Na compreensão marxista, ideologia é uma construção ideal (formulação mental explicativa do mundo ou projeto de mundo) na qual o\a próprio\a autor\a não reconhece os condicionamentos históricos que a produziram. O\a idealizador\a não compreende tudo o que o\a levou a idealizar as ideias que explicita e defende.
Por Léo Rosa de Andrade*
Nisso, se justifica qualquer absurdo. Dado que absurdo não tem alicerce, criam-se fake news. Bolhas não solicitam provas, não recomendam sensatez. Bolhas requerem viseiras, ou seletividade no olhar os acontecimentos. Eis o nosso momento sociopolítico. Cada bolha se assegura de que a outra bolha não presta.Sugiro: bote-se a si e à sua bolha em suspeição. Critique a sua formatação ideológica. Há você e as suas idealizações. Há, contudo, outras concepções da vida. Saia da bolha, de qualquer bolha, vá estudar, vá às ruas persuadir pessoas, legitimar ideias, catar votos para as futuras eleições. Karl Marx avaliza a sugestão.
Ainda segundo Karl Marx, na totalidade das formas de consciência social está contido o sistema de ideias que legitima as relações de poder existentes, levando a que não se perceba – devido às falsificações de percepção que a ideologia provoca – o estado de desvantagem em que se está nessas relações de poder.
Conforme penso, ideologia é um sistema de ideias historicamente produzidas, as quais são assumidas e sustentadas por grupos sociais. Essas ideias explicam e fundamentam a circunstâncias. Não há, pois, possibilidade de ler e compreender o mundo e o próprio lugar no mundo senão por meio de uma ideologia.
Simplificando: de tudo o que acontece ao meu redor (conjunto de eventos que me envolvem, ideias, inclusive), vem a “matéria” com a qual é “montada” e “calibrada” a minha consciência (produzida historicamente). Com aquilo que me veio do mundo, então, eu penso o mundo, justifico-o e o reproduzo.
Tornando a Marx, outra palavra significante: crítica. Criticar é tomar consciência dos fundamentos dos fenômenos, da relação entre eles, das suas origens, dos seus efeitos; é compreender as subjacências de uma ideia ou de um evento histórico; é estudar o “por trás” dos acontecimentos do mundo e explicitá-lo.
Quem não sabe criticar a inserção da própria vida nos laços de poder que a envolvem é alienado\a. O\a alienado\a está no mundo sem conhecer e, logo, sem compreender os fatores sociais, políticos, econômicos, culturais (midiáticos, inclusive), que o\a condicionam e o\a levam a comportar-se da maneira que se comporta.
Aqui, um interrogante de possibilidade: alguém consegue fazer crítica de si mesmo\a, tendo em vista que ao criticar-se esse\a alguém usará a “matéria” de seu já constituído pensamento, o qual está “contaminado” ideologicamente? Noutras palavras: alguém consegue atuar com imparcialidade na autocrítica?
Não creio. Ninguém se vai examinar e avaliar, nem com as minúcias necessárias, nem com a neutralidade “honesta”, nem com os valores que não sejam os já internalizados. A única coisa possível, nesse aspecto, é ter consciência de que jamais teremos total consciência dos motivos que nos afetam a consciência.
Em certa medida, pois, embora a palavra nos seja desagradável de aplicá-la a nós mesmo\as, das teorias ou práticas que nos concernem, alguma alienação incide no nosso pensar ou agir. Não damos conta do todo. Em algum grau somos envolvido\as por afetos e concepções que nos embaraçam de nos sabermos por inteiro.
A esse respeito, na linguagem jurídica diz-se suspeição. Trata-se do receio motivado, suscetível de se opor a alguém que atue em um processo, de quem, pois, se deve esperar imparcialidade, mas que não pode garanti-la, em razão de conjuntura ou interesse intercorrente que o\a prive de exação no exercício de suas funções.
Quer dizer, a pessoa pode ser honesta, mas, para avaliar algo que lhe seja atinente, está sob suspeição. Ademais, como todo\as estamos tocado\as por ideologia, o\a indivíduo\a honesto\a também o estará. Enfim, o\a sujeito\a pode se ter sob crítica, mas essa crítica será feita com conteúdo subjetivado, logo, sob suspeição.
