O economista cabo-verdiano António Baptista disse hoje que a epidemia de dengue está a afetar financeiramente, sobretudo, as famílias vulneráveis e que trabalham no setor informal, sugerindo que o Estado crie mecanismos para apoiá-las.
"Grande parte das famílias carenciadas" trabalha no setor informal, sem acesso a apoios do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), pelo que "terá o grande desafio de se sustentar" sem o rendimento habitual, no final do mês, e com despesas acrescidas em medicamentos, referiu, em declarações à Lusa, numa altura em que o país acumulou mais de 8.000 casos, num ano, com duas mortes.
"O Estado terá de criar mecanismos para ajudar essas famílias", principalmente "as pessoas que vivem sozinhas, tendo em conta a debilidade provocada pela doença", disse.
Em vários casos, a dengue obriga a vários dias de repouso, às vezes mais que uma semana, dependendo da capacidade física de cada doente, o que os impede de trabalhar, refletindo-se igualmente em prejuízos para algumas empresas que deles dependem.
"São pessoas que trabalham por conta própria e geralmente não descontam para o INPS. Por este motivo, ficam sem rendimento durante o período em que estão doentes", sustentou.
O economista lembrou que muitas destas famílias estão a sofrer privações desde a pandemia da covid-19, de cujas dificuldades financeiras ainda não recuperaram totalmente, ficando "ainda mais fragilizadas" com a dengue.
"Se continuarmos com essa epidemia por muito mais tempo, obviamente, vai aumentar a vulnerabilidade", referiu.
Além da perda de rendimento, os doentes com dengue gastam "os poucos recursos" que restam a comprar medicamentos como vitamina C ou paracetamol, receitas habituais indicadas pelos serviços de saúde - a par do repouso.
"Há todo um gasto com remédios, além da alimentação necessária para repor proteínas e poder combater a enfermidade, gastos que não estavam nos cálculos orçamentais e que, por vezes, deixam muitas famílias em situações piores", disse.
António Batista considerou que, apesar de o Governo estar a combater a doença, demorou a assumi-la como um "problema grave".
"Não deveríamos ter permitido que se chegasse a este ponto. Embora haja esforços, temos de reconhecer que a conscientização foi tardia. Cabo Verde já tinha passado por uma epidemia muito forte e nós sabemos que isso tem um custo enorme para o país", afirmou.
O Governo cabo-verdiano anunciou que está a explorar a possibilidade de obter uma vacina contra a dengue, depois de ter declarado o estado de contingência no país, em 03 de outubro, durante dois meses, para agilizar a utilização de recursos para combate à doença.
O economista considerou que a medida teria "um impacto muito grande, principalmente nas famílias mais vulneráveis", conferindo-lhes maior resiliência.
Com a época das chuvas a terminar, a dengue estará atualmente no pico em Cabo Verde, de acordo com as autoridades de saúde, com mais de 8.000 casos acumulados desde a primeira notificação, há um ano, concentrados na capital, Praia (75% dos casos), e com duas mortes registadas (uma na Praia e outra em São Filipe, Fogo).
O surto mais grave de dengue em Cabo Verde foi registado em 2009, com 21.000 casos e seis óbitos, todos na ilha de Santiago.
A dengue é uma doença curável, mas que requer atenção médica.
Febre, dor de cabeça, dores musculares e nas articulações, a par de inflamações na pele, fazem parte dos sintomas da infeção que, nos casos mais graves, pode evoluir para dengue hemorrágica e, no limite, causar a morte.
A Semana com Lusa
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