje que Cabo Verde viu uma “grande evolução” em vários sectores com a instauração do regime pluripartidário, mas recomendou que a democracia precisa de aperfeiçoamento, “fugir um pouco da retórica” dos partidos.
Em declarações hoje à Inforpress, por ocasião do Dia da Liberdade e da Democracia, 13 de Janeiro, Julio Rendall sublinhou que as pessoas limitam-se a viver o seu dia-a-dia e não discutem as coisas com profundidade e aqueles que de facto têm uma opinião contrária ao poder instituído são “taxados e catalogados” conforme as circunstâncias.
“Eu acho que necessitamos mais que a democracia seja assumida por toda a população. Por exemplo, aqui no Sal, a massa crítica praticamente não existe, a sociedade civil é amorfa e não participa nos assuntos do município”, sublinhou.
“Nessas últimas eleições autárquicas, o Sal teve quase 60% de abstenção, o que é muito grave para uma sociedade que se diz democrática, porque a democracia dá-nos oportunidade de participar e de escolher os que achamos que sejam melhores, mas quando temos apenas 40% de população a participar, chegamos à conclusão que 60% estão descontentes”, continuou.
Conforme Júlio Rendall, mesmo no dia-a-dia, nas assembleias municipais, são pouco participativas e os programas políticos apresentados, seja pelos partidos, seja pela câmara municipal ou pelo próprio Governo, não são explorados.
“Temos uma democracia muito fraca ainda em Cabo Verde que precisa de evolução, de qualificação e que haja uma distensão na sociedade para que as questões sejam discutidas com a melhor intenção e mais seriedade”, acrescentou.
Júlio Rendall, para quem falta apostar na educação para que as pessoas não se limitem a seguir o que “está na moda”, a população é “pouco dada a debates”, e crítica que a ausência, na ilha, de espaço para debates, onde as pessoas não sejam “conotadas” como partido A ou B.
O munícipe referiu igualmente sobre a perda do capital humano do país, que segundo a mesma fonte, está na sua população, principalmente os mais jovens, que têm encontrado como melhor saída a emigração.
“Os jovens são a maior força que nós temos neste momento e estamos com alguma preocupação, porque a melhor saída tem sido emigrar sem perspectivas, em vez de encararmos os problemas do país de frente”, lamentou.
“Eu vivi o período colonial, o advento da independência, participei activamente e sei o que era o Sal na altura e o que era Cabo Verde no período colonial e todas as suas mazelas, por isso é preciso conhecer o nosso passado, para valorizar todos os ganhos que nós tivemos até aqui”, afirmou Júlio Rendall.
Para concluir, exortou aos jovens a acreditarem no seu país e a reivindicarem, porque só assim é possível avançar.
A Semana com Inforpress
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