O antigo presidente da Comissão Europeia Durão Barroso defendeu esta terça-feira uma “cumplicidade entre a Europa e África” para fazer face a um mundo cada vez mais dividido, numa conferência no Palácio do Governo, na Praia, Cabo Verde.
“Cada vez mais penso que é importante uma cumplicidade entre a Europa e África. É natural essa cumplicidade, por razões históricas, culturais, linguísticas e de vizinhança”, afirmou o antigo primeiro-ministro português, numa intervenção sobre a atual situação geopolítica global.
“É necessária essa cumplicidade. É aí que um país, apesar de ser mais pequeno, consegue o que é fundamental em termos de poder, que é a liberdade de atuar, a capacidade de, num contexto de imprevisibilidade, fazer valer os seus trunfos”, disse.
“Os países precisam de alianças, não podem estar sozinhos”, acrescentou Durão Barroso, enaltecendo a parceria especial de Cabo Verde com a União Europeia (UE).
Ulisses Correia e Silva, primeiro-ministro cabo-verdiano, disse que como “país pequeno” o arquipélago “não pode ser como um peão, a peça mais vulnerável de um jogo de xadrez”.
Segundo referiu, a parceria estratégica com a UE é um dos pilares da política externa, porque há “uma convergência natural”, ao nível de princípios, na economia e em relação à diáspora, grande parte dela assente no continente europeu.
Durão Barroso apontou a consistência e coerência da diplomacia cabo-verdiana como um fator de “confiança”, algo que “está em grande falta no mundo, uma energia não renovável: precisamos de países que gerem essa confiança”.
“Assiste-se hoje ao que chamo de mobilização do ressentimento. Foi criado este conceito do sul global, que não é sul, nem é global: não me parece que possamos colocar na mesma categoria países tão distintos como grandes potências económicas e aqueles que são os países mais pobres. Mas faz-se essa operação retórica para mobilizar para o norte global o ressentimento de alguns países que têm ficado para trás, nomeadamente em África”, considerou.
O antigo presidente da Comissão Europeia disse que “um mundo mais fraturado entre norte e sul” não resolve problemas, nomeadamente nos capítulos de desenvolvimento e de desigualdade: “Precisamos de uma visão de cooperação”, acrescentou, aludindo à sua atual experiência como presidente da Aliança Global para as Vacinas (GAVI).
“Temos de trabalhar, norte e sul, para responder às necessidades da humanidade”, apontou.
Em relação a África, considerou que o continente ainda não conseguiu “a sua institucionalidade com a União Africana, às vezes nem sequer pelas suas cooperações regionais. Desejava que África contasse mais”, numa alusão à representatividade internacional, referiu.
Na Europa, “com todos os seus defeitos e problemas, a União Europeia existe, há uma institucionalidade”, porque os países membros “aceitaram partilhar a sua soberania, abdicaram de parte dela”, concluiu.
A Semana com Lusa
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