Incluo as mídias sociais e seus algoritmos na reflexão. Algoritmo: “conjunto de regras e procedimentos lógicos perfeitamente definidos que levam à solução de um problema em um número finito de etapas” (Houaiss). Traduzindo: as mídias sociais aproximam iguais, formando grupos com mentalidades próximas denominados bolhas.
O\as membro\as de uma bolha pensam que a sua bolha é o todo do mundo midiático. Só que não. O que sucede é que o\a ativista de uma bolha tem interface, com incentivo algorítmico, com partícipes da mesma bolha, generalizando a “lógica” da sua bolha; crê que fora da sua bolha vivem estranho\as, suspeito\as, inimigo\as.
Decorrem, daí, isolamentos ideológicos, resultando extremismo e paradoxos. Extremismo porque as ideias de um grupo não são ponderadas; antes, referendam-se a si próprias de forma tautológica (reverberação de um conceito). Num contexto dessa natureza, o que não coincide com a reserva mental da bolha é desqualificado.
Paradoxo porque as bases que sustentam uma posição por uma bolha não são aplicadas em posição equivalente se for do interesse de outra bolha. O discurso contra a corrupção, por exemplo, é o mesmo em qualquer bolha, contudo, se o\a corrupto\a for da “minha” bolha, ele\a será menos corrupto\a que o\a corrupto\a da bolha alheia.
Nisso, se justifica qualquer absurdo. Dado que absurdo não tem alicerce, criam-se fake news. Bolhas não solicitam provas, não recomendam sensatez. Bolhas requerem viseiras, ou seletividade no olhar os acontecimentos. Eis o nosso momento sociopolítico. Cada bolha se assegura de que a outra bolha não presta.
Sugiro: bote-se a si e à sua bolha em suspeição. Critique a sua formatação ideológica. Há você e as suas idealizações. Há, contudo, outras concepções da vida. Saia da bolha, de qualquer bolha, vá estudar, vá às ruas persuadir pessoas, legitimar ideias, catar votos para as futuras eleições. Karl Marx avaliza a sugestão.
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*Doutor em Direito pela UFSC.Psicanalista e Jornalista.
O Bolhudo Iluminado: Quando o Ego Cita Marx e Sai a Catar Votos
Ah, pronto. Acordou o oráculo da obviedade! Mais um dotor-em-tudo que subiu no palanque da verborragia academicista pra nos dar lição de moral com aquela ladainha rebuscada que mais parece um manual de instruções mal traduzido da URSS.E vamos lá desmontar essa fraude: o homem começa invocando Marx como quem chama entidade num terreiro filosófico, mistura com suspeição jurídica, joga uma****** de algoritmo de rede social e pronto — acha que desvendou o segredo do universo. Amigo, se Marx lesse isso, pedia exoneração da luta de classes!
E esse papinho furado de “bote-se em suspeição”, “autoanálise ideológica”, “ninguém é imparcial”... Ah vá lá! Jura que descobriste agora que o ser humano tem viés? Que o pensamento é condicionado? Que cada bolha acha que a outra fede? E pra isso precisaste três páginas de teses cruzadas com rodapé imaginário? Brilhante, doutor. A humanidade agradece. A classe trabalhadora então… emocionada!
Mas espera aí, porque o melhor vem no final: “vá às ruas persuadir pessoas, catar votos para as futuras eleições”. Ahhhh, então é isso! No fundo no fundo, não é ideologia, nem suspeição, nem crítica dialética — é campanha disfarçada! É um "vá catar voto" metido a Sócrates. Um porta a porta marxista gourmet. A bolha dele, veja bem, é iluminada — ele só quer que tu saias da tua pra entrar na dele.
E claro, tudo num tom de superioridade benevolente, como quem está a distribuir bênçãos intelectuais à plebe digital. Mas olha, meu caro Léo Rosa de Andrade, psicanalista, jornalista, doutor e talvez até carpinteiro de consciências alheias… tenho aqui uma sugestão sincera: fecha os olhos, respira fundo e pergunta a ti mesmo — será que escrevi essa porra porque acredito mesmo, ou só queria parecer mais esperto que a minha bolha? Spoiler: a resposta tá no espelho.
Por favor, menos tese e mais vergonha. E se for pra sair da bolha, que tal ser o primeiro a puxar a fila? Vai lá, Léo. Vai tu mesmo catar os votos — mas sem fingir que é Marx que tá mandando. Tu consegues!
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