Dezenas de agentes e polícia de intervenção impediram ativistas de se manifestarem contra as “ilegalidades no processo democrático”. Organização diz que dezenas de ativistas foram detidos.
Um forte dispositivo policial, incluindo polícia a cavalo e um helicóptero, impediu este sábado (27.05) uma manifestação que pretendia contestar, no centro de Luanda, contra alegadas "ilegalidades no processo democrático angolano", com denúncia de dez ativistas levados pelas forças de segurança.
A manifestação estava agendada para as 9 horas da manhã, no largo 1.º de Maio, prevendo uma marcha pacífica até ao palácio da Justiça. No entanto, segundo a agência Lusa, durante toda a manhã, um forte aparato policial, com dezenas de agentes e polícia de intervenção vedaram o acesso àquela praça emblemática da capital angolana. Durante a manhã, foi igualmente visto um helicóptero das forças de segurança em patrulhamento a baixa altitude, na mesma zona.
"Foram levados pela polícia dez ativistas", explicou Albano Bingo-Bingo, um dos promotores da manifestação agendada para este sábado. "Quatro, incluindo eu, foram, entretanto, libertados, mas estão a bloquear-nos na igreja da Sagrada Família e não nos deixam marchar até ao Palácio da Justiça", acrescentou. A agência Lusa não conseguiu obter uma reação da Polícia Nacional até ao momento, mas foi possível confirmar que alguns jovens foram levados pelas autoridades, quando estavam na posse de cartazes.
Esta manifestação foi convocada para um dia sensível em Angola, já que se cumprem 40 anos sobre o 27 de maio de 1977, descrito como uma tentativa de golpe de Estado por "fracionistas" do próprio Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), então já no poder do país recém-independente, contra o Presidente Agostinho Neto e "bureau político" do partido.
Segundo vários relatos, milhares terão morrido na resposta do regime angolano, nomeadamente os dirigentes Nito Alves, então ministro da Administração Interna, José Van-Dúnem, e a sua mulher, Sita Valles. A Amnistia Internacional estimou em cerca de 30 mil as vítimas mortais na repressão que se seguiu contra os "fracionistas" ou "Nitistas", como eram conhecidos então.
"Por causa da ditadura implementada no país, Angola tornou-se um Estado em que o terror vem assolando desde a independência, com a anotação preponderante desde 27 de maio de 1977, tendo-se reforçado a 21 de setembro de 1979, com a tomada de posse do ditador José Eduardo do Santos. Angola passou a ser uma nação mergulhada no sangue, perdendo muitos dos seus filhos", escreveram os promotores da manifestação, na informação sobre a mesma enviada ao Governo Provincial de Luanda.
Alegam no mesmo documento, como motivos para o protesto, ilegalidades no processo eleitoral em curso, que culminará com as eleições gerais de 23 de agosto, ou ainda os "desvios de bilhões de dólares do erário público, que hora param nas contas bancárias de amigos, simpatizantes, membros e filhos do MPLA".
A Semana com Lusa
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