A escritora Vera Duarte destacou hoje a figura de Amílcar Cabral como um "pensador e um visionário" que pensou coisas para além do seu tempo.
"É um líder, ao reunir todos os combatentes da pátria, tanto de Cabo Verde como da Guiné-Bissau para a luta pela independência desses dois países", disse, Vera Duarte, em entrevista à Inforpress, no âmbito do centenário de Cabral que se assinala hoje, 12 de Setembro.
Considerou que para ele a luta de libertação "não era apenas" conquistar a independência, mas sim conquistar a independência e tirar o povo do sofrimento e ajudá-los a se tornarem cada vez mais cultos, ou seja, a emancipação dos povos era uma das prioridades dele.
Acrescentou que no quesito cultura Amílcar Cabral trabalhou "muito bem" sobretudo a questão da identidade dos homens e mulheres de Cabo Verde e Guiné-Bissau, por considerar que a participação das mulheres na luta poderia ser importante e disse entender que a luta pela libertação, liderada por Cabral é, em si, um acto de cultura.
"Ele lutou para combater a submissão e a alienação dos povos coloniais. Esta é a maior dimensão ética da batalha dele, pois mostrou a sua luta, apesar de estarmos sob domínios coloniais", frisou.
Lembrou que Amílcar Cabral, enquanto homem da Cultura, foi fundador e colaborador da criação da Academia dos escritores e das actividades culturais quando estudava no liceu em São Vicente. Aos 15 anos publicou o seu primeiro caderno de poesia “nos intervalos da arte da minerva e quando cupido acerta no alvo".
"Ao longo dos tempos ele publicou vários pequenos cadernos de poesia, mas acredita-se que ainda há alguns que não foram publicados”, sublinhou.
A escritora lembrou, igualmente, o discurso que ele fez no dia 08 de Março de 1969, nas zonas libertadas sobre a emancipação da mulher, pelo direito à vida, ao trabalho, à dignidade e a ser considerado companheiro na luta.
"Ele é um testemunho que influenciou e inspirou o pensamento de várias pessoas no mundo para a tomada de posições com os seus discursos. Actualmente muitas universidades do mundo estudam o pensamento dele", disse.
Por outro lado, destacou também que a língua portuguesa que, segundo Cabral, “é uma das ‘melhores coisas’ que os portugueses deixaram”, referindo que a língua não é senão um instrumento para os homens se relacionarem uns com os outros, é um meio para falar, para exprimir as realidades da vida e do mundo.
A mesma fonte mencionou um conjunto de pensamentos deste combatente, como a luta pelos direitos da mulher tanto a nível da educação, quanto à participação e ser dirigente de qualquer sector.
"Devemos a Amílcar Cabral o reconhecimento eterno por nos ter tirado das colónias", concluiu.
Amílcar Cabral, filho do professor Juvenal Lopes Cabral (cabo-verdiano de ascendência guineense) e de Iva Pinhel Évora (nascida na ilha de Santiago, Cabo Verde), nasceu a 12 de Setembro de 1924, em Bafatá, na então Guiné portuguesa (hoje Guiné-Bissau) e foi assassinado a 20 de Janeiro de 1973, em Conacri, República da Guiné.
As comemorações do centenário do nascimento de Amílcar Lopes Cabral, um político, agrónomo e referenciado como um “teórico marxista”, têm sido marcadas por diversos eventos académicos, culturais, políticos, desportivos, sociais em várias partes do mundo.
A Semana com Inforpress
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