O jornalista e investigador João Almeida Medina e a historiadora Marina Ramos alertaram para a urgente valorização do legado do herói nacional Amílcar Cabral, um "líder visionário" e “imprescindível” para a construção do futuro do País.
As declarações foram feitas à Inforpress a propósito do centenário de nascimento de Amílcar Cabral, comemorado hoje, 12 de Setembro,
O jornalista/investigador começou por lembrar que as primeiras ideias de Cabral sobre a independência de Cabo Verde e Guiné-Bissau não se baseavam na luta armada, mas sim na resolução pacífica.
“A via de negociação e a que ele propunha como um processo de emancipação, e esse é um conceito fundamental de Cabral, ou seja, o direito dos povos a assumirem o seu destino e a construírem a sua cultura identitária a partir daquilo que são as suas ligações de pertença”, justificou.
No caso, um líder que decidiu ver África a partir de África, mas não exclusivamente do continente africano, e sim com um “olhar mais lato” de negociação e interação com o mundo.
O que mostra, considerou João Almeida Medina, que ele era “um nacionalista, mas que não queria a ruptura com o mundo, muito pelo contrário um “cidadão global” que aprendeu a ver a nação mundial, a partir da sua profissão com agrónomo.
“Cabral acreditava que o povo, os cidadãos dos vários países, os cidadãos do mundo, não podiam viver numa concha. Ele não pensava só no seu país, ou vivia somente em relação ao seu país, porque o seu país estava inserido no mundo, numa determinada época, num determinado momento”, concordou a historiadora Marina Ramos.
Os dois especialistas são também unânimes em afirmar que a cultura sempre foi vista pelo líder africano como uma das melhores armas para e emancipação dos povos e também motor de desenvolvimento
“Temos que ler Cabral como esse homem histórico, esse homem de pensamento estratégico, que pensa a cultura, que teoriza a educação, mas que liga a teoria à acção”, recomendou João Almeida Medina.
É preciso, segundo a mesma fonte, parar de ver para Amílcar Cabral como “um opositor imaginário” e conseguir ver a sua dimensão de um sujeito que “transformou o sonho em realidade”, ou seja, trabalhou para ter ”os seus dois povos livres e pensando pelas próprias cabeças”.
Por estas razões, os dois estudiosos não entendem o porquê de não ter sido organizado um programa de comemoração oficial para o centenário do seu nascimento.
Mesmo quando é estudado por grandes universidades nos Estados Unidos, na América Latina, na Europa e considerado um dos 20 líderes mundiais mais influentes do século XX.
“Este é um reflexo da importância que damos à figura de Cabral ao longo dos anos”, criticou Marina Ramos.
João Almeida Medina vai mais longe e acredita que esta ausência de um programa oficial mostra que ainda os cabo-verdianos e as autoridades "não assimilaram Cabral como o homem histórico e não conseguem lidar com as mazelas do passado”
“Compreendendo a nossa história de forma mais clara, talvez possamos perceber que país temos, quem somos nós e de que forma podemos negociar com o mundo”.
Directrizes, que, no entender de ambos, estão "completamente claras" nos ideais do herói nacional e que podiam servir de referências para se “criar uma geração de cidadãos conscientes e capazes de construir um Cabo Verde melhor, no futuro”.
Amílcar Cabral nasceu em Bafatá, Guiné-Bissau, a 12 de Setembro de 1924, filho do professor Juvenal Lopes Cabral (cabo-verdiano de ascendência guineense), e de Iva Pinhel Évora (nascida na ilha de Santiago, Cabo Verde).
Aos oito anos a família mudou-se para Santa Catarina, Santiago, onde fez o ensino primário.
Os estudos liceais seriam feitos no Liceu Gil Eanes, no Mindelo, São Vicente, onde passou a viver com a mãe e os irmãos, até 1943.
Em 1944, mudou-se para a cidade de Praia (Santiago), onde começou a trabalhar na Imprensa Nacional.
Em 1945, consegue uma bolsa de estudos e ingressa no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, onde juntamente com outros estudantes africanos começou a encetar a libertação de Guiné-Bissau e Cabo Verde do jugo português, que teve como palco de luta armada a Guiné-Conacri.
A Semana com Inforpress
